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quarta-feira, 28 de março de 2012

Politicando

À DIREITA, VOLVER!

A farsa representada esta tarde em São Bento faz lembrar o parlamento regional da Madeira: eles todos brigam por um projecto que já está mais do que decidido. PSD, CDS e PS que expliquem o que será dos trabalhadores, a partir de sexta-feira.



O País exagera na obsessão pela Direita. Com tanto virar para esse lado, um dia destes os ultraliberais precipitam-se pelas Berlengas abaixo e só vão parar nas fossas abissais atlânticas. O pior é que levam tudo atrás de si.



Mais Direita, nos prelúdios folclóricos de hoje para depois legitimar na generalidade, sexta-feira, os novos atentados aos direitos dos poucos que ainda trabalham em Portugal. Os debates, que decorrem de modo a chegar a conclusões previamente traçadas, todas de uma violência brutal para os mais desfavorecidos, passam-se em S. Bento, a dois passos de uma faculdade, Económicas, onde no tempo do fascismo tanto se lutou contra a Direita retrógrada marcellista, e que volta a despontar com todo o fulgor na democracia à portuguesa.
Com tanto voltar à direita, cuidado com o precipício.

A Madeira é o caso perdido que se conhece. Rodeadas de Atlântico por todos os lados, as duas ilhas habitadas sobrevivem ao sabor das não-ideias de um ditador que desfruta desde 1978 do amplo apoio de um povo masoquista, interesseiro e manhoso que vendeu a espinha dorsal herdada dos avós a troco de uns copos de poncha e vinho seco, mais o dentinho de bolo do caco tipo arraial com espetada. Esta terrinha não chegou a sair da Direita que se impôs a Portugal em 1926. Depois dos tais 48 anos de negrume, o PREC insular foi dominado pela FLAMA dos atentados bombistas mais reaccionários do que independentistas. E daí para a frente nada melhorou - basta dizer quem arrebatou e passou a brandir a batuta deste interminável carnaval.
Alguma aragem a perpassar aqui, "do vale à montanha", só quando soprada do hemiciclo de São Bento, e isso aconteceu algumas vezes quando a Direita andou com o rabo entre as pernas. Valha-nos que as eleições no Continente ainda proporcionam certa rotatividade. Não tem sido solução, mas ao menos refresca as cabeças por umas semanas.
Eis-nos a voltar aos tempos de ante 25 de Abril, aliás retomados na era da famigerada AD em 1979, com Sá Carneiro (PSD), Freitas do Amaral (CDS) e Ribeiro Teles (PPM). Note-se que nessa época o contorcionista Freitas lutava pelo regresso do salazarismo, longe de imaginar o perigoso bloquista de esquerda em que se havia de tornar, ele próprio, com balanço no trampolim socialista. Depois, ainda houve lugar a novo período negro, o do cavaquismo de triste memória.

"Não ao aumento do horário do trabalho", dizem os cartazes que ainda não foram lançados à ribeira. 

A realidade que interessa é o dia de hoje. E que raio de incerteza para quem trabalha! Lá estão nestes dias duas centenas e meia de deputados eleitos pelo povo a fingir que discutem com gravidade e responsabilidade o futuro do código que regulará o trabalho neste país daqui para a frente. A reacção ultraliberal, com a justificação das imposições da troika estrangeira, trata da revisão laboral idealizada para aumentar o lucro dos ricos e, necessariamente, para "encostar às cordas", ainda mais, o operário e o funcionário a quem ataram as mãos.
Uma guinada histórica mais para a Direita que me faz antever uma saída de estrada do país que o leve a trambolhar pelas Berlengas abaixo e a despenhar-se nas fossas abissais atlânticas. PSD e CDS na vanguarda do atentado, mas também o PS, que se deverá abster à boa maneira de Pilatos, tal como organizações com responsabilidades junto dos trabalhadores e que deram o seu acordo a estas medidas trágicas.

Um código prenhe de 'privilégios' aos trabalhadores!

Dizem os autores da manobra que a iniciativa legislativa trará felicidade e emprego aos portugueses. Risível. Não se percebe como é que um trabalhador fica mais feliz da vida quando lhe baixam o salário ou o põem a trabalhar mais horas por menos dinheiro, e com contratos em que o vínculo laboral é um cabelo. Ou, pior, quando pura e simplesmente o despedem sem mais aquelas. Isso da justa causa é da pré-história. Curioso combate à crise e à recessão que os poderosos criaram!
Atrevem-se os financeiros de Passos Coelho a dizer, de mãos para o céu, que os cortes na forja criarão mais emprego! Devem ter aprendido com o 'rei das Angústias' da Madeira a chamar estúpidos aos que lhe dão o voto.
Conforme dizem PSD e CDS, e com os socialistas entalados entre serem acusados de inviabilizar a recuperação do país via troika e apanharem um cartão vermelho do eleitorado de esquerda - dizem eles, pois, que toda a gente ficará mais próspera quando o trabalhador cumprir um horário com mais duas horas diárias. Da mesma forma, o trabalhador dançará eufórico quando receber apenas metade do pagamento das horas extras que faz e sem direito a descanso compensatório. Que alegria quando for para o trabalho nos dias até hoje feriados! Que sublime gozar menos dias de férias - que só servem para gastar dinheiro e arranjar chatices com os sogros por causa do gato e do cão.
Depois, outra benesse: para ser posto na rua, o trabalhador não precisará de papeladas e maçadas, de todo dispensáveis. É despedido, recebe menos dinheiro do que até agora e vai para casa com menos maçada para contar o escasso dinheiro.
O trabalhador também fica dispensado de quebrar a cabeça arranjando expedientes para travar o despedimento: o patrão simplesmente extingue o posto de trabalho dele e não há mais conversas desnecessárias. E é se o homem não for acusado de inepto para o serviço.
Volta em força o lay-off que Mário Soares, durante a escalada direitista nos seus tempos de PR, conseguiu fazer deter a muito custo. Lay-off, a tal permissão dos patrões de reduzirem o tempo de trabalho ou suspenderem a produção, bastando-lhes alegarem crise empresarial.
Mas a regra será os empresários despacharem trabalhadores por inadaptação ou por inépcia. Ora, como dizia há pouco uma deputada de esquerda em São Bento, se aplicassem a nova legislação ao governo, quase todos os ministros seriam demitidos.

Estamos agradando à troika e à senhora Merkel? Parabéns, sr. primeiro-ministro e sr. finanças. Mas assim, a matar o povo à fome para pagar défices, também eu, sem ser político.



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