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quarta-feira, 7 de março de 2012

Estilhaços de Madeira


Machadinho exilado na Fundação
mas pago pelo governo

Adjunto do chefe das Angústias durante décadas, Carlos Machado, popularmente conhecido por Machadinho, caiu em desgraça na consideração do chefe. Assim, de comissário dos comissários da maioria, foi posto há pouco tempo fora da equipa jardinista em serviço na presidência.
Carlos Machado era "os olhos e os ouvidos" do rei das Angústias, que o confirmava sem subterfúgios. Os nomes melhor situados no laranjal temiam-no, por saberem que uma palavra dele podia significar o adeus político do "artista", fosse ele quem fosse. O que chegou a verificar-se várias vezes, levando por exemplo a  depurações em aparelhos partidários locais -Machico, Ribeira Brava, Porto Santo.
O adjunto do chefão anunciava a sua chegada a qualquer concelho e a qualquer hora do dia ou da noite e imediatamente o presidente local mandava preparar o que preciso fosse para uma recepção a preceito. Tanto podia estar a chegar uma reprimenda presidencial como uma possibilidade de enviar, através do poderoso  visitante, um recado municipal ou partidário ao chefe supremo. As festas do Chão da Lagoa também dependiam muito do trabalho do homem, por delegação do secretariado-geral do PSD, chefiado por Jaime Ramos. Músico "queimado" no conceito de Machadinho  já podia tratar de arranjar lugar para actuar e receber cachet na Fonte do Bispo, ou seja, na festa do Partido Socialista.
O comissário dos comissários está no purgatório, mas as
supostas ligações perigosas tramaram-no sem remição.
Nos anos 80 e 90, a oposição fartou-se de apresentar denúncias sobre as influências do aparelho social-democrata em toda a Região, inclusive nos concursos abertos para as grandes obras. Estava tudo viciado à partida para que as adjudicações só bafejassem os empresários ligados ao regime - eis o que se pode reler em declarações reproduzidas nos diários da Assembleia e nos arquivos da imprensa. Os nomes da máquina laranja eram soprados por esquinas e corredores da política regional como intérpretes das hipotéticas falcatruas. Mas muitos desses exercícios delatórios resultaram em processos de tribunal, berbicacho embaraçoso para os denunciantes que dificilmente conseguiriam provas no hermetismo do sistema montado.
Ultimamente, notou-se o afastamento de Carlos Machado de um lugar que lhe parecia destinado até à despedida do grande chefe. Esvaziou as gavetas do seu gabinete nas Angústias e foi colocado ao serviço da Fundação Social Democrata. Com altos dirigentes do próprio partido maioritário a garantir que o chefe do governo desatinou com novidades chegadas
à sua secretária sobre estranhas  ligações de Machadinho a negócios no público-privado. Esses altos dirigentes referem mesmo um empreendimento na Rua do Carmo a que Machado estaria ligado. Mas obviamente que ninguém pôs as provas a circular na praça, se é que existem.
Certo, certo é que Machadinho foi posto a mexer da Quinta das Angústias, de cuja mobília já fazia parte. Certo, certo é que ele trabalha para a Fundação laranja. Mais do que certo é que são os contribuintes a pagar honorários a um adjunto da presidência do governo para ele passar o tempo no fórum de São Martinho e na Rua dos Netos, se é que sequer ainda aparece por lá.
O presidente tem a prerrogativa de nomear adjuntos sem a obrigação de eles assentarem arraiais na presidência. No caso, há legalidade, pois. Mas também uma gritante imoralidade: o pagamento público para serviço privado.

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