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sábado, 5 de maio de 2012

Política das Angústias / SÁBADO




ANGÚSTIA PARA O JANTAR




O chefe já tem o cadastro daquela gente toda, com foto individual e tudo.


Qualquer coisa na presente situação política madeirense nos traz à memória Luís de Sttau Monteiro e o seu livro ficcional 'Angústia para o Jantar', que os universitários dos anos 60 e 70 liam à margem das sebentas oficiosas. Um volume de páginas ao longo das quais desfilam personagens portadoras dos vícios que alimentavam a sociedade lusa da época em que o autor produziu a obra. Ou seja, nos inícios da década de 60 - princípio do fim do regime fascista que Salazar, obrigado por uma cadeira desengonçada, deixaria ao delfim Marcello Caetano.


Essa memória ressurge talvez por estarem na moda certos jantares que provocam indigestões a uns e regalo a outros. Há um repasto previsto para 30 de Junho - certamente uma picante 'macarronada com carne' em São Vicente, preparada pelo 'famista' Gabriel Drumond. Um grito de aviso a quem desalinha da facção jardinista dentro do escaqueirado PPD-Madeira, com ameaças a jornalistas de queprovavelmente serão corridos da ilha por ocasião desse janter-festa idealizado para celebrar os 'anos' do 'João'. À boa maneira flamista dos anos 70. Curiosamente, é um presidente de governo quem anuncia um jantar com gente de tendência separatista. Tudo às claras, agora.

O problema é que, entretanto, o 'rei das Angústias' vive angustiado por causa de uma realidade com a qual não contava para tão cedo: um alargado grupo constituído por militantes laranja sentados no mesmo restaurante, na qualidade imprevista de apoiantes de Miguel Albuquerque e da sua candidatura ao lugar na Rua dos Netos ocupado há 36 anos por ele, o rei. O mundo de canelas para o ar!



Meia verdade + meia verdade = 1 mentira


O JM de hoje não poderia chegar às bancas (gratuitas) sem um gordíssimo e vistoso título na 1.ª página de ataque a Miguel Albuquerque - um autarca e challenger de Jardim que açambarca manchetes atrás de manchetes no jornal do chefe do governo e do bispo. Ontem, diziam as garrafais: "Aliança imaginária entre Albuquerque e Cunha e Silva". Era para desvalorizar o reencontro de ambos os 'delfins' na badalada visita ao Campo da Barca. Hoje, trata-se de tirar efeito ao jantar de quinta-feira, mostrando aos militantes do PPD que Albuquerque está praticamente fora do barco laranja. "Albuquerque demite-se da Fundação Social Democrata", anuncia o título com toda a convicção.
Ora, essa meia verdade posta lá pelo chefe Jardim resulta numa inteira mentira. Miguel Albuquerque não se demitiu da Fundação Social Democrata. Pediu sim, em três linhas de uma carta, que o substituíssem na direcção daquele organismo, por lhe faltar o tempo. Ora, essa ideia não está na manchete, só aparece depois nos caracteres pequenos.


Jardim no papel de presidente do CA
da Fundação Social Democrata. O buraco
de 7 milhões explica-se com o jeito
daquela gente para fazer contas.

Na interpretação que lhe convém, chefe Jardim, autor do texto sobre o assunto, que assina com as iniciais 'JM', pretende espalhar a ideia de que, com a 'demissão da Fundação' e os 'jantares de apoio', o edil Albuquerque agudiza cada vez mais a colisão que já provocou com a direcção do PSD. E aqui toda a gente vê outra distorsão da realidade: a colisão da linha municipal laranja é com o líder do PSD e não com a direcção do PSD. Meias verdades somadas não dão verdades.


Ressabiados e desempregados políticos


Antes desse texto delirante e surreal, os assíduos leitores do JM passam evidentemente a vista, sempre a fugir, sobre a vomição diária do chefe, na página 2. Os participantes no jantar são tratados hoje por "ressabiados" e futuros "desempregados políticos".
No artigo de fundo, o cronista J.M., aliás Alberto João Jardim, baseia-se no que tem sido "comentado na cidade", para denunciar que o jantar no Almirante foi organizado pelo chefe de gabinete da presidência da Câmara, Rui Abreu, e pelo vereador Pedro Calado, "com o pretexto do aniversário de Miguel Albuquerque". De facto, Albquerque fazia anos, mas no dia seguinte, sexta-feira, e não na quinta. E o político a quem era demonstrado apoio partidário até saiu do restaurante pelas 22h30, sem esperar pelas zero horas... 'início' do aniversário. Depois, para quem tem a superstição de que festejar de véspera dá muito azar...

Pedro Calado não está nas
boas graças do grande líder
O intimidativo aranzel de jornal, que mais parece uma redacção de segunda classe, o que por si só denuncia o autor, aponta para 70 o número de presentes no jantar do Almirante. 70 filiados e não filiados, diz o arrazoado. Ora, o número verdadeiro é 100. Todos filiados menos um dos convivas, que insistiu em participar nesse desafio ao grande chefe das Angústias.


As queixinhas do grande chefe


O desesperado artigo revela ainda que nos círculos social-democratas (Jardim e duas araras das Angústias) se sente "indignação pelo facto de, num momento tão difícil para a Madeira e a sua população, Miguel Albuquerque e um núcleo de militantes praticamente circunscrito ao concelho do Funchal, quase todos impedidos de reeleição nas próximas autárquicas, e vários funcionários da Câmara do Funchal, abrirem um processo que pretende dividir e derrotar o PSD/M por dentro".
Esta denúncia, destinada provavelmente a virar o povo contra o renegado autarca, tem prolongamento na referência proverbial às alianças anti-PPD do mesmo Miguel Albuquerque - e logo com Michael Blandy e seus meios de comunicação social! E ainda: "As pessoas (isto é, Jardim mais as duas araras) interrogam-se sobre que outras forças ocultas poderão estar por detrás deste processo, já que, dizem as pessoas, não passa pela cabeça de alguém com bom senso (não é o caso do grande chefe) que, um dia, os social-democratas possam entregar o partido aos seus principais adversários."

O articulista J.M. Jardim equaciona também incógnitas e variáveis do complexo sistema que nubla o espaço político regional, na área laranja. Por que raio Albuquerque e seus correligionários avançarão para o suicídio político do PPD? Será que, não podendo ser reeleitos, pretendem cair nos braços de outro partido? E lembra J.M. Jardim a presença do edil funchalense numa iniciativa política do PP o ano passado, durante a campanha eleitoral, "o que já então causou o maior repúdio nos social-democratas" (isto é, Jardim mais as duas avezinhas).


Simplício, Rubina Leal, ingratidões...


No prosseguimento da literatura de cordel deste sábado, pancada nos presidentes de junta de freguesia que jantaram com Miguel. Simplício Pestana, do Imaculado, leva com aquela de ser próximo do governo de Passos Coelho no tocante à extinção de freguesias, quando preside à associação regional das ditas freguesias. Depois, são os presidentes de junta que não podem ser reeleitos e então foram ao Almirante. O do Monte e o de Santo António foram lá embora possam continuar depois das próximas eleições, e isso é que embaraça o tal J.M. Jardim.

Rubina Leal queimou-se
por causa de um jantar. Ou
talvez tenha sido o contrário.
Rubina Leal também foi - denuncia o JM -, embora só chegasse para comer a sobremesa. E aqui os "meios social-democratas" (Jardim mais uma das duas araras, porque a outra não tem pachorra para continuar a ouvi-lo), esses meios "questionam o papel da vereadora Rubina Leal nisto tudo, pois ainda - ainda - é membro da Comissão Política Regional"... escolhida pelo próprio Jardim. Ingratidão!
Quanto a outros vereadores, "descartados" por Jardim da próxima lista concorrente ao Funchal, fervem de revolta, diz o texto do JM. Jardim a descartar nomes de uma lista municipal?!



Virgílio até o adversário Raimundo pôs na lista. E Bruno?


Aqui tem a palavra Bruno Pereira. O actual vice de Albuquerque foi inicialmente "descartado" de cabeça-de-lista para 2013 e repescado à pressa pelo chefe para evitar mais rombos no desaparafusado e ferrugento cargueiro laranja. Jardim escolheu uns e descartou outros? Então quem escolhe a equipa com quem vai trabalhar Bruno, se ganhar as eleições? (e sinceramente não nos parece, a menos que a oposição durma profundamente durante um ano e meio).




Virgílio 1993; Bruno 2013



Cabe aqui recordar que quando, em 1993, chefe Jardim foi ao Parlamento Europeu buscar Virgílio Pereira porque as eleições no Funchal cheiravam a esturro, foi Virgílio quem traçou nomes de candidatos, pelo menos até ao 7.º lugar. Convidou mesmo Raimundo Quintal, figura distante do PPD, e o chefe das Angústias, se acaso tugiu, foi muito baixinho.
Cabe a vez agora ao filho de Virgílio mostrar que tipo de líder municipal pretende ser. Colaborar no regresso ao tempo em que a Câmara era dirigida pelo telefone das Angústias?
Jardim a mandar na equipa é uma boa nova para a oposição, que nesse caso já pode começar a campanha eleitoral.

O escriba J.M. Jardim refere ainda nomes como o de Humberto Vasconcelos, ex-presidente de São Vicente, que esteve no jantar do Almirante e é conhecido como figura próxima do 'perigoso' Diário de Notícias. Eduardo Abreu, ex-IDE, e João Reis, ex-Portos, também foram lá comer, que o chefe tem as fotografias deles tiradas pelo repórter do JM.


Até as araras se cansaram


Falso, falso, é também o remate final da peça de J.M. Jardim: que da JSD actual apenas a derrotada nas últimas eleições dessa Jota, Rubina Berardo, esteve presente. Quem enfiou essa ao sr. rei? Se o chefe, à hora do jantar, em vez de andar desorientado às voltas pelo túnel que dá para os Barreiros e rotunda seguinte, e a descer à louca naquele bólide azul escuro para o lado da Sá Carneiro, e aparecesse na Zona Velha, aí poderia ver a excursão de jovens da sua Jota que do Almirante foram à Venda Velha tomar umas ponchas para digerir o jantar.
Assim como faz, ouvindo informações erradas e recorrendo à sua já cansada imaginação, há-de continuar a deparar-se todas as noites com angústia à mesa de jantar (o chefe sozinho, já sem nenhuma arara, porque as duas se fartaram definitivamente).
Pensando melhor, o ideal é sua excelência ficar quieto nas Angústias, a escrever memórias um bocado da noite. Na rua, começam a fervilhar velhos ódios. Sabemos de alguns saturados ex-apoiantes do ex-UI que só esperam o momento de um ataque pessoal da parte do dito-cujo para reagirem com medidas espectaculosas. Faça como quiser, sr. monarca das Angústias.



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