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domingo, 23 de fevereiro de 2020

Adriano Correia de Oliveira - "Lágrima de preta" do disco "Cantaremos" (...

          LÁGRIMA DE PRETA



Encontrei uma preta
que estava a chorar
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar

Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado

Olhei-a de um lado
do outro e de frente
tinha um ar de gota
muito transparente

Mandei vir os ácidos
as bases e os sais
as drogas usadas
em casos que tais

Ensaiei a frio
experimentei ao lume
de todas as vezes
deu-me o qu´é costume

Nem sinais de negro
nem vestígios de ódio
água (quase tudo)
e cloreto de sódio

Depois de uma música nos versos de António Gedeão (que Adriano, Freire e outros cantaram), meti-me na selva. Se durante muitos dias não liguei aos rituais selvagens da tribo que assentou arraiais no Estádio de Guimarães, há dias por ocasião do Vitória-FCP, os semanários de fim-de-semana obrigaram-me a voltar atrás. É só Marega, racismo, indignação, troca de conceitos os mais esdrúxulos possível...

A claque vitoriana (aquela miniatura de claque, concretamente) é feita de indivíduos cujo reduzido valor seria a pele branca, e daí os urros, digamos assim, a tentar imitar os macacos quando o africano Marega dava um toque na bola, aliás à razão de uns milhares de euros por toque, para desespero dos brancos que pagaram para se sentar na bancada a ver o Marega brilhar diante de milhões de telespectadores.
Então, ouvia-se uma urrada,  um guinchar desses adeptos que durou até o Marega resolver abandonar o relvado.
Joguei futebol no Marítimo em equipas mistas de atletas altos e baixos, mais fortes e mais magrizelas, bem falantes e atados (como eu), velozes e vagarosos, tecnicistas ou mais pão-pão queijo-queijo, e nunca vi preocupação com as características de cada qual. O Eduardinho era baixo, mas saltava mais alto do que os cangurus. O Bira era brasuca, mas sentia a camisola como um nascido em Santa Maria Maior. Eduardo Luís e Amaral eram continentais, mas integraram-se no clube como se fossem oriundos dos juvenis. Assim como Arnaldo Silva, Norberto, Porfírio e Nelson eram tão monitorizados pelos adeptos sedentos de vitórias como o Noémio, Ângelo, Olavo, Rui ou Tininho.













                                        Outro é lourinho
Um é moreno


Já que ainda neste fim-de-semana vemos o não-assunto de Guimarães dominar a actualidade, fui ver a diferença entre os macacos pretos e os brancos. Pois à primeira vista, como Gedeão, não dou por nada. É verdade que há uns mais morenos e outros a puxar ao lourinho, mas eles andam juntos na selva e dão-se bem uns com os outros. 
Fiquei-me com esta: ninguém se lembrava que havia diferença de cores de pele entre os jogadores das nossas equipas de outrora. E agora notou-se um guinchar-urrar naquela claque de complexados perfeito demais para ser imitação, como diz o outro.
O reconfortante é termos um povo evoluído e alheio a infiltrados sem classificação, não apenas os vimaranenses mas todos os nossos patrícios do Norte de Portugal, a quem envio daqui um abraço lusitano.

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