DEDOS-DE-SENHORA
Neste sábado de Maio despertei com uma torrente de notícias sobre relvas contaminadas por um herbicida secreto, que estão a envenenar os coelhos e outros herbívoros nos parques e jardins de Lisboa. No semanário Expresso constatei que um fungo que entrou na Madeira pela costa de Machico está a deixar numa lástima os espécimes que há trinta e cinco anos vivem no jardim cardoso.
Embora atormentado com estes dois desastres ecológicos, que afetam gravemente a imagem de Portugal e para os quais a troika ainda não encontrou antídotos eficazes, agarrei na máquina fotográfica e saí de casa bem cedo em busca das flores do meu contentamento.
Observar e registar as infinitas imagens das flores é um remédio santo. Não há nas farmácias um medicamento mais eficaz para suportar os crescentes sintomas de decomposição dum monstro político.
Das espécies indígenas e exóticas que fotografei, selecionei para partilhar convosco uma que é conhecida popularmente pela curiosa designação de dedos-de-senhora. O nome científico é bem menos simpático. Os botânicos chamam-lhe Distictis buccinatoria, dizem que pertence à família das Bignoniácias e afirmam que é natural do México.
É uma trepadeira de caule lenhoso, bastante vigorosa, que se fixa por gavinhas. As flores em forma de trombeta começam a surgir em Março e só desaparecem em Setembro ou Outubro.
Na Madeira apenas floresce bem nos locais quentes da beira-mar. No Monte e no Palheiro Ferreiro cresce, mantém as folhas todo o ano, mas não floresce ou floresce muito raramente.
Desde que esteja plantada em solo fértil, rico em húmus, dispensa adubo químico. As regas devem ser frequentes na fase de crescimento, mas quando adulta e em plena floração não necessita mais de uma boa rega por semana.
Devem ser cortados os ramos secos e suprimidos alguns ramos verdes de forma a diminuir a densidade da folhagem e aumentar a floração.
A multiplicação não é muito fácil, mas deve ser tentada através de estacas tenras no princípio do Verão ou por estacas semilenhosas no fim do Verão.
Saudações ecológicas,
Raimundo Quintal
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