Powered By Blogger

segunda-feira, 22 de abril de 2019





22 de Abril 2019





Pedro Calado
Elevação maquiavélica




Pedro Calado escolheu muito bem o título para o artigo que publicou este domingo no DN: "Elevação". O vice-presidente do governo contou na primeira pessoa como participou na reacção das entidades competentes ao terrível acidente rodoviário no Caniço, quarta-feira da semana passada, e pretendeu mostrar que o fazia com elevação. 
À vista desarmada, o vice não se aproveitou do sucesso imaculado alcançado pelo sistema de socorro e Saúde, sector tão fustigado político-partidariamente. Limitou-se a narrar os acontecimentos, obviamente evidenciando a delicada missão dos intervenientes nas operações de socorro e no tratamento das vítimas. Melhor do que os factos e melhor do que os elogios espontâneos e entusiásticos dos dignitários alemães e portugueses - até da comunicação social - ninguém faria, de resto.

Pedro Calado também procedeu com aparente elevação na tentativa de salvar a imagem do chefe Miguel Albuquerque, maltratada pela sua ausência do teatro de operações. Calado explica no artigo que "todo o Governo Regional esteve em coordenação e [sob] orientação do Sr. Presidente do Governo Regional, Miguel Albuquerque". Materializando: "Diariamente, várias vezes ao dia, directamente comigo, fazia o ponto de situação dos acontecimentos, deixava as suas instruções e inclusivamente falava telefonicamente com as entidades que passaram pela Madeira." Acrescentou que, apesar de "abalado com toda a situação", Albuquerque teve a serenidade necessária para orientar as suas "tropas". Calado até pôs em evidência os méritos do Presidente na montagem das equipas de emergência e socorro de que a Madeira dispõe hoje.
O vice do GR escreve em atitude elevada, de acordo com a parte comportamental que marcou todo o episódio trágico nascido numa curva do Caniço. Mas, porque estamos a tratar de política, não posso deixar de fazer a pergunta clássica: o vice de Albuquerque, apontado por muitos como verdadeiro baluarte do governo e potencial sucessor do actual líder, escreve com sinceridade ou com requintado cinismo político?   
Sem pôr em causa o nível de escrúpulos da pessoa, não acredito numa atitude politicamente inocente do velho companheiro de Albuquerque. Acredito na sua predisposição já manifestada de não puxar o tapete ao actual Presidente. Acredito sem reservas. Mas também não vejo que sonhar com objectivos para médio prazo constitua traição a quem quer que seja. Penso que o maior traidor e adversário do meu Amigo Miguel Albuquerque é o próprio Miguel Albuquerque. Pelo desempenho que pôs - ou não pôs - na governação desde que chegou às Angústias pensando haver subido a um trono para toda a vida, linha de actuação surreal de que esta incrível ausência na hora errada é apenas mais um episódio.
E agora, Pedro Calado: a elevação ostentada no seu artigo contém indesmentivelmente uma pontinha de cinismo político "para mais tarde recordar... e usar". Calado não acha os madeirenses incapazes de somar 2 com 2. Ele escreve com demasiada objectividade para quem quisesse enganar alguém.

Falar várias vezes ao dia à distância do Dubai quererá dizer "coordenar e orientar" o ataque a uma tragédia? Em que tipo de ajuda se inscreve o falar telefonicamente com as entidades que passaram pela Madeira, a não ser para gaguejar explicações sobre a ausência? Albuquerque, sentado longe, no sofá do hotel, orientou as "tropas" que por aqui trabalhavam?
Pedro Calado sabe perfeitamente que não acreditamos nisso. Por isso escreve o que escreve. Se Pedro Calado quisesse obviar a vulnerabilidade que a situação estava a criar ao chefe, antecipava estas posições públicas para o tempo em que decorriam as operações. O vice conhecia evidentemente o mal-estar criado pela ausência, com os adversários políticos dissimulados no coro dos protestos. A ferida estava aberta e Calado podia atalhar a cura. Bastava, numa das suas poucas e discretas intervenções em público - postura que caiu muito bem entre os madeirenses -, bastava dizer aquilo que escreve agora depois do caldo entornado. Naquela altura crítica, podia dizer aos microfones: acabei de decidir isto assim e assim, em coordenação com os especialistas da Saúde e com o Presidente da Madeira que, sem possibilidades físicas de regressar imediatamente, acompanha todas as operações a par e passo. Procedia desse modo e convencia o chefe-turista a mandar para cá uma simples gravação vídeo que lhe conferisse o papel possível nos acontecimentos.

