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quarta-feira, 7 de março de 2012

Politicando


Que tal ficarem em Lisboa
com o chefe das Angústias?
Durante décadas, muito boa gente do Continente acusou os jornalistas da Madeira de subserviência perante o chefe da política ilhoa. Que seriam os profissionais da informação insular a dar importância ao caudilho das Angústias, ouvindo-o sobre todos os assuntos e mais um, e por essa via promovendo-o junto do eleitorado.
A situação clarificou-se um bocado com o tempo, grande mestre da vida. Hoje, pelo contrário, são os media continentais a propagandear todos os espirros do "sua excelência" da espetada e do vinho seco.

Ainda na tarde desta terça-feira, assistiu-se a uma verdadeira orgia de declarações do homem naquela capital desenvolvida. Caçado à entrada para o lançamento do livro sobre autonomia redigido pelo dr. Bacelar Gouveia, provavelmente homenagem do constitucionalista a um tema que tanto dinheiro lhe permitiu ganhar, ora à vista, ora mais discretamente, apanhado, pois, pela pinha de microfones à entrada para a cerimónia, chefe das Angústias foi interrogado sobre temas que não lembravam ao diabo. E, como se sabe, o falastrão bota opiniões sobre qualquer coisa, como o Nuno Rogeiro, sem recurso a tortura. Recorde-se que tempos houve em que os treinadores do Marítimo não faziam a linha sem saber se na semana do jogo o chefe dos subsídios vogava numa onda atacante ou se, pelo contrário, apostava mais na contenção de bola com circulação à volta do eixo maior do losango.
Hoje, portanto, o homem respondeu à questão da autonomia, para dizer que ela depende da capacidade financeira da Madeira. Olha que não tínhamos reparado na ligação.

De orçamento percebe o povo

Perguntaram-lhe também se os madeirenses reagiam bem ou mal ao orçamento apertado que Ventura Garcês apresentou - ou gaguejou, mais exactamente. E grande chefe arrasou a comunicação social nacional: Qual reacção?! O povo madeirense está muito bem informado sobre o orçamento regional, aqui no Continente é que o povo anda aos papéis com o seu.
Também não foi nada de novo, deixem que vos diga. Venham cá os colegas jornalistas continentais - pode ser por altura da visita da Merkel, para evitar duplicação de despesas - e verão se não é de orçamentos que fala o nosso povo nas tascas, à mesa da sopa do Cardoso, nas bichas do hospital e no Desemprego. Aquilo é discussão a respeito do equilíbrio orçamental no primeiro semestre, críticas ao critério de prioridades nos cortes na coluna da despesa, acusações de falta de coragem do secretário das Finanças nos planos da receita, comparações acaloradas entre as dotações para a cultura, para o futebol e para o bispo/Jornal da Madeira. Aliás, se o chefe ouvisse mais o povo, outro galo cantaria no trágico défice da Madeira, tanto financeiro como democrático.
Os companheiros jornalistas em serviço na cerimónia do livro quiseram mesmo conhecer a opinião do soba madeirense a respeito da briga que anda no governo a ver quem tem poderes para destinar mais dinheiro, se Vítor Gaspar se Álvaro Santos Pereira - concretamente na gestão de fundos da QREN. E que havia de responder o soba das ilhas? Que essa pseudo-divergência não passa de uma guerra do alecrim e da manjerona. Que queriam que o homem dissesse? Depois de inventar dissidências no governo entre o PSD e o PP, para ser notícia, haveria agora de partilhar atenções com a discussãozinha do Gaspar com o Álvaro!
Colegas do Continente! Que tal aguentarem por aí mais uns tempos o rei das araras? Acredito que, dado o cinzentismo do governo e da oposição nacionais, reflectido nas páginas políticas e nos telejornais, talvez ele colorisse a pílula, nem que tivesse de trajar carnaval todos os dias, no que é perito.


Fiquem com ele, pode ser que percebam de uma vez o que realmente por aqui se passou durante 30 anos.

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