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terça-feira, 13 de março de 2012

Politicando


Récita do orçamento: peguem no jackpot e vão jogar às máquinas!


Sobe ao palco nesta terça-feira nova sequela da récita tragicómica eufemisticamente intitulada "debate do orçamento regional da Madeira", representação anual com muitos créditos registados. O espectáculo ficará em cartaz pelo menos três dias e contará com algum público, apesar do final já conhecidíssimo: aprovação integral do texto em discussão pelos verdadeiros autonomistas superiormente comandados pelo inefável Jaime Ramos e chumbo impiedoso das propostas malevolamente apresentadas com dois ou mais sentidos pelos maus da fita normalmente acantonados na zona reservada à oposição, de costas para as câmaras de TV.
A maioria contará com intérpretes do calibre de um Coito Pita e de um Savino Correia, entre outros tragicomediantes de valor firmado que representarão descontraidamente os respectivos papéis com toda a confiança no ponto das Angústias, de serviço neste período para segredar o que o elenco da maioria deve dizer conforme o andamento da peça.
Falava em eufemismo porque a nova farsada serve apenas para justificar os milhões gastos anualmente com um parlamento inútil. De facto quase ninguém liga patavina a esta já requentada récita que os actores e a imprensa, por graça, costuma chamar de "debate orçamental".
Dali não sai nada de novo. A regra da democracia é isso: quem ganha as eleições fica com o direito de governar e de beneficiar da maioria de deputados. Mas... 30 e não sei quantos anos de debates orçamentais (para não falar nas restantes sessões) sem ser aprovada uma alteração proposta pelas minorias?! Debate para quê?! Não gozem com o bolso roto da população.
O embaixador da Roménia veio vincar a legitimidade democrática do rei das Angústias.
Provavelmente matou saudades de Ceausescu. (Foto presidência)
Para unanimismo já chegam as reuniões partidárias do sr. "rei das Angústias", que leva as conclusões escritas para os conselheiros robots dizerem que sim quando para isso recebem ordem.
Despesas parlamentares com electricidade, telefones, pessoal, beberetes, papel, deslocações com visitas do sr. presidente às escolas (em carro preto, como observou Este Planeta do DN), mais subsídios disto e daquilo... Melhor fariam os cavalheiros deputados se pegassem no jackpot e fossem para o casino jogar às máquinas em vez de abrir a Assembleia para falar de orçamentos. Com um pouco de sorte, quem sabe, ganhariam qualquer coisa na roleta ou nas slot machines e aliviariam os cofres do erário.
Nem a dupla crise que afecta todos os madeirenses - a crise global e a crise decorrente do descalabro financeiro regional de 30 anos com dívida escondida - trava tanto disparate. Os senhores do laranjal brincam com coisas sérias, como sói dizer-se. Enquanto o hilariante representante da República sonha com um lugarzinho na tribuna da Festa da Flor e o bispo justifica sem jeito a sua presença nas inaugurações (agora de becos e tasquinhas), ao som dos sermões do rei das Angústias nos adros, ouvem-se alertas pungentes de madeirenses responsáveis justificadamente preocupados com a direcção perigosa dos destinos regionais.
Padre José Luís condena gastos em ramboiadas

Enquanto D. António papagueia generalidades para preencher o seu desfile na procissão do Senhor dos Passos e animar os ambientes inauguracionistas com bolo do caco, espetada e muito vinho, temos a voz inquieta do padre José Luís Rodrigues a criticar os políticos autores do descalabro das dívidas e a pedir aos responsáveis que acabem com as "festas e ramboiadas". O padre de São Roque não prestava declarações ao "Avante", se é isso que pensarão os corifeus da maioria. Falava diante do microfone da Renascença, ou seja, da estação católica portuguesa. Pois nessa emissora o  padre José Luís acaba de fazer uma contundente denúncia: na Região há famílias a passar fome, idosos abandonados à sua solidão e famílias inteiras no desemprego. E daí as suas palavras profundamente preocupadas face ao que está para chegar com as novas medidas de austeridade, como será evidentemente o aumento do IVA sobre os bens de primeira necessidade.
Enquanto a total irresponsabilidade do "rei das Angústias", a quem alguns ironicamente chamam presidente do governo regional, o faz dizer, no meio das festanças que ainda se atreve a promover pelo campo, que os madeirenses devem encarar o futuro "com alegria", em vez de andarem por aí a "cramar", sucedem-se pedidos oportuníssimos dos poucos madeirenses sem receio de oferecer a cara no combate em defesa deste povo matreiro que por um prato de lentilhas cavou a sua desgraça, votando invariavelmente no subsídio e no favor. Tracem urgentemente planos de apoio às famílias mais pobres, que são cada vez mais, e parem com os gastos em festas como andaram a fazer no passado - grita o padre José Luís Rodrigues, que relativamente às sessões do orçamento que se iniciam esta terça-feira apela: além dos apoios directos às famílias, o governo "deveria também reduzir em tudo o que são actividades lúdicas, tipo festas e ramboiadas, que até agora os orçamentos regionais privilegiavam - acabar com tudo isso, ainda mais para dar o exemplo, e gastar o dinheiro naquilo que é estritamente necessário."
A Rádio Renascença transmitiu em som bem audível as duras mas justas acusações do sacerdote madeirense àqueles que enganaram tantos anos um povo hoje mergulhado no desencanto: "O Governo de Alberto João Jardim não tem autoridade para aplicar este orçamento. Como é que pode ter agora o desplante de pedir sacrifícios e apresentar-se como o salvador da pátria? Primeiro, eles não têm autoridade, porque sempre nadaram em dinheiro, esbanjaram tudo quanto puderam, levaram isto tudo ao descalabro de dívidas.”
Também Victor Freitas, presidente do PS-Madeira, vem de propor um recuo da proposta orçamental de modo a que sejam concedidos apoios às famílias em situação delicada, que são em número galopantemente crescente.O orçamento deve ser rectificado à luz de nova filosofia para que não fiquem famílias para trás - disse Victor Freitas. Mas julgamos que "pregou no deserto", como acontece ao resto da Oposição.
Qual apoio a famílias pobres! O orçamento prevê dinheiro, e bom (6 milhões de euros) para festas de promoção turística que afinal não trazem ninguém à Madeira. Para não falar de outros disparates de que não se pode excluir a fortuna para um jornal que bem podia subsistir por si próprio, sem a tutela de quem o quer utilizar partidariamente sustentando-o com dinheiro de todos nós. 

Orçamento rigoroso: este dinheiro rigorosamente para adjudicações ao AFA, mais este rigorosamente para o jornal... 

Da sua parte, o "rei das Angústias" faz voar a sua arrogância irresponsável e descabida com ameaças a Lisboa. Deixem a gente equilibrar estas finanças e em 2015 verão o que vos acontece: rua com a bandeira portuguesa da Madeira, diz ele, mais palavra menos palavra, julgando erradamente que manda nisto até esse ponto. Veja-se: ao mesmo tempo que anda pelos adros e reuniões partidárias a perorar sobre a sucessão, por outro lado já fala de projectos para depois de 2015. O catavento do costume que nos deixa sem paciência para aturar mais senilidades como aquela de que os orçamentos sempre foram rigorosos. Ou melhor, até foram rigorosos: este balúrdio vai rigorosamente para pagar adjudicações a este compadre, mais este dinheiro ai rigorosamente para o JM, mais aquele que tem de chegar rigorosamente à igreja do sr., bispo...

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