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quarta-feira, 2 de maio de 2012

Estilhaços de Madeira

80 ANOS DE JM


         Neste 1.º de Maio, passaram oito décadas exactas sobre a fundação de um jornal que, no caminho pró-católico a que se propôs, ganhou pelos anos fora posição destacada entre os principais periódicos regionais.
Por desgraça, desabou tragicamente sobre a História da Madeira um momento aziago em que o bispo D. Francisco entregou as chaves daquele jornal da Igreja para que ele se pusesse ao serviço da política reaccionária contra os ventos da liberdade soprados em Abril de 1974. Fiel depositário do JM, para o efeito, aquele professor que já se lançara na política pelas páginas de um jornal afecto ao regime deposto, a 'Voz da Madeira'. Ordens do bispo: deixar os textos sobre 'santinhos' a cargo dos boletins paroquiais; rasgar no JM política de cima a baixo contra o esquerdismo então em moda.
Como diz o povo, "juntou-se a fome com a vontade de comer".

O resto da história já todos conhecem, bem como a escalada governamentalizadora da Madeira Nova, que levou à usurpação, pelo o rei das ilhas, de todas as instituições importantes para o projecto de perpetuação do poder.

Uns 36 anos depois da profanação despótica ordenada por D. Francisco, eis o JM fortemente amordaçado às mãos da maioria laranja, perante a passividade pecaminosa de uma proprietária perversa e fantoche, precisamente a Diocese das Quatro Fontes, onde D. Teodoro e o actual D. António decidiram sancionar o prelado que em má hora veio aterrar na Madeira logo ao dealbar do PREC. É a partir dali que se legitima o falso carácter católico do jornal, mediante uma ínfima percentagem da sua propriedade. 
Espanta e causa náusea o gritante imobilismo de uma Igreja para onde os nossos antepassados nos canalizaram a simpatia. A Igreja deveria rejeitar a mentira recorrente, perante a divergência entre o estatuto editorial do 'seu' jornal e o posicionamento que lhe vemos no mercado, no embuste da distribuição gratuita, no factor de divisão entre madeirenses que é desde há muito, no veículo presidencial que constitui para os enxovalhos hediondos e asquerosos dirigidos a madeirenses e não madeirenses, a católicos e não católicos, a políticos e não poíticos, a oposicionistas e não oposicionistas.

À passagem deste 80.º aniversário do JM, que deveria ser de grande júbilo naquela casa e entre os madeirenses, manifestamos aqui o respeito pelo doloroso luto em que vivem mergulhados e deprimidos há tantos anos os verdadeiros profissionais do Jornal, manietados por uma política ditatorial que não olha a meios para conservar o regime da crápula instalado há mais de três décadas na Madeira, com reflexos graves naquela instituição.
Já não deverá estar longe o tempo em que esses nossos colegas poderão voltar a escrever livremente, a dar as suas notícias que como os outros conseguem obter e registar na sua carteira de temas. Já esteve mais longe o dia em que o JM sairá à rua com a dignidade que já teve, sem mentiras, sem calúnias - pelo contrário orgulhoso do seu trabalho, feito por jornalistas e demais profissionais libertos do crivo dos comissários políticos, repleto de notícias não truncadas e opiniões livres. E sem que os profissionais de verdade, que lá existem, sejam obrigados a subscrever abaixo-assinados de repúdio por quem os defende.
O sol da libertação começa a despontar.
Até lá, a nossa solidariedade.

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