Que tal ficarem em Lisboa
com o chefe das Angústias?
Durante décadas, muito boa gente do Continente acusou os jornalistas da
Madeira de subserviência perante o chefe da política ilhoa. Que seriam os
profissionais da informação insular a dar importância ao caudilho das
Angústias, ouvindo-o sobre todos os assuntos e mais um, e por essa via promovendo-o
junto do eleitorado.
A situação clarificou-se um bocado com o tempo, grande mestre da vida.
Hoje, pelo contrário, são os media continentais a propagandear todos os
espirros do "sua excelência" da espetada e do vinho seco.
Ainda na
tarde desta terça-feira, assistiu-se a uma verdadeira orgia de declarações do
homem naquela capital desenvolvida. Caçado à entrada para o lançamento do livro
sobre autonomia redigido pelo dr. Bacelar Gouveia, provavelmente homenagem do
constitucionalista a um tema que tanto dinheiro lhe permitiu ganhar, ora à
vista, ora mais discretamente, apanhado, pois, pela pinha de microfones à
entrada para a cerimónia, chefe das Angústias foi interrogado sobre temas que
não lembravam ao diabo. E, como se sabe, o falastrão bota opiniões sobre
qualquer coisa, como o Nuno Rogeiro, sem recurso a tortura. Recorde-se que tempos
houve em que os treinadores do Marítimo não faziam a linha sem saber se na
semana do jogo o chefe dos subsídios vogava numa onda atacante ou se, pelo
contrário, apostava mais na contenção de bola com circulação à volta do eixo
maior do losango.
Hoje, portanto, o homem respondeu à questão da autonomia, para dizer que
ela depende da capacidade financeira da Madeira. Olha que não tínhamos reparado
na ligação.
De orçamento percebe o povo
Perguntaram-lhe também se os madeirenses reagiam bem ou mal ao orçamento apertado que Ventura Garcês apresentou - ou gaguejou, mais exactamente. E grande chefe arrasou a comunicação social nacional: Qual reacção?! O povo madeirense está muito bem informado sobre o orçamento regional, aqui no Continente é que o povo anda aos papéis com o seu.
Também não foi nada de novo, deixem que vos diga. Venham cá os colegas
jornalistas continentais - pode ser por altura da visita da Merkel, para evitar
duplicação de despesas - e verão se não é de orçamentos que fala o nosso povo
nas tascas, à mesa da sopa do Cardoso, nas bichas do hospital e no Desemprego.
Aquilo é discussão a respeito do equilíbrio orçamental no primeiro semestre,
críticas ao critério de prioridades nos cortes na coluna da despesa, acusações
de falta de coragem do secretário das Finanças nos planos da receita,
comparações acaloradas entre as dotações para a cultura, para o futebol e para
o bispo/Jornal da Madeira. Aliás, se o chefe ouvisse mais o povo, outro galo
cantaria no trágico défice da Madeira, tanto financeiro como democrático.
Os companheiros jornalistas em serviço na cerimónia do livro quiseram
mesmo conhecer a opinião do soba madeirense a respeito da briga que anda no
governo a ver quem tem poderes para destinar mais dinheiro, se Vítor Gaspar se
Álvaro Santos Pereira - concretamente na gestão de fundos da QREN. E que havia
de responder o soba das ilhas? Que essa pseudo-divergência não passa de uma
guerra do alecrim e da manjerona. Que queriam que o homem dissesse? Depois de
inventar dissidências no governo entre o PSD e o PP, para ser notícia, haveria agora
de partilhar atenções com a discussãozinha do Gaspar com o Álvaro!
Colegas do Continente! Que tal aguentarem por aí mais uns tempos o rei
das araras? Acredito que, dado o cinzentismo do governo e da oposição
nacionais, reflectido nas páginas políticas e nos telejornais, talvez ele
colorisse a pílula, nem que tivesse de trajar carnaval todos os dias, no que é
perito.
Fiquem com ele, pode ser que percebam de uma vez o que realmente por aqui se passou durante 30 anos.
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