OS VISITADORES
O turismo está na massa do sangue dos dignitários desta terra. Muito se visita, muito se viaja. E atravessamos uma época que não é tão desafogada assim
De repente, o cenário político actual incute-nos a ideia de que alguma agência de turismo, quem sabe se por falta de clientela, preparou pacotes de viagens dedicados especialmente aos mais altos dignitários madeirenses. Passear, visitar, passear, visitar. Sem pausas. Os ilustres titulares da Região nunca se encontram nos sítios onde poderiam justificar vagamente a reduzida utilidade que os respectivos cargos valem hoje em dia. Andam a saltitar de um lado para outro. Se a crise morde aqui, eles são vistos acolá.
Não se trata de embirrar com ninguém
Não nos acusem de que nos insinuamos aqui para mais uma vez atacar desbragadamente a linha de actuação do chefe do governo. Sem ironia, encaramos o caso da veneranda personagem de forma diferente: sua excelência, o chefe, até viaja menos do que devia. Não apenas porque, ao que parece, a União Europeia lhe paga as excursões a Bruxelas, com chaufer e assistente, quando é preciso, mas na medida em que a sua ausência constitui um repouso higiénico para as mentes que ficam a trabalhar na Madeira.
Já fomos crítico desses passeios que fazem do chefe um sério candidato a principal passageiro frequente de algumas companhias aéreas, em renhida competição com Jaime Ramos. Cada um deles portador de uma carteira de milhas a perder de vista. Verdade, sim: desancámos quando de situações que considerámos de inoportunidade e mau gosto. Em 1999, por exemplo, desapareciam emigrantes madeirenses nas enxurradas de Vargas, na Venezuela, e o homem regalava-se tranquilamente nas águas tépidas de Bora Bora, a mandar sumo de coco fresquinho pela goela abaixo. Sem ceder aos apelos para acções imediatas de solidariedade.
Uns dez anos antes, enquanto a cidade do Funchal se alagava e submergia em cascatas de lama, sua excelência prosseguia olimpicamente imperturbável o seu roteiro tropical debaixo do sol brasileiro - e Bazenga Marques que se aguentasse no Funchal a gerir o pânico causado pela tragédia.
Ele, quanto mais longe, melhor
Aprendemos com o tempo. Deixem o homem andar lá por fora. Façamos um sacrifício, caso tenhamos de comparticipar nas despesas. Mas digam-lhe que vá ver se chove na Europa e até na China. Muitos meses de cada vez, para que possa fazer a média da pluviosidade a modo. No figurino actual, ele passa uma semana lá pelas Europas e regressa para embirrar com quem encontra mais à mão, aqui, a governar a vida sempre dura. Pior do que isso, inventa umas pequenas excursões domésticas só para ser visto todos os dias nas televisões. E, cúmulo dos cúmulos, expele teorias político-partidárias umas atrás das outras que, se fizeram rir outrora, entendem hoje com o estômago de cada um.
Só para enquadrar a ideia, recorde-se as atoardas que atira para os adros, quando apanha alguns fiéis distraídos. Diz ele que o governo da Madeira continua a trabalhar. Que há sempre uma "inauguraçãozinha" para fazer. Ao passo que o governo de Lisboa paralisou. Não acompanha convenientemente a vertiginosa velocidade a que vai o governo das Angústias. E perguntamos: que raio, não arranjam por lá meia dúzia de veredas para o Passos Coelhos se mexer, inaugurando-as durante uma semana?
De vez em quando, avisa também o chefe tribal que, se os governos dos países europeus não escutarem o que ele sopra para aquelas capitais, não se queixem depois. E até, para estar ao lado dos vencedores e mostrar que as suas teses são infalíveis, festejou a vitória de François Hollande, perigoso socialista francês - justificando-se com a queda eleitoral dos selvagens liberais gauleses, importante para a execução orçamental das Achadas.
