Vimos ontem no blogue "Com Que Então", do Prof. André Escórcio, mais uma excelente imagem do folclore em que se tornou a política à madeirense: a do chefe das Angústias no papel, aliás real, de estoira-vergas a quem o pai já não sabe o que fazer para travar nos desperdícios.
O pitoresco tropo do antigo deputado socialista trouxe-nos à memória um episódio que percorreu as esquinas da cidade em meados do século XX e nos chegou pela boca de várias personagens do viver madeirense dessas décadas.
José Brás Gonçalves, abastado proprietário, tinha um filho especialista em nada fazer, excepto espatifar o dinheiro do pai em carros sport e mulheres bonitas. Um dia, o engraxador acabou o serviço à esplanada do Golden Gate (foto acima), recebeu uma gorjeta do freguês Brás Gonçalves, viu a moeda de 5 centavos e, porque não era a primeira vez, ganhou coragem para reparar:
- Sr. Gonçalves, o seu filho cá dá-me sempre 5 tostões.
- É natural - suspirou o homem - Ele tem um pai rico, e eu não.
O Estoira-Vergas a quem se refere o Prof. André Escórcio também foi todo mãos largas durante 30 anos, como bem sabem os seus amigos e não apenas. Mas com dinheiro dos outros: da Europa, de Lisboa e nosso, contribuintes madeirenses.
O obcecado povo, mesmo assim, continua a ver no homem das Angústias um todo poderoso das finanças que dá subsídios a toda a gente e tem direito a divertor-se no carnaval e a passear por essas Bruxelas.
O dito homem do laranjal também ouviu um dia...
Mário Soares encontrava-se na Casa do Governo das Queimadas com o inimigo das Angústias. O Dr. Emanuel Jardim Fernandes, também presente, lembrou-se de uma vez em que Soares, para fazer tempo até ao avião, foi levado a casa de João Gouveia Menezes, o popular "Laurinha" de outros tempos (aqui retratado por Manuel Nicolau) que tinha o "Ás de Espadas" cheio de teias de aranha, levadas para o estabelecimento na Rua da Alfândega para dar um aspecto velho às garrafas de vinho. Então, Soares disse lá no meio do nevoeiro frio das Queimadas:
- O sr. Meneses recebeu-me em casa quando eu era um normal líder partidário, pois eu gostaria de ir agora lá como Presidente da República.
- Para mim é difícil, porque ele não gosta nada de mim - disse o chefe das Angústias referindo-se a Meneses.
Lá os assessores bateram o terreno à frente para avisar "Laurinha", conhecido pela língua desenfreada fosse diante de quem fosse.
Cumprindo uma tradição sua na recepção de visitantes ilustres, o machiquense levou Soares ao depósito daqueles malvasias e boais todos, avisando que o sr. Jardim não levava nada porque não levava mesmo. E, tal como da primeira vez, ofereceu uma garrafa preciosa a Mário Soares.
Mais um pouco de convívio e Soares, político viajado, a ver fotografias de "Laurinha" em Roma, aqui, acolá... e pergunta:
- Mas isto é o sr. Meneses mesmo, o senhor andou assim em tanto lado?
Meneses olha para os dois chefões - Soares e Jardim - e dispara:
- Sim senhor, mas com o meu dinheiro.
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