Argumentos com barbas do cacique
passam bem na capital
O homem da Quinta das
Angústias, indevidamente chamada Quinta Vigia, mantém-se fiel ao estilo
dialéctico que emprega de há décadas para cá. Ouçamo-lo no que disse ontem na
capital alfacinha: "O presidente dos Açores fala da Madeira para disfarçar
a sua incompetência." Ou: "A Madeira não tem que responder às
críticas dele [de Carlos César]".
Assim tem feito ele na
Madeira, desde que tomou conta da cadeira dourada nos alvores da Pedra Lascada.
Um dirigente da oposição demonstra com números o descalabro da política
orçamental para o ano tal. Ele responde: "Esse é comuna e ainda por cima
forasteiro." E está respondido. Um ambientalista suplica aos responsáveis
que abram os olhos e previnam as ribeiras para o Inverno. O homem comenta:
"O borda de água mais uma vez quer fingir que percebe alguma coisa de engenharia."
E mete-se no carro tranquilamente direito para o seu conhaque e o charuto na
cadeira de cabedal à beira das araras da quinta.
Ontem foi assim, com uma
particularidade: as suas não-desculpas esfarrapadas desenrolaram-se em plena
Lisboa, diante de jornalistas que não correm o risco de ir parar ao desemprego
ou de ver os familiares enxovalhados e também despedidos se estiverem a jeito, como acontece na Madeira.
O "sua excelência"
das Angústias chamou incompetente e asneirão a César, ao ser desafiado a responder a uma
declaração do presidente açoriano que transcrevo: A Madeira, que está receber assistência financeira do
Estado por causa de uma dívida pública de 6,5 mil milhões de euros, é parte
integrante do “disparate financeiro” que conduziu o país à intervenção do Fundo
Monetário Internacional e da União Europeia. E a mais esta: Os Açores cumprem “com todos os rácios e com todos os indicadores que o país
procura atingir e ainda não atingiu".
E por aí fora. A resposta foi "incompetente", isto e mais aquilo. No máximo, o soba da
Madeira perorou: “Nós estamos ao nível à volta dos 100 por cento do PIB per
capita médio da União Europeia. Ele está abaixo dos 75 por cento. O
problema é dele, não é meu. Ele que se preocupe com ele e as asneiras que fez.”
Ou seja, uma generalidade ao alcance de um puto do 6.º ano.
Que César o leve para o exílio
Para arrumar o tema, o chefe de cá fechou a contagem: "A Madeira não
tem que lhe responder (a César)." Perceba-se o alcance: a Madeira. Ele estava a ser
arguido na conferência de imprensa peripatética, ele é que faz os défices,
financeiro e democrático. E ele mete a Madeira no barulho, porque o chefe não tem culpa de
nada e assim foge à pancada. Quando se trata de uma obra de fachada, foi ele que fez, porque os madeirenses, coitados...
Títulos de telejornais e da imprensa:, depois da récita mediática: Fulano chama
César de asneirão. Fulano entende que a Madeira não tem que responder a César.
Talvez não fosse má ideia titular de outra forma:
Fulano foge como o diabo da cruz a perguntas comprometedoras sobre os buracos da sua política financeira. Fulano
incapaz de se justificar perante os argumentos de César. Ou, se fosse numa
análise económico-financeira: Fulano percebe de contas menos ainda do que
Ventura Garcês.
“Ainda bem para os Açores que ele vai embora”, arrumou
definitivamente o chefe da tribo, espantando todos os jornalistas com a profundidade
e sublimidade do seu pensamento.
Para os desventurados madeirenses, que pena Carlos
César, que até sai da liderança açoriana por livre vontade, não poder dizer o
mesmo sobre o homólogo da Madeira.
Sem comentários:
Enviar um comentário