O negócio do milho frito faz lembrar projectos antigos, também com capitais públicos, e que... |
À falta de melhor, inaugura tudo o que cheira a novo, como a fábrica de milho frito do nosso Amigo Danilo Reis. O chefe sublinhou a criação de 4 novos postos de trabalho. Mas esqueceu-se de referir o escandaloso défice de emprego desse dia, já que a média diária de novos desempregados passa de 20. Mais ainda: depois do trambolhão estrondoso do Restaurante 'Espada Preto', em Câmara de Lobos, da gestão do referido empresário, é bom que todos os apoios públicos se submetam a prévio estudo de viabilidade. Pode ser?
Madeira soma vitórias, diz o homem
Da sua parte, ele chefe vai dizendo: "Estão a ver isto que estou a visitar?" Refere-se a uma loja com um ano de vida, porque para inaugurar não há mais nada. "Estão a ver? Eu não podia deixar a Madeira perder!" Com efeito, a Madeira é vitória atrás de vitória, como se percebe desde a troika.
Uma vitória não pode assumir a forma de um buraco ou quê?!
Claro que, no meio destas actividades cheias de 'velocidade', o chefe do governo continua na disposição de pôr em conflito os madeirenses uns contra os outros, todos de relações cortadas com os vizinhos, de modo que qualquer dia não existirá uma só hipótese de conversa sonora. Vem de trás.
Ora ponha aqui o seu pèzinho...
Pelo exposto, considera-se conveniente mandar sua excelência passear em regime permanente. Mas esse estatuto não pode ser extensivo a todos quantos ocupam lugares públicos nesta terra. Já chega o rapaz da Jota laranja, que agora tem direito a um batalhão de jornalistas em cada uma das visitas a que também meteu pernas.
O estatuto de caixeiro-viajante não devia ser extensivo a todos os dirigentes. Mas a moda pegou. Conceição estudante, com uma conferência importantíssima sobre turismo no Funchal, organizada pela Ordem dos Economistas, zarpou rumo ao Reino Unido, mesmo sabendo que apanharia pela frente mais umas doses de que está farta até aos bonitos olhos - festas com espetada, vinho americano, milho frito e bolo do caco.
A secretária do Turismo não foi ao Reino Unido ensinar folclore, mas divertiu-se. Haja alegria! |
Ou seja, em vez de comparecer primeiro na sala de congressos do Casino para tentar perceber melhor o contexto nacional e internacional onde aplicar a sua estratégia para o turismo, sector fundamental para a economia insular, preferiu ir para os restaurantes de madeirenses em Londres dançar 'ai ponha aqui o seu pèzinho' e fazer a 'cobra' do bailinho entre Gonçalo Santos e os dançarinos do grupo folclórico. Em lugar de se reunir com os empresários dos bazares de souvenirs à volta da Sé que passam semanas a ver à distância bandos de turistas levados para circuitos cirurgicamente direccionados, optou por conversar com empresários britânicos para permutar fluxos turísticos nos dois sentidos (daqui para lá estão cheios e são sempre os mesmo turistas...). Em vez de partir pedra com os hoteleiros da Madeira obrigados a mandar gente para o desemprego, vai ela própria promover a Região Autónoma junto dos homólogos das Ilhas do Canal, talvez oferecendo a cada qual um brinquinho e um casal de vilões.
Representante também com 'bicho-de-pêssego'
Ireneu Barreto |
Assistindo a esta vaga turística, o próprio representante da República resolve saltar do Palácio de São Lourenço e meter-se pelos caminhos do arquipélago, evidentemente com os jornalistas na peugada. Ou há democracia ou...
O juiz conselheiro Ireneu Barreto já visitara o porto do Funchal, que apesar disso continua bem classificado entre os mais caros do planeta, para desgraça do consumidor. Visitou também o aeroporto, onde persistem, ainda assim, as taxas aeroportuárias mais altas da Europa, desse modo afugentando turismo. Esteve na delegação da PJ, que continua sem merecer a confiança de instâncias nacionais da especialidade. Andou pela Calheta e deve ter apreciado aquele desenvolvimento do 'laranjão madeirense' - inspiração no cavaquistão continental, Viseu. Visitou ainda, com a visibilidade da ordem, o Comando da ZMM, mas aí foi só andar uns metros no Palácio, de poente para nascente.
Ultimamente, o juiz conselheiro intensificou as andanças, com uma visita às unidades da GNR e outra às Desertas. Pelo que viu na Deserta Grande, Ireneu Barreto percebeu que...