A política é perversa. Quando poucos acreditavam na recuperação da imagem da Saúde até às eleições regionais, eis que o prestígio é reconquistado subitamente por linhas tortas, para bem do governo e do PSD-M. E no instante seguinte Miguel Albuquerque ensombra o brilharete com mais uma das suas invenções que só mesmo ele.
Calado viu a ferida abrir-se. Deixou-a gangrenar. Depois do mal se tornar de difícil recuperação, aparece ele com um epitáfio de jornal a dizer que o seu chefe, no fundo, era boa pessoa. 
Calado precisava deste artigo a puxar ao cinismo? 
Não. Ele mostrou que, nas situações mais complicadas, consegue transmitir a ideia da competência, da discrição, da seriedade e da segurança que as pessoas precisam.
Elevação? Claro. Elevação política, diria Maquiavel, com carradas de razão. Entendendo-se maquiavelismo não com sentido pejorativo, mas como disciplina criativa da política. 

Miguel Albuquerque saiu da Madeira para descansar. Volta condenado a trabalhos forçados. Terá de usar mais uma das suas sete vidas. Mas, depois de ausente numa peça dramática mundial, não é com presenças em sessões inócuas de militantes, de freguesia em freguesia, que apagará o mal que fez ao sistema de Saúde no momento da tão necessária recuperação da imagem. 
Da imagem dele, Albuquerque.
Depois da prestação de Calado no processo recente e da sua declaração de intenções no artigo de domingo, a engenhoca Cafofo-PS tem mais um motivo de preocupação.
E Albuquerque também.

14 comentários:

Anónimo disse...

Chama-se a este panegírico de Pedro Calado tão só “O ABRAÇO DO URSO”!
Parece estar a meter Albuquerque no coração mas está a esmagá-lo! Quem como eu conhece bem Pedro Calado e Miguel Albuquerque há mais de 30 anos, sabe que o primeiro sempre agiu assim (sorrisos e abraços a quem deseja eliminar) . Quase que juro que esse epitáfio foi escrito a três mãos por quem quer descartar de vez o alienado Presidente: Pedro Calado, o seu acólito Luís Nuno Olim e o padrinho destes dois Alberto João Jardim!

Anónimo disse...

Boa observação dos factos, ó das 13.40.
Pedro Calado marcou muitos pontos nesta situação, e sabe disso perfeitamente. E, a sua actuação, foi enaltecida até a nível nacional.
Regionalmente, não houve uma única falha, de que a oposição se pudesse ter aproveitado.
E isso rende.
E, Albuquerque, na equação do futuro, é uma carta fora do baralho. Toda a gente sabe disso. Até pode ganhar as eleições, mas o destino está traçado.

Anónimo disse...

A presença ou não do Presidente do Governo Regional só é tema devido à actual ditadura das redes sociais e de guerras politicas.

Compete às entidades governamentais preparar e dar condições aos profissionais de socorro e de saúde para que as situações de emergência sejam resolvidas com o máximo de competência e o mínimo de perdas e sofrimento humano.

No caso do trágico e terrível acidente da ultima quarta-feira é unanimemente aceite que o trabalho das equipas de socorro e dos técnicos de saúde foi exemplar. A população consternada com o trágico acontecimento foi devidamente informada.

Sobre as presenças ou ausências, não acho que fosse necessária a presença do PGR, não sei o porquê da vinda do PR. Da parte dos alemãs vieram as entidades necessárias, averiguaram o que se passou e partiram, sempre com discrição e profissionalismo.

