Récita do orçamento: peguem no jackpot e vão jogar às máquinas!
Sobe ao palco nesta terça-feira nova sequela da
récita tragicómica eufemisticamente intitulada "debate do orçamento regional
da Madeira", representação anual com muitos créditos registados. O
espectáculo ficará em cartaz pelo menos três dias e contará com algum público,
apesar do final já conhecidíssimo: aprovação integral do texto em discussão
pelos verdadeiros autonomistas superiormente comandados pelo inefável Jaime
Ramos e chumbo impiedoso das propostas malevolamente apresentadas com dois ou
mais sentidos pelos maus da fita normalmente acantonados na zona reservada à
oposição, de costas para as câmaras de TV.
A maioria contará com intérpretes do calibre de
um Coito Pita e de um Savino Correia, entre outros tragicomediantes de valor firmado
que representarão descontraidamente os respectivos papéis com toda a confiança
no ponto das Angústias, de serviço neste período para segredar o que o elenco
da maioria deve dizer conforme o andamento da peça.
Falava em eufemismo porque
a nova farsada serve apenas para justificar os milhões gastos anualmente com um
parlamento inútil. De facto quase ninguém liga patavina a esta já requentada récita que os
actores e a imprensa, por graça, costuma chamar de "debate orçamental".
Dali não sai nada de
novo. A regra da democracia é isso: quem ganha as eleições fica com o direito de
governar e de beneficiar da maioria de deputados. Mas... 30 e não sei quantos
anos de debates orçamentais (para não falar nas restantes sessões) sem ser aprovada uma alteração
proposta pelas minorias?! Debate para quê?! Não gozem com o bolso roto da população.
O embaixador da Roménia veio vincar a legitimidade democrática do rei das Angústias. Provavelmente matou saudades de Ceausescu. (Foto presidência) |
Para unanimismo já
chegam as reuniões partidárias do sr. "rei das Angústias", que leva
as conclusões escritas para os conselheiros robots dizerem que sim quando para isso
recebem ordem.
Despesas parlamentares com
electricidade, telefones, pessoal, beberetes, papel, deslocações com visitas do
sr. presidente às escolas (em carro preto, como observou Este Planeta do DN),
mais subsídios disto e daquilo... Melhor fariam os cavalheiros deputados se
pegassem no jackpot e fossem para o casino jogar às máquinas em vez de abrir a
Assembleia para falar de orçamentos. Com um pouco de sorte,
quem sabe, ganhariam qualquer coisa na roleta ou nas slot machines e aliviariam os cofres do erário.
Nem a dupla crise que
afecta todos os madeirenses - a crise global e a crise decorrente do descalabro
financeiro regional de 30 anos com dívida escondida - trava tanto disparate. Os
senhores do laranjal brincam com coisas sérias, como sói dizer-se. Enquanto o
hilariante representante da República sonha com um lugarzinho na tribuna da
Festa da Flor e o bispo justifica sem jeito a sua presença nas inaugurações (agora
de becos e tasquinhas), ao som dos sermões do rei das Angústias nos adros, ouvem-se
alertas pungentes de madeirenses responsáveis justificadamente preocupados com
a direcção perigosa dos destinos regionais.
Padre José Luís condena gastos em ramboiadas
Enquanto D. António
papagueia generalidades para preencher o seu desfile na procissão do Senhor dos Passos e animar os
ambientes inauguracionistas com bolo do caco, espetada e muito vinho, temos a
voz inquieta do padre José Luís Rodrigues a criticar os políticos autores do
descalabro das dívidas e a pedir aos responsáveis que acabem com as
"festas e ramboiadas". O padre de São Roque não prestava declarações
ao "Avante", se é isso que pensarão os corifeus da maioria. Falava
diante do microfone da Renascença, ou seja, da estação católica portuguesa.
Pois nessa emissora o padre José Luís acaba de fazer uma contundente denúncia: na Região há
famílias a passar fome, idosos abandonados à sua solidão e famílias inteiras no
desemprego. E daí as suas palavras profundamente preocupadas face ao
que está para chegar com as novas medidas de austeridade, como será
evidentemente o aumento do IVA sobre os bens de primeira necessidade.
Enquanto a total
irresponsabilidade do "rei das Angústias", a quem alguns ironicamente
chamam presidente do governo regional, o faz dizer, no meio das festanças que
ainda se atreve a promover pelo campo, que os madeirenses devem encarar o
futuro "com alegria", em vez de andarem por aí a "cramar", sucedem-se
pedidos oportuníssimos dos poucos madeirenses sem receio de oferecer a cara no
combate em defesa deste povo matreiro que por um prato de lentilhas cavou a sua
desgraça, votando invariavelmente no subsídio e no favor. Tracem urgentemente planos de apoio às famílias mais pobres, que são
cada vez mais, e parem com os gastos em festas como andaram a fazer no passado
- grita o padre José Luís Rodrigues, que relativamente às sessões do orçamento
que se iniciam esta terça-feira apela: além dos apoios directos às famílias, o
governo "deveria também
reduzir em tudo o que são actividades lúdicas, tipo festas e ramboiadas, que
até agora os orçamentos regionais privilegiavam - acabar com tudo isso, ainda
mais para dar o exemplo, e gastar o dinheiro naquilo que é estritamente
necessário."
A Rádio Renascença transmitiu em som bem audível as duras mas justas
acusações do sacerdote madeirense àqueles que enganaram tantos anos um povo hoje
mergulhado no desencanto: "O Governo de Alberto João Jardim não tem
autoridade para aplicar este orçamento. Como é que pode ter agora o desplante
de pedir sacrifícios e apresentar-se como o salvador da pátria? Primeiro, eles não
têm autoridade, porque sempre nadaram em dinheiro, esbanjaram tudo quanto
puderam, levaram isto tudo ao descalabro de dívidas.”
Também Victor Freitas, presidente do PS-Madeira, vem de propor um recuo da
proposta orçamental de modo a que sejam concedidos apoios às famílias em situação
delicada, que são em número galopantemente crescente.O orçamento deve ser
rectificado à luz de nova filosofia para que não fiquem famílias para trás -
disse Victor Freitas. Mas julgamos que "pregou no deserto", como acontece ao resto da Oposição.
Qual apoio a famílias pobres! O orçamento prevê dinheiro, e bom (6 milhões de euros) para
festas de promoção turística que afinal não trazem ninguém à Madeira. Para não
falar de outros disparates de que não se pode excluir a fortuna para um jornal
que bem podia subsistir por si próprio, sem a tutela de quem o quer utilizar
partidariamente sustentando-o com dinheiro de todos nós.
Orçamento rigoroso: este dinheiro rigorosamente para adjudicações ao AFA,
mais este rigorosamente para o jornal...
Da sua parte, o "rei das Angústias" faz voar a sua arrogância irresponsável
e descabida com ameaças a Lisboa. Deixem a gente equilibrar estas finanças e em
2015 verão o que vos acontece: rua com a bandeira portuguesa da Madeira, diz
ele, mais palavra menos palavra, julgando erradamente que manda nisto até esse ponto.
Veja-se: ao mesmo tempo que anda pelos adros e reuniões partidárias a perorar sobre a
sucessão, por outro lado já fala de projectos para depois de 2015. O catavento
do costume que nos deixa sem paciência para aturar mais senilidades como aquela
de que os orçamentos sempre foram rigorosos. Ou melhor, até foram rigorosos:
este balúrdio vai rigorosamente para pagar adjudicações a este compadre, mais
este dinheiro ai rigorosamente para o JM, mais aquele que tem de chegar rigorosamente à
igreja do sr., bispo...
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