Vá lá ver, Sr. representante. Sejamos claros. Sabemos há 500 anos que temos vocação marítima.
Que é importante apostar na pesca desportiva sabe-o desde garoto o nosso Amigo Fernando Barros, da Ribeira Brava, porque sem ela, pesca desportiva, milhares de caldeiradas teriam ficado pelo caminho, nos nossos verdes anos.
Os nossos biólogos explicam frequentemente, como o senhor fez agora, que a freira do Bugio precisa de carinhos.
Que a indústria das conservas constitui fonte de riqueza, é só ver as fábricas desactivadas pelas ilhas fora, para o senhor ver o que já se tentou.
E não estávamos à espera da sua vinda para sabermos da importância do património ambiental em termos de futuro.
Sr. representante, o que deveria fazer um titular desse cargo, aliás desprovido de sentido, era explicar ao dignitário de quem depende directamente, o Presidente da República, como ele, PR, cai no ridículo quando vem à Madeira elogiar a 'qualidade da democracia' local e 'a obra feita do dr. Jardim'. Em vez de ser mais um a juntar-se ao poder, cabe-lhe a si, Sr. representante, não só apelar para a disciplina no parlamento, recado que direccionou para os deputados mais radicais, mas sobretudo exortar o Prof. Cavaco a prescindir do comodismo de Belém e exigir o cumprimento da Constituição nesta Madeira ilegal.
É que a Constituição sofre atentados diários nesta terra e o senhor, que deveria transmitir imediatamente as incríveis anomalias a quem tem o dever inalienável de defender o texto fundamental, passeia-se por aí com declarações à imprensa que chovem no molhado e aliás brilham de tão agradáveis para o chefe tribal. Agressões à Constituição? O sr. representante não desconhece, obviamente, os atropelos aos direitos dos deputados oposicionistas. Não desconhece o estado de ilicitude que vigora no mercado da comunicação social, com o JM no epicentro da grave situação.
Outro dia fornecemos relatório detalhado, se o senhor assim o desejar.
Bispo: ser feliz, mesmo rodeado de tristezas
O próprio bispo também anda por aí, a pregar fé e recolhimento, nas visitas destinadas a crismas e a sermões já gastos em tão pouco tempo de mandato na diocese. Trata-se de um caso perdido. Com quase 40 anos de ditadura autonómica, a Igreja continua cúmplice de um regime da crápula, cedendo adros para política partidária, fazendo alianças com o governo à conta de um jornal que em si mesmo constitui pecaminosa mentira (ouvimos dizer que o JM é distribuído no interior dos templos, ao menos no Norte da Ilha...), legitimando com a presença católica os actos de propaganda ilegal nas inaugurações oficiais.
De barriga vazia, torna-se mais difícil rezar com fé. |
O bispo não vai à sopa do Cardoso oferecer uma palavra de ânimo a quem dela precisa. Prefere falar de fé e oração nas homilias.
Se a procissão das velas está nos conformes, que importa se o número de pobres cresceu outra vez esta semana.
Lá de quando em vez, D. António recorda-se dos necessitados, os antigos e os que emergem diariamente em consequência da crise assassina que nos corrói duplamente na Madeira. Então, apela para a solidariedade social. Pergunta-se: por que não começar pelo exemplo da Igreja madeirense? Toda a gente sabe do património, tocando a ostentação, desta diocese. Por que não abdicar de alguns bens materiais para socorrer quem precisa? Bem pode perorar V. Ex.ª Rev.ª sobre a 'vivência da fé', que ninguém consegue rezar bem com a barriga vazia.
Estamos em Maio, mês de Maria. Este domingo é 13. Reflicta uns momentos a sós, sr. bispo.
"É possível viver na alegria entre as mais dolorosas dificuldades", costuma dizer o senhor, no conforto do paço das Quatro Fontes. Sabe do que fala.
3 comentários:
A festa vai rija está tudo contente...O exemplo deu-o CSM não venceu o jogo mas mostrou como é possível "obrar" com menos dinheiro... Garantiu MAC
Há gente que 'obraria' mesmo com dinheiro do Escobar!
Pedro, Pablo e Peixe este dizem tem grandes efeitos
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