Se me acontecer alguma coisa quero é que estejam presentes técnicos de socorro e saúde, e que não faltem condições para eles me ajudarem.

Anónimo disse...

Ninguém está a discutir isso muito menos na opinião aqui exposta por Luís Calisto.
O que está em causa é o Aproveitamento da Situação por parte de quem estava sobre quem não estava!
Pela forma consistente como escreve, depreendo que percebeu mas está a mudar de conversa!
Não considere os demais analfabetos pois essa táctica foi chão que já deu uvas.
Quanto a ditaduras das redes sociais presumo que sejam apenas uma versão mais democrática da ditadura da imprensa tutelada por lobis! Tome o veneno que melhor lhe sirva, não o que quer servir aos demais!

Anónimo disse...

E no famoso blog de paternidade não assumida nem uma menção aos acontecimentos, apenas as cafofisses habituais.
Voto de silêncio no Quebra Costas ou já se prepara as listas de candidatos para a ALRAM?

Anónimo disse...

As listas já estão pré-definidas. Só levarão uns retoques finais.
Entretanto a ordem é vergastar cafofianos e os seus chefes em Lisboa.

Ass: O Visconde do Quebra-Costas

Anónimo disse...

Calado está na primeira linha de sucessão e a mesma irá acontecer mais rapidamente do que muitos esperam.

Anónimo disse...

Claramente um das maneiras de se auto-promover é elogiar outros. Na Grécia Antiga, os discursos ou orações fúnebres (i.e., sobre os mortos) eram utilizados para isso.

A verdade é que Calado sabe que está no "lugar do morto" (i.e., no sentido que se as coisas começam a correr mal para Albuquerque a cabeça de Calado é a que vai rolar... e se as coisas correrem bem a Albuquerque também a cabeça de Clado rolará pois Maquiavel disse: "aquele que fizer com que outro chegue ao poder semeou a sua propria desgraça" - paráfrase).

Anónimo disse...

Nas próximas eleições deveríamos assistir a um duelo CA-CA ou seja Calado-Cafofo pois se Albuquerque já tinha uma má imagem pública então agora depois do acidente está mesmo nas horas de amargura.

Anónimo disse...

Seguindo o raciocínio do das 13:13, se Calado quer vingar na política activa, então o PSD-M tem que perder as regionais ou ter um resultado desastroso nas europeias aqui na Região.

Anónimo disse...

Ó das 13.26,
Essa luta até seria engraçada.
Como eles foram colegas de turma na Apel, teriam oportunidade de reviver debates.

Câncio,
A tua observação às 13.13, faz lembrar Péricles.

Eu, O Santo disse...

Para quem não se tenha apercebido, para além de politiquices naturais, a essência da diferença de opinião sobre a comparência ou não de Albuquerque após as tragédias tem a ver com a opinião sobre o papel de um dirigente máximo.
Uns defendem que um Presidente do GR deve trabalhar muito e gerir o GR.
Outros defendem (como eu) que o Presidente tem um papel de âmbito global: representação do GR, visão, estratégia, implementação de estratégia, observação e análise crítica dos resultados, observação e análise crítica da Sociedade e evolução.
Os primeiros defendem um Presidente que "manda dentro", os segundos defendem um Presidente que é o elo de ligação "dentro-fora" e que o "mande no ponto de vista de observador de fora".
Os primeiros defendem que o Presidente vive o dia-a-dia do GR, eplo que le é que decide.
Os segundos defendem que o Presidente ouve os stake-holders (clientes, Sociedade em geral, fornecedores, comunicaçã social, ...), e dá instruções correctivas... muitas vezes de "cortar a cabeça" aos diretores intermédios.

Basicamente a diferença está entre ser CEO ou President.

Anónimo disse...

Quo vadis...

Anónimo disse...

Ó Câncio,
O presidente não estava. Para mim tinha o dever de regressar o mais rápido possível. E o presidente da assembleia também.
Não o fizeram. Para mim estiveram mal, mas é só a minha opinião.