18 de Abril 2019

Miguel desaparecido e calado

na era das comunicações todo-o-terreno

Já houve um responsável pela Protecção Civil da Madeira que era invariavelmente apanhado fora da Região sempre que havia desastre no burgo. Faziam-se contas e, das duas, uma: ou o homem passava tempo demais fora da Madeira ou havia tantos sinistros que ele não podia sair sem que houvesse mais um.

Miguel Albuquerque parece candidatar-se à sucessão desse ex-responsável. Mas aqui sabe-se porquê: viaja muito.

Desta vez, há um desastre rodoviário com 29 mortos, estrangeiros, além de dezenas de feridos, e o Presidente do Governo Regional não está. O mundo inteiro fala da Madeira no pior sentido, o governo nacional decreta luto, o Presidente Marcelo vem para cá, assim como embaixador e ministro alemão dos Negócios Estrangeiros, mais o homólogo português... e o chefe do Governo Regional não está no teatro de luto.

Há uma razão forte para isso. Há. O pior é que o próprio Albuquerque não teve até agora o cuidado de se dirigir a todos os afectados pela tragédia do Caniço - população madeirense incluída - para contar a verdade do seu drama lateral.

Essa verdade é esta: Albuquerque estava a chegar com a família ao país escolhido para férias da Páscoa quando soube da mórbida notícia (comprometi-me a não especificar o país, mas é qualquer coisa de intratável e delicado). Imediatamente quis regressar à Região. Mas há países onde não é possível agir por caminhos que para nós são lineares. Há países onde as datas dos vistos são para respeitar, onde o número de pessoas abarcadas pelo visto tem de ser verificado à entrada e à saída, e há países onde os aviões estão sempre cheios.

Então, que crítica se está pretendendo dirigir ao Presidente do Governo? A da sua ausência. Porque, na cavalgada das tecnologias, o que de mais fácil existe é Miguel Albuquerque falar a todos os madeirenses - e não apenas - por intermédio das milhentas plataformas da net à disposição. E passar a mensagem gravada - ou em directo - às televisões. Não estaria tão ausente e as pessoas ficariam a saber devidamente da sua impossibilidade.

Trata-se de actuar com verdade, mesmo nos momentos mais difíceis. Ninguém pode adivinhar a tragédia que vai acontecer. Mas qualquer um pode explicar a verdade e dirigir as mensagens de condolências que quiser, com imagem e voz. É o tempo das comunicações todo-o-terreno. Comunicar pela via possível em vez de simplesmente estar desaparecido.

Infelizmente, a população apenas está a reparar numa ausência incompreensível. A contrastar até com reacções de outros figurões plasmadas na "imprensa do futuro regime", entre as reacções dos protagonistas legítimos da situação. Emplastros que estão a ganhar o vício de aparecer por duas razões: por tudo e por nada, como diz o outro.

Dizem que Marcelo vem aí amanhã. Pergunto se o Primo Costa também está de férias no estrangeiro e com problemas de vistos e aviões.

É o que temos.

Quanto a Miguel Albuquerque, depois de três anos continuamos à espera daquele 'clique'.