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sábado, 10 de março de 2012

Política das Angústias

Os trogloditas do laranjal e o conceito de lealdade

O carnavalesco rei das Angústias, ainda chefe da Madeira na opinião de alguns saudosistas do desenvolvimentismo para vilões, saiu a terreiro, como se esperava, para cavalgar o reboque de Cavaco Silva nos novos ataques a José Sócrates, tipicamente soezes e cobardes porque pelas costas e a destempo.
A imprensa tem falado no livro "Roteiros VI", em cujo prefácio podemos ver o "homem do leme", o tal que se instalou em Belém por falta de comparência de candidatos competentes, regougar acusações ao ex-líder do PS e do governo lisboeta como, entre outros pecados de lesa-Pátria, tendo feito "ouvidos de mercador" aos conselhos que lhe chegavam do Chefe do Estado e de se guiar por "interesses de ocasião". E mais: "A falta de lealdade [de Sócrates] ficará na história da democracia", como titula o "Sol" de ontem, citando Cavaco.
Pós-20 de Fevereiro: um dos raros momentos em que Sócrates foi leal,
na óptica de sua excelência o sr. rei das Angústias, aqui todo simpatia.
Automaticamente, o rei das Angústias, nas suas andanças de alma penada que ontem o levaram até à Ponta do Sol, e porque se mete em tudo, seja ou não chamado, desatou a comentar o mavioso escrito do Sr. Silva. Pondo em evidência, como relata o Diário de Notícias, a parte do livro em que é referida a forma violenta com que, no entender de ambos os trogloditas do laranjal, José Sócrates dialogava com a oposição.
Sua excelência o sr. rei da Angústias bem melhor andaria se levasse técnicos abalizados e não os corifeus do costume arvorados em ambientalistas, para verificar 'in loco' o estado da ribeira da Ponta do Sol. Essa ribeira, na opinião preocupada dos verdadeiramente entendidos, como o Prof. Raimundo Quintal, ameaça a vila como um "barril de pólvora".
Todavia, porque a ideia destas "acções políticas" de sua excelência visa mostrar que o homem está vivo e capaz de provar o vinho da região, resolveu então pegar nas palavras de Cavaco para dar mais credibilidade à tese de que Sócrates foi o diabo na Terra e que a bancarrota que se desenha na Região a ele se deve.

O cara-de-pau da Figueira

Cavaco a falar de diálogo com a oposição dá-nos uma vontade irresistível de gargalhar o resto deste sábado. No fim-de-semana em que foi do Boliqueime à Figueira para rodar o calhambeque e de lá voltou investido na liderança do PSD, sem saber ler nem escrever, o seu diálogo foi passar meses sem se apresentar a ninguém. E na primeira entrevista que deu à TV, falou não sei quanto tempo sem olhar uma só vez para o jornalista que lhe punha as perguntas.
De diálogo fala hoje o homem que dizia nunca se enganar e raramente ter dúvidas. Que não lia jornais. Que dialogava grunhidos com a boca cheia de bolo rei, causando engulhos aos de estômago fraco. Que tomava pequeno almoço no Porto à frente das câmaras para mostrar vida no país em dia de greve geral, e assim achincalhar os trabalhadores em luta que lhe pagavam (e ainda pagam) o vencimento.
Falta de diálogo? Sócrates teve os seus defeitos, como todos os seres vivos. Mas assim aparecesse no hemiciclo de S. Bento, em directo perante o país, o cara-de-pau do Cavaco nos seus famigerados tempos de primeiro-ministro, assim lá comparecesse uma centésima parte das vezes em que Sócrates o fez, perante as feras da democracia. Os debates governo-parlamento passaram a quinzenais com ele, Sócrates, para quem não se recorde.
Sócrates tem responsabilidades na situação actual do país? Claro. Mas também recebeu Portugal no estado que muitos fazem por esquecer. E de onde vinha tal decrepitude? Vinha precisamente daqueles 10 anos de cavaquismo, de loucuras atrás de loucuras à conta dos rios de dinheiro que chegavam da União Europeia, ao Continente e às ilhas, espatifados a rodos para esta geração de hoje pagar.
Aliás, depois de uma década estonteante, Cavaco sr. Silva criou aquele seu tabu para preparar a saída "à francesa", deixando o país na mais atroz miséria, tal como o seu próprio partido, que logo a seguir apanhou valente derrota às mãos do PS e de Guterres.
A falta de lealdade do ex-primeiro-ministro Sócrates ficará na história da democracia - diz o troglodita de Belém, sem esquecer os "interesses de ocasião" do visado. O ex-primeiro-ministro socialista, é verdade, vem acusado num processo ou noutro. Mas não por receber favores do BPN. Ou por queixas de reformas pessoais baixas que humilham ainda mais o povo desempregado e que passa fome. 
E a lealdade cavaquista aos madeirenses que são tão portugueses como os demais? Sócrates veio cá solidarizar-se com o povo atingido pela brutalidade do 20 de Fevereiro. Cavaco veio cá elogiar a "qualidade superior" da democracia na Madeira e o "nível incomparável da obra feita". Ou seja, veio, como Presidente da República, promulgar a legitimidade de sua excelência o aprendiz de ditador regional, veio incitá-lo a enxovalhar ainda mais os madeirenses que não se vergam perante o da Quinta das Angústias, veio dizer-lhe que faz bem em tentar fechar o Diário de Notícias para lhe castigar a independência. Veio dizer ao "bojardas da Quinta":  continue, sim senhor, a jogar obra de alcatrão e massa para cimentar a inteligência destes "otários". É esta a lealdade do Presidente da República para com um povo que em parte, desgraçadamente, votou nele.

Cacique envernizado

E o rei das Angústias? Para tal cacique de verniz falsificado, lealdade consiste em agir conforme lhe dá na gana, ora chamando "maricas", "exótico" ou "ladrão" a um adversário, ora recebendo-o com honras de paxá das Turquias... para voltar a chamar-lhe nomes quando a vítima já estiver no ar, a voar para "Cuba".
Bom, escuso de perder tempo recordando as contradições do seu discurso. Até porque, tão obsessivo na autocontemplação, basta pôr-lhe um espelho à frente quando ele desfia os defeitos de Sócrates.
Quem tem culpa da tragicomédia que somos todos obrigados a sofrer? O povo, o eleitorado que apanha com o gozo do maniqueísta soba das Angústias em cima, que lhe dá o voto sabendo que ele continuará, no papel de árbitro e jogador, a vilipendiar conterrâneos que não se agacham. Tal como procede com a imprensa empenhada em fazer o seu trabalho à luz do estatuto editorial próprio e não segundo os ditames da teoria escatológica plasmada todos os meses no "Madeira Livre".

(Foto DN-Lisboa)


1 comentário:

Anónimo disse...

O "Rei" da Madeira ficou a "ver navios" à espera dos médicos para o comes e bebes na Herdade....O Rei ficou com azia.....