albuquerque assume-se e decide
avançar à conquista do
psd-m
A candidatura só depende de 100 assinaturas. |
O presidente
da Câmara do Funchal apresentará candidatura à liderança do
PSD-M nas próximas eleições internas. No momento presente, os mais próximos de Miguel Albuquerque têm como
certo que a comparência à luta contra João Cunha e Silva ou mesmo contra
Alberto João Jardim só está pendente de conseguirem ou não as assinaturas de cem filiados com coragem para subscrever as listas a elaborar por Albuquerque destinadas à comissão política e ao secretariado regional do partido.
A
movimentação na ala municipal laranja responde assim à retoma do tema sucessão
pelo próprio líder Jardim, nas suas declarações públicas mais recentes. Mesmo
nos adros da igrejas, Jardim alerta os militantes social-democratas para os
perigos de haver uma má escolha do seu sucessor. Mais objectivamente, o actual
líder quer significar que o voto nas eleições internas deverá contemplar Cunha
e Silva, seu vice no governo regional, e não Miguel Albuquerque, presidente da
câmara da capital madeirense, de cor laranja mas em completo divórcio com o
executivo centralizado na Quinta Vigia.
Jardim faz
constar que a sucessão deve ocorrer em clima de consenso interno e calcula que
90% apoiam a sua tese de que a unidade só será possível com o partido em peso à
volta de Cunha e Silva. O panorama, contudo, continua a evoluir de modo a
tornar mais discutíveis os intentos do actual chefe. Mesmo entre as figuras
mais conhecidas do partido, outrora incondicionais de Jardim, há discordância
nessa matéria, com críticas cada vez mais audíveis a condenar a
"guerra" que o governo regional teima em conservar bem viva com
Miguel Albuquerque e a sua equipa autárquica. "A que título se pode
compreender que o presidente da principal câmara da Madeira, já com eleições
ganhas, tenha sido afastado das listas para a comissão política regional (CPR)
do seu partido?", interroga um barão laranja que já confiou muito mais na
liderança do chefe.
A verdade é
que Miguel Albuquerque, a quem Jardim não deu assento na CPR, também recusou o
lugar de presidente do conselho de jurisdição. Hoje, diz-se nos paços do concelho que se
tratou de uma resposta ao afastamento da CPR, mas ainda mais à insatisfação de Albuquerque
perante a linha político-partidária delineada na altura por Jardim, que era precisamente a que já vinha
de trás, de há 30 anos, e sem qualquer indício de renovação.
Guerra de compadres
Para alguns,
o desagrado que Jardim não esconde para com Albuquerque nasceu no dia em que o
presidente da Câmara mandou travar a construção de uma casa pertencente a
familiares de alguém graúdo no PSD e no governo, dadas as ilegalidades na execução do projecto.
Mas no âmago da linha miguelista considera-se que esse caso foi ultrapassado
sem deixar feridas incicatrizáveis. O clima de desentendimento decorre, sim, da
entrada de Cunha e Silva para o governo, em 2000.
"Ele
queixava-se de correr com um Fiat 600 contra o Ferrari do Miguel", lembra
um apoiante do edil n.º 1 da Câmara. "Pois o presidente deu-lhe um carrão
e logo na primeira curva o piloto espatifou-se deixando a máquina sem conserto,
e daí para cá são erros atrás de erros. Parece que à sua conta já lá vão 3,3
mil milhões de euros arruinados aos cofres da Região."
Miguel
Albuquerque pretende levar por diante a sua candidatura precisamente para pôr
cobro às velhas políticas em vigor na Madeira, quer no seio do maioritário PSD,
quer no estilo da governação jardinista, para o qual já tem idealizadas alternativas.
No círculo
político de Miguel Albuquerque, dizem perceber o jogo que o líder Jardim costuma fazer,
usando a situação aparentemente fragilizada do edil, impossibilitado de se
recandidatar por limitação de mandatos. Mas, além de rejeitarem a ideia comum
de que será Pedro Passos Coelho a dar "emprego" ao social-democrata
madeirense, assumem que o seu mentor e já antigo delfim laranja dispõe de
opções de vida que o dispensam de recorrer a quem quer que seja.
"Mas a prioridade
consiste na candidatura ao partido, assim consigamos as cem assinaturas",
vinca um apoiante de Miguel Albuquerque, reconhecendo no entanto que essa não
será tarefa muito fácil, dados os receios generalizados de contrariar os
intentos do líder.
Se por acaso
não voltar a candidatar-se em 2015 para dar continuidade ao seu objectivo de
vida, que é "mandar e mandar" - como apontam oposicionistas -, o actual líder naturalmente dará todo o seu apoio
ao vice João Cunha e Silva e afastará com toda a certeza quem atentar contra a
"unidade" e o "consenso" no partido, isto é, os que se
atreverem a contrariar a "unidade" e o "consenso" dos
desejos de Jardim. Os estatutos feitos pelo punho do próprio chefe blindaram o
"status". Além das cem assinaturas de filiados necessárias às
candidaturas, os delegados ao congresso são eleitos por freguesia em listas completas tradicionalmente abençoadas pelo secretário-geral Jaime Ramos,
o que prejudica preliminarmente o aparecimento de eventuais críticos do
sistema.
Obviamente, "não"
aos consensos
De uma forma
ou de outra, Miguel Albuquerque não alinhará nos processos de consenso
preconizados pelo chefe. O caminho do futuro passa pela rotura - dizem os seus
apoiantes - e é isso que terá de ser defendido dentro de um ano e meio,
altura do congresso.
"Obviamente
não" - é a resposta da linha miguelista perante a hipótese de Jardim
nomear um sucessor e todos terem de lhe obedecer nas intenções. Aliás,
desconfiam do apoio incondicional de Jardim ao seu vice de que se costuma falar.
"Pôr o Ventura Garcês e o director de Finanças à frente das negociações
com Lisboa nesta fase financeira decisiva para a Região foi desautorizar o
vice-presidente, que devia lá estar a chefiar a delegação da Madeira",
dizem os do círculo municipal, com outra nota: as ausências de Cunha e Silva às
reuniões do conselho regional, como aconteceu na última, não significam apenas "desprezo
e sobranceria", mas, desta vez, um "amuo" por causa dos poderes
atribuídos ao secretário das Finanças, Ventura Garcês, responsável pelos
contactos sobre o plano de resgate.
Quem esteve
no plenário foi Miguel Albuquerque, tendo ouvido Jardim dirigir-lhe "mimos"
em presença, como relatou o "Diário de Notícias". Exemplo: a
referência às estrelas das "revistas de cabeleireiro" apontadas como delfins. Em reacção,
atacam miguelistas: "Não deve ter sido 'piada' ao Miguel, mas, se foi, ele
(Jardim) talvez estivesse a lamentar-se por não conseguir aparecer nessas revistas."
O caminho
vai encurtando com o tempo e as grandes decisões no PSD-M podem revestir-se de
muita luta. Miguel Albuquerque irá trabalhar pelas assinaturas necessárias para
viabilizar-lhe a candidatura à chefia do partido, mesmo sem saber quem terá de
enfrentar, se Cunha e Silva se o próprio Jardim.
"A esta
distância, parece-nos difícil conseguir as assinaturas", diz um dos apoiantes
de Albuquerque. "Mas, daqui até lá, as coisas podem evoluir e tornar tudo mais
fácil."
(Imagem Google)
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