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sexta-feira, 9 de março de 2012

Cultura, Culturas

Peripécias e antecedentes de um museu que faz 30 anos



Vicente Gomes da Silva começou a fazer os seus primeiros retratos no Funchal em 1853 longe de prever o corrupio que mais de um século e meio depois animaria especialmente o meio cultural madeirense, em comemoração dos 30 anos do museu que serviria de prolongamento à sua carreira profissional e à dos seus descendentes.


Visitas guiadas ao museu e conferências alusivas concitam as atenções do público, a que têm aderido figuras de relevo ligadas à fotografia. Um dos pontos mais atraentes do vasto cartaz consiste numa rubrica chamada "À conversa com", alinhando-se à partida para as diversas sessões nomes de artistas do retrato como Amândio Ferreira, DDiArte (este sábado),Leonel Martinho de Nóbrega e ainda Duarte Gomes e Teresa Gonçalves, profissionais da imagem de um ponto de vista da reportagem.
As comemorações continuam pelo ano fora, incluindo exposições, programas especiais no Dia Internacional dos Museus e participação na Noite Europeia dos Museus, estes últimos dois em Maio.
A efeméride festejada situa-se no 22 de Março de 1982, data da inauguração do espaço museológico Photographia Museu "Vicentes" em que se transformou à época o antigo estúdio fotográfico "Photographia Vicente". Mas foi de meados do século XIX que partiu uma história cheia de peripécias e incidentes, triunfos e reveses, que a Directora do Museu conhece de cor e salteado. A Dra Helena Araújo, de resto descendente de famílias que se uniram à volta da linha do patriarca Vicente Gomes da Silva, ofereceu-me a honra de uma visita ao museu terça-feira de manhã, duas horas coloridas com a história e as histórias da marcante casa de fotografia. Mas, fora dos tópicos principais e das datas marcantes, esses devidamente registados no site do museu, há memórias de um pitoresco fascinante na posse da Dra Helena, de que os encontros e desencontros de Jorge Silva, João Garcês e Raul Perestrello não são as partes menos interessantes.
Jorge Silva descendia dos fundadores da Photographia Vicentes. João Garcês cresceu por ali, na Rua da Carreira, filho de uma empregada da casa, e aprendeu todas as artes da arte. A ponto de, com o seu amigo Jorge, atingir a chefia do estabelecimento.
Por essa altura, o sr. Vicente - assim era conhecido Jorge Silva, que não tinha Vicente no nome - recebia num pequeno estúdio voltado para a Av. Zarco a pequenada do Marítimo que precisava de tirar o retrato para o cartão de jogador. Foi o que me aconteceu, também: cheguei lá, vesti a camisola para o boneco a preto e branco e recebi a segunda lição sobre a responsabilidade que, apesar dos meus 13 anos, passava a pesar sobre mim, a de atleta de um clube glorioso, antigo Campeão de Portugal - assim perorava já nessa época "sr. Vicente da fotografia", que chegaria a sócio n.º 1 do clube verde-rubro. A primeira lição de maritimismo tinha sido pouco antes, pela oratória galvanizadora e ao mesmo tempo intimidatória do velho leão Adelino Rodrigues, na sede ao n.º 17 da Rua D. Carlos I.
"Se queres mesmo vestir a nossa camisola, pois tens primeiro de conhecer a história deste clube feito de heróicos homens do mar!"

De patrões a empregados

Voltando ao museu: segundo conta a Dra Helena Araújo, um impasse perigoso nos Vicentes retardou a conversão à fotografia a cores que se generalizava no Funchal. O negócio marcou passo enquanto Perestrellos, Figueira e outros progrediam tecnicamente. Os dois patrões - Jorge Silva e João Garcês - viram-se forçados a vender o negócio, o recheio do estabelecimento. E foi a jornalista açoriana Maria Mendonça, radicada no Funchal, a chamar a si a propriedade desses bens, em 1972. Tanto Jorge como João passaram de proprietários a empregados de Maria Mendonça.

A vida continuaria complicada para a Casa Vicentes. A jornalista açoriana precisou de se desfazer de uma parte do material de laboratório existente no rés-do-chão, peças historicamente valiosas, para usar o espaço no Restaurante "Pátio das Artes". Muito património da arte fotográfica desapareceu. Com as dificuldades acrescidas, foi o governo regional a comprar o recheio do estúdio de fotografia, em 1979, já com a ideia de avançar para um novo projecto.
"A 22 de março de 1982 - recorda o site do museu - abre ao público a Photographia – Museu “Vicentes” com o recheio do estúdio, que inclui cenários, máquinas fotográficas, livros relativos às técnicas fotográficas, mobiliário de “atelier”, cerca de 400 mil negativos datáveis entre 1870 e 1978 e que se encontram registados em 47 livros, constituindo uma riquíssima fonte histórica das atividades comerciais, de visitantes ilustres que passaram pela Ilha da Madeira e também, para o estudo de genealogias de Famílias Madeirenses."
"O sr. Jorge gosta de andar de pijama até às 11, o negócio tinha de dar nisto", gracejavam, na altura da venda inevitável à jornalista Maria Mendonça, os mais próximos do representante da quarta geração dos Vicentes, que veio a morrer em 2008.
Presentemente, a Dra Helena Araújo diligencia no sentido de garantir a qualidade de instalação do núcelo museológico bem como os espaços onde armazenar o espólio da Casa.
Grande satisfação da Directora ressalta da doação de acervos fotográficos nos últimos tempos a favor do museu. "Várias famílias mostram sensibilização para a conservação de patrimónios valiosos que nós temos condições de proporcionar, o que é muito bom para a Madeira em termos culturais", salienta Helena Araújo, feliz pelo facto de este ano já ter recebido duas dessas preciosas colecções.


- Reproduzimos abaixo as informações do Museu a propósito das comemorações em curso, com ponto alto dia 22:


Photographia Museu Vicentes assinala aniversário Photographia Museu Vicentes assinala aniversário
No dia 22 de março, a Photographia Museu Vicentes assinala 30 anos que abriu portas ao público. Até final deste ano estão previstas diversas atividades, de onde se destaca, já neste mês de março, a realização de um ciclo de conferências com fotógrafos com trabalho reconhecido e uma exposição, em suporte multimédia, sobre o percurso deste Museu ao longo de três décadas, intitulada “Conheça a Photographia-Museu ‘Vicentes’ ao longo dos seus 30 anos”.Com este vasto conjunto de iniciativas que se prolongam até dezembro de 2012, esta unidade museológica pretende um maior contacto com a comunidade mostrando, não só, a sua exposição permanente através das habituais visitas guiadas, mas também, dar a conhecer ao público o “trabalho de bastidores” que é feito ao longo de todo o ano. Esteja a par de todas a atividades através do portal da Photographia – Museu “Vicentes” em:Destaque Mensal
http://www.photographiamuseuvicentes.com.pt



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