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sexta-feira, 25 de maio de 2012

Cultura, Culturas



A GRANDE VAIA TEM 15 ANOS





Mais do que a histórica subida de divisão a 15 de Maio de 1977, a grande festa popular do Marítimo deve ser a celebração do 25 de Maio de 1997, aquela tal tarde em que o Caldeirão ferveu a valer. Faz esta sexta-feira 15 anos. 



Reencontrámos há poucos dias uma senhora que nos conhece desde que, aos 13 anos, passámos a lidar diariamente dentro da velha sede maritimista, ao n.º 17 da Rua D. Carlos I.
"O nosso dia - disse a mulher, como sempre de garganta desempoeirada - foi no 25 de Maio, aí é que o nosso povo do Marítimo resolveu mostrar o que é força!"


1.ª página de 'A Bola', 26 de Maio de 1997.


Só podemos concordar. Foi um momento arrepiante, para jamais esquecer,  aquele em que entrámos no relvado dos Barreiros envergando a camisola verde-encarnada n.º 7, para o jogo decisivo. Um 15 de Maio de 1977 com o Estádios e os arredores apinhado de gente com as cores alegres do Glorioso, e a festa à vista.
E lá subiu o Marítimo pela primeira vez à I Divisão Nacional, com a receita de 4-0 passada ao Olhanense. Quem não se lembra?
Mas, como diz a nossa amiga da Zona Velha, que continua vendo a vida a verde-vermelho e naqueles tempos insistia em dar-nos bons conselhos, se essa tentativa de subida falhasse, outra surgiria.
Ao passo que, sem o 25 de Maio de 1997, o Marítimo já não era vivo.



O DN 'jogou' com a goleada do Marítimo ao Gil Vicente, na tarde da vaia.


Foram duas grandiosas obras dos sócios do Marítimo. De mais ninguém. No caso da subida, em 1977, eles formaram, como dizem os jornalistas desportivos, o nosso 12.º jogador. Seria impossível perdermos com aquele incansável apoio de uma época inteira. Obra dos sócios porque também eram eles quem pagava a existência do Clube. A entrada para os nacionais e os primeiros tempos de vida por lá correram às custas da massa associativa.
Quanto à segunda obra, o 25 de Maio de 1997, todos viram como a Bancada e o Peão dos Barreiros se juntaram numa palavra de ordem inesquecível, olhos nos olhos com o destinatário.


Em 1977, nos festejos da subida, não sonhávamos que, precisamente 20 anos depois, ouviríamos da boca do presidente do governo regional que estavam em curso estudos destinados a fundir os 3 principais clubes da Madeira - Marítimo, Nacional e União - para que a Região se impusesse no futebol lá fora com uma equipa forte, em lugar de andar a dispersar forças.
"Meter o Marítimo numa fusão?!", perguntámos de olhos arregalados.
Que sim. Primeiro devia estar a Madeira e, daí, os clubes ficavam em plano secundário.


Foi pedido segredo, mas...

Reconhecemos que o presidente do governo pediu para não divulgar tal notícia, alegando que o tema era melindroso, que era melhor...
Discordámos. Como esconder uma notícia com tal importância? O presidente insistia. Mas com alguma hesitação entre a informação ter sido particular ou publicável. A caminho da Redacção do DN, não sabíamos em que ficáramos, mas não custa confessar hoje que o assunto tendia mais para o lado da conversa em 'off'.
- Bolas, conversa em 'off'? - pensámos com os botões - O governo quer fechar três clubes com quase 90 anos para criar um Dínamo e a conversa é particular?! Só se abordará o assunto quando o facto estiver consumado?


JM de 26 de Maio de 1997: Jardim até reagiu bem. Depois, quando caiu em si, é que foram elas para a 'meia dúzia de cadastrados do Marítimo' que estiveram nos Barreiros!


No dia seguinte, a manchete da 1.ª página do 'Diário de Notícias', bronca das broncas como se imaginava, chocou a Madeira ao anunciar que o governo de Jardim queria fundir os três grandes clubes do Funchal num tal de 'Marítimo Nacional União Associados, SAD'.
"O presidente sabia que estava a falar com um jornalista, não tem que exigir segredos", pensámos ao decidir publicar o assunto, para reprimir um quase sentimento de culpa deontológica. "A informação não pode ficar na gaveta. Agora, o trabalho é dos responsáveis e dos adeptos de cada clube."
Fomos abordado na rua por sócios do Marítimo, escandalizados. Todos decididos a pegar na denúncia para tirar satisfações. Um deles ainda nos perguntou se não estávamos a passar o recado que o presidente queria, para ver as reacções.


De coveiros a heróis...

Todos se lembram dessa fase agitada. Se estamos aqui a recordar as origens do processo é porque, 15 anos depois, costumamos ler umas trocas de elogios, entre personagens de várias áreas, incluindo o jornalismo, atribuindo-se umas às outras louros que não lhes cabem. Pelo contrário, algumas dessas personagens só não fizeram de coveiros do Marítimo porque iriam perder mordomias. Mas já lá estavam metidas no processo da fusão. Até ao pescoço.


Não interessa adiantar mais nada, por hoje. A história verdadeira sairá, um dia. Com documentos e relatos vivos de quem participou na defesa do Club Sport Marítimo, dando a cara pelas suas cores e sofrendo represálias com graves repercussões na vida particular.


Interessa hoje, sim, homenagear a grande e aguerrida massa associativa do Marítimo, a quem se deve termos hoje o nosso clube com a sua identidade própria. Assim como beneficiaram os outros clubes, que continuam também cada qual com a sua camisola.
Como dizia a nossa amiga da Zona Velha, "fomos nós a ir lá acima mostrar que não temos medo de nada!"
O próprio presidente do governo aprendeu muitas coisas com os adeptos do Marítimo. Entre outras, aprendeu a respeitá-los, como aliás, justiça seja feita, ele mesmo costuma confessar.


Os tempos são outros. O futebol continua, por força das circunstâncias, absorvido pelo poder político, tal como os outros segmentos da vida insular. Há responsáveis clubísticos que dizem aguardar a hora certa de poderem libertar a gestão e a alma das respectivas colectividades. Vamos acreditar.

5 comentários:

Anónimo disse...

Sr.Calisto,podia dizer-nos mais sobre as últimas frases do texto? Acho muito importante discutir o futuro dos clubes pós reinado do rei.Como será a vida dos clubes sem a influência do regime .

Andesman disse...

Foi um dia memorável e um ato de grande coragem dos maritimistas. A maior derrota do senhor absolutista.

Luís Calisto disse...

1. Como compreende, o futuro dos clubes está no segredo dos respectivos presidentes. Assim que me cheguem notícias, partilho-as cá sem a menor dúvida.

2. Por isso me orgulho de ser maritimista, com o devido respeito pelos outros clubes.

jorge figueira disse...

Diz bem, o CSM e os outros dois caminhavam, aceleradamente, para a condição de Lokomotiv,Estrela Vermelha ou Dínamo coisa própria de sociedade onde se quer controlar emoções. Os sócios, dos três clubes, discordavam da ideia. Os do CSM deram corpo à discordância em reuniões mensais onde nunca tiveram o prazer da presença do Sr. Pres. Carlos Pereira, recearia, certamente, algum contágio de maritimismo patológico que o incomodasse.Assim não pensou o Pres. do GR. Criou algum embaraço a quem o acompanhou na mesa que ficou desguarnecida, pois muitos negaram-se à companhia, mas teve uma vantagem viram-se caras nunca dantes vistas por aquelas bandas. Eram sócios admiradores profundos de s.Exa. Os anos passaram mas o essencial da questão mantém-se. Dê-se a palavra aos Srs. Presidentes do GR e do CSM. Qual o montante a transferir dos nossos impostos, ou seja, do orçamento regional para os cofre do clube? Não tardará que os sócios se aperceberão de que não chega gritar golo e tocar bombo! Vão querer pensar no futuro.

Luís Calisto disse...

Doutor, é bom recordar aqueles tempos de luta pelo Marítimo, porém há sempre uma dor subjacente aos acontecimentos. Por aí começou um afastamento da família verde-rubra que se mantém numa grande parte.