Estado da Região

UM BARCO SEM ARRAIS

Os governos entram em funções para tentar satisfazer os anseios do povo a governar. 

Qual é o maior anseio do povo? 

O maior anseio é contar com uma boa Saúde. É sempre esse, em todas as latitudes e em todos os momentos da Humanidade.

"Haja saúde", faz votos o povo, ciente de que depois logo se verá. O resto vem por acréscimo.

Saudinha da boa. Se possível, com uns cobres para gastos.

Os Leitores recordam-se da campanha feita na Madeira pelas oposições regionais contra o governo PSD, a caminho das três eleições de 2019. É verdade que a obsessão dos críticos Cafofos e Mários Pereiras desta terra transformou essa campanha numa ridicularia que perdeu credibilidade. Mas a intensidade da histeria não baixou.

O povo tem olhos para ver que a Saúde apresenta sempre vulnerabilidades, tanto no século XV como na China, tanto no século XXI como no Dakota do Norte. O povo também sabe ver que o caso da Madeira não é excepção, há muitos motivos para preocupações. 

Por azar, o ano de 2019 foi particularmente difícil nesse campo, com a questão empatada do novo hospital a tornar a situação da Saúde ainda mais doentia.

Novo governo regional acabou por entrar em funções assente numa coligação. Alguém viu desde então interesse em resolver aquele que é o grande anseio também do nosso povo?

Não. O governo constituiu-se na dependência de uma qualquer birra de José Manuel Rodrigues. Então, temos um presidente parlamentar resultante da chantagem que ele próprio fez nos bastidores da política, com início nos primeiros minutos a seguir às eleições regionais de Setembro. Tanto se lhe dava viabilizar um governo de centro-direita, por exemplo o de Albuquerque, como outro de centro-esquerda, por exemplo o de Cafofo.

Isto já todos sabemos.

O que ninguém sabia e estamos a saber agora é que a chantagem continua. José Manuel Rodrigues continua com o governo regional sob controlo. A ponto de sair da simpática 'casa de loucos' para se divertir com Albuquerque na tomada de posse do novo director clínico.

Um presidente parlamentar presente na...?

Sim, na tomada de posse do director clínico. Rodrigues esteve lá, coisa jamais vista num presidente de parlamento, porque foi ele a indicar o nome do director clínico do sistema. Ou seja: Rodrigues, Barreto e mais uns quantos correligionários tomam decisões que implicam com a Saúde, ao serviço da nova agência de tachos em que o CDS se transformou. E só agora se transformou porque só agora chegou ao poder.

Dirigentes partidários a escalar boys para ocuparem postos técnicos no sensível sector da Saúde! 

Estaremos numa terra normal?

O processo não corre assim tão simplesmente, linear, a seco - tu vais para aqui e tu vais para acolá, porque o hospital é nosso. Nada disso. O presidente do parlamento chegou ao ponto de vetar nomes de profissionais da vida médica indicados para integrar direcções. Não estou a difamar ninguém. O Dr. França Gomes fez esta denúncia na televisão, com a veemência própria da gravidade dos factos. José Manuel Rodrigues foi logo a seguir confrontado com a situação. Não quis comentar. Ou seja, confirmou tacitamente o episódio. 

As atitudes manifestam-se à descarada.

"Quem manda é o governo, quem manda sou eu!", explica Miguel Albuquerque, cansado de saber que não manda nada.

Porque não há outra leitura: em casa onde todos mandam, ninguém manda.

Albuquerque não manda nas jaulas, não manda na política dos portos, não manda na mobilidade, não manda na Saúde, não manda no seu próprio partido. O primeiro sintoma de que o actual chefe não manda nada é que ele precisa de estar sempre a lembrar "quem manda sou eu".

Este chefe não tem paciência de estudar os projectos a montante, as suas implicações nos 5 passos seguintes. Manda avançar 'à louca', depois o povo mostra-lhe o erro e é fiasco garantido. 

Desde 2015, é um não mais acabar.

"O Miguel é um tipo 'porreiro' e o que quer é que não o aborreçam, para poder levar uma boa vida", dizia-me esta manhã um antigo companheiro do governante. Para desabafar com um suspiro: "Sem dúvida que ele está desgastado, ultrapassado. O Alberto João levou décadas para atingir este nível de desgaste."

O que é preciso para uma pessoa levar boa vida? É contar com um lugar ao sol e dinheiro para extras. Para os 'renovados' albuquerquistas, estava 'de caras': os trogloditas do Laranjal estiveram 40 anos a pôr e a dispor, agora somos nós a desfrutar de outros 40.

Isso mesmo, nem que seja vendendo a alma ao diabo, como Albuquerque fez ao ceder à chantagem de Rodrigues, nas escolhas para a coligação. Pelos vistos, relacionamento para continuar, dado que a chantagem continua na distribuição de tachos aos co-partidários de Rodrigues.

Outro antigo barão do PSD comentava hoje, em privado: "Este governo vai em queda livre, muito por causa do desnorte do Miguel. Já não há preocupação em disfarçar, agora é às escâncaras que o governo trabalha para inventar tachos, em vez de resolver os problemas da Madeira. O Miguel deu mesmo a entender que os tachos não vão ficar por aqui. Estou desiludido!"

O mesmo social-democrata da velha guarda entende que "não há moralização possível com esta gente", referindo-se ao PSD e ao CDS. "Perderam a vergonha. Lidam na ideia de que, se tiverem a administração na mão, nunca mais saem de lá. E o povo vai pagando esta loucura."

Pedro Ramos já devia ter saltado da barca do inferno 

O próprio Pedro Ramos, apanhado na cilada que os políticos montaram para beneficiarem à custa de um sector como o da Saúde, devia andar já longe dos loucos e perigosos acontecimentos. Não pelas razões aduzidas pelo PS. Iglésias tem falado de incompetência ao referir-se à necessidade de demissão do secretário. É precisamente ao contrário. Profissional competente que é, Pedro Ramos não devia de modo nenhum aceitar as imposições de uns 'nabos' que nada percebem de política quanto mais de Saúde. Não há lealdade ou solidariedade institucional que o justifiquem. Meros dirigentes partidários quiseram impor-lhe nomes para cargos técnicos do Centro Hospitalar? Mas quem são esses cavalheiros para se arrogarem a tal aberração? Pedro Ramos pura e simplesmente mandava o governo - este governo - à fava e voltava para as suas funções profissionais de raiz, sem deixar fechada a porta de um governo a sério que um dia apareça por aí.

Repare-se: Albuquerque, quando em campanha no meio das labaredas do ano de 2019, prometeu dar prioridade à Saúde se ganhasse as eleições. Uma vez o governo em funções, deita-lhe gasolina em cima. Fogo sobre os hospitais!

Miguel apanhou o coronavírus? Ou a gripe das aves?

Seria esta Saúde sem governo, em tiroteio cruzado, sem mando, entregue a 'curiosos' e não aos profissionais - médicos e afins - que o Miguel tinha para dar aos Madeirenses? 

"Isto vai acabar mal", avisou o Dr. Miguel Ferreira na entrevista ao JM de ontem. Na qual fez o retrato fiel do estado a que isto chegou. O antigo responsável no Sesaram, que se encontra fora da Madeira mas preocupado e chocado com o barril de pólvora desta Saúde, deixou uma interrogação ao maior partido que apoia o governo: "Não há quem veja isto no PSD?"

É pertinente acrescentar outra pergunta: o Presidente da República estará ao corrente do que se passa nesta Região de Portugal? O Representante já transmitiu a Belém que, nesta terra, os dirigentes partidários estão a empregar os seus boys compulsivamente no sistema de Saúde?

Será isto normal? É normal num País democrático haver veto de nomes num sistema hospitalar por decisão de um presidente de parlamento? Não se tratará de abuso de poder? 

O Chefe do Estado mostrou que não dormia na forma ao condecorar o anterior Presidente do parlamento regional, na ressaca da chantagem obsessiva exercida pelo sucessor de Tranquada Gomes. Foi um recado bem mandado. Pois agora o caso não é menos grave. O mesmo senhor obcecado continua a interferir onde não deve.

Marcelo vem à Madeira em breve. Será que tem ouvido o Dr. Ireneu Barreto?

Pelo menos o MP poderia verificar se há mesmo abusos de poder e chantagem na vida pública regional.

O protagonismo de Rodrigues continua. Agora vai ao ridículo de abrir uma delegação da ALM no Porto Santo. Onde apenas existem deputados de dois partidos, a quem qualquer cidadão porto-santense pode encontrar a qualquer momento, sem necessidade de audiências e gabinetes.

Escândalo. Ridículo. 

Teremos mais delegações da Assembleia na Madeira? Pode haver deputados a querer 'despachar' na Calheta, em Santana, em S. Vicente - por que não?

Rodrigues continua na rota do poder. Agora mesmo acaba de ceder ao PS na exigência de novas instalações para os deputados socialistas, cujo número aumentou bastante, de facto. Durante anos, a ALM teve dependências nas imediações, por causa das obras no edifício principal. O casarão atrás da Sé continuou a pagar rendas exorbitantes até há bem pouco tempo, quando a ALM se conseguiu ver livre daquele peso. Pois agora entra-se em mais despesas outra vez. Ora, melhor seria dividir em duas partes iguais o espaço que há nos anexos da Rua da Alfândega pelos grupos PSD e PS. Ou será que os deputados trabalham tanto que precisam de uma suite cada um?

E, na rota do poder, Rodrigues não quer ficar "descalço" quando entrarem os senhores que se seguem. O poder de transformar um deputado de "defenestrado" em director clínico não é para qualquer um. Daí o pé na coligação e outro no PS que se tem visto em José Manuel presidente.

Infelizmente, não há melhorias à vista. O destino do PS-M está traçado. Começa o ciclo Cafofo com todos os excessos, equívocos, contradições e incompetências a que nos habituou. Não será o facto de ir ganhar mais de 5 mil euros mensais no serviço a tempo inteiro na Praça Amarela que lhe fará subir o nível. Ele e alguns tachistas sonhadores já mandam no partido mesmo de quando não eram militantes, votando inclusivamente em comissões regionais. É o lamento que corre lá pelos corredores. 

Prepara-se o regresso do cartaz 'pepsodent', substituído nos últimos tempos pela carranca dos 3-0. Regressa a teoria das PSoas, que, como vimos, tanto sucesso eleitoral trouxe. Jaime Leandro consegue reentrar no GP, donde se conclui que ali no PS há uma polivalência notável: a uma pessoa tanto faz ser deputado, como assessor do grupo, como até líder parlamentar, que dá no mesmo. Daí haver comentários internamente que dão Sérgio Abreu, um dos militantes a quem a Câmara do Funchal terá de albergar, pela falência da FrenteMar, como novo assessor do mesmíssimo grupo. Sérgio. 

Uma coisa é certa: Sérgio Abreu continua na Comissão Organizadora do Congresso. Cafofo pode estar descansado quanto ao processo da sua eleição para líder. Até porque Carlos Jardim já começa a perceber que, no ambiente criado pelos garimpeiros de tachos, que anseiam substituir os carreiristas do PSD, será difícil sequer formar listas para disputar a liderança a Cafofo.

Mais a mais, parece que o Paulo contará com uma inesperada intervenção de apoio à sua candidatura. De alguém considerado senhor da cabeça mais competente do PS-M. Sim, o antigo líder Carlos Pereira.

O apoio de Carlos Pereira a Cafofo!

Das duas, uma: a novidade do apoio de Pereira a Cafofo ou não passa de uma brincadeira de carnaval, ou então teremos daqui para a frente um carnaval infindável com muito pano para mangas. É só ir lembrando as cobras e lagartos que o Carlos Pereira largou sobre Cafofo em cafés, esquinas, corredores da política, no facebook e não sei se em inscrições nas paredes de wc. Desculpe o Leitor, mas desenvolvimentos da política regional como este protagonizado por Carlos Pereira produzem o mesmo incómodo que produziam os processos escatológicos que ele, Carlos Pereira, dizia cheirar quando, com os dedos a apertar o nariz, apontava para os lados do cafofismo. 

Não vejo a hora de ler e ouvir o panegírico de Pereira - afinal Pereirinha mesmo - ao amado líder Cafofo. "Meu caro ídolo socialista..."

O que Pereira falou da Cerdas!

Moral da história: esta Madeira é um barco sem arrais e a perder o leme.