6 de Junho 2019
Pedregulhos
no sapato
de
Miguel Gouveia
Foto 'Jornal Económico. |
A ascensão de Miguel Gouveia à presidência da Câmara do Funchal já confirmou o que se esperava: o ambiente serenou e notam-se indícios de que teremos em breve uma cidade onde se vive com alguma normalidade.
Claro que são impressões de primeira hora, impulsionadas também pela vontade que havia de acabar com a 'trapicheira municipal' vigente nos últimos anos.
Tanto pode dar certo como acabar numa desilusão - e La Palisse não diria melhor.
Miguel Gouveia ganhou umas pedras no sapato que o incomodarão bastante.
Desde logo os seus próprios pecadilhos cometidos enquanto vice-presidente, por ora amnistiados ao abrigo do estado de graça que deve ser concedido a todos os executivos.
Não é despiciendo que tenha recebido uma equipa de vereadores confeccionada pelo antecessor. Certamente optaria por outros nomes e outra fórmula se lhe competisse constituir a equipa de raiz. Em todo o caso, e dadas as circunstâncias, operou algumas modificações que em parte me parecem ajustadas. Incluindo a escolha para a vice-presidência.
Fez avançar um suplente para as obras públicas e deve ter feito boa escolha, já que não iria pôr a cabeça a prémio agindo por capricho em área tão sensível.
Já ouvi a crítica de que Gouveia fez Rúben Abreu passar por cima de candidatos que estavam mais à frente na lista original. Mas o importante é colocar a pessoa certa no sítio certo em vez de actuar em obediência a números de ordem cegos.
Nada a dizer na maioria das primeiras decisões do novo presidente, pois.
Na maioria, porque há umas pedras no sapato de Gouveia que mais parecem pedregulhos.
Por falta de autoridade do novo presidente ou porque lhe parece bem, Miguel Iglésias transita no papel de chefe de gabinete. É capaz de haver condicionalismos que só os realizadores da peça conheçam. Alguns até podemos adivinhar. Mas uma câmara municipal não pode servir para resolver problemas pessoais ou partidários.
Miguel Iglésias, além de representar nos Paços do Concelho o fantasma do anterior presidente, que devia ter sido exorcizado como em todas as situações similares, vai dirigir a próxima campanha eleitoral dos chamados 'independentes pró-Lisboa' encabeçados por Paulo Cafofo. Em que papel ficam a Câmara e o seu presidente?
Muito vulneráveis à crítica, claro.
Se Gouveia não teve autoridade para constituir o seu gabinete em ruptura com o passado, terá cada vez menos autoridade.
Se optou assim de livre vontade, vai arrepender-se quando bater de frente na parede.
Outra pedra no sapato é o relacionamento da câmara com os "jornais". Irá o novo presidente fazer a sua própria agenda ou vai seguir a que os "jornais" impõem, como até agora? Ou, pior, aceitará agendas a meias, promíscuas, com Iglésias sentado em 'agências de viagens editoriais' a programar 'visitas à diáspora' (era assim com Cafofo e continua a ser com Albuquerque e Calado)? Com Iglésias a planificar suplementos e respectivos pagamentos obscenos arrancados ao contribuinte?
Gouveia não terá vida fácil.
Outra pedra no sapato é a famigerada polícia municipal. Contra as expectativas, o novo presidente não só decidiu insistir com essa medida impopular e repressiva como parece ter-lhe dedicado "priorização".
Uma câmara também faz o papel de árbitro, que é dirigir os acontecimentos em campo dentro dos parâmetros da legalidade. O estilo de Gouveia não se parece nada com o dos árbitros que temos visto ultimamente, mesmo ao nível internacional, que a cada pontapé de canto ou marcação de um livre se dirige aos jogadores acantonados na área para lhes fazer um sermão como se eles desconhecessem as regras. Tornando-se o sr. árbitro - a intenção é essa - na figura central do jogo, com tempo de antena nas câmaras TV enquanto disserta aos jogadores, sem imaginar as imprecações que os impacientes espectadores na bancada e na televisão, cansados de tanta paragem, disparam impiedosamente contra o narcisista do apito.
Ao contrários dessas aberrações, Gouveia bem poderia ser o presidente que aparece o quanto baste, sem necessidade de impor exuberantemente a autoridade atirando polícias municipais às pernas dos cidadãos.
Pelos vistos, o novo mayor defrauda as expectativas, avançando com a peregrina ideia do antecessor, se a Assembleia Municipal não empatar.
Mas com uma particularidade preocupante: o vereador da tutela dessa polícia, bem como da fiscalização municipal, é Pedro Vieira, também secretário-geral do PS-M. Sujeito sem nada a ver com a proximidade às PSoas tão apregoada nestes anos. Este sujeito adora intimidar as PSoas. Fazer-lhes pensar que ele, dada a sua posição partidária e autárquica, mais a mais com as possibilidades de governo mais adiante, tem a vida das PSoas na mão. Julga ele. Adora sentir que as PSoas estão aterrorizadas, com medo dele, porque uma palavra mal pensada ou um olhar equívoco pode valer o chumbo no concurso de bancas para vender fruta a um canto da cidade. O vereador dos polícias e dos fiscais realiza-se quando é temido, quando infunde terror, embora as pessoas esclarecidas percebam que tal postura é própria dos fracos e só tem êxito sobre os fracos.
Se é da idade, pode haver cura. Se for visceral...
Miguel Gouveia agiu muitíssimo bem ao assumir a pasta das finanças. Idem ao chamar a si a protecção civil. Trata-se de sectores decisivos para o município.
No campo financeiro, já não vai a tempo de controlar neste mandato o saco azul.
Na protecção civil, é preciso uma cabeça à altura da delicadeza do sector. Que na hora de combater a tragédia não se esconda debaixo da cama nem aproveite a presença da TV para auto-elogios imbecis sobre a "pronta reacção" da câmara ao sinistro, em vez de transmitir o ponto da situação e informações úteis aos munícipes em risco.
Miguel Gouveia não enfrenta apenas dois anos de mandato municipal, dois anos quaisquer. Enfrenta um sistema pessimamente montado e armadilhado que lhe causará cabelos brancos.
Pode sucumbir aos pedregulhos que ameaçam minar-lhe o caminho.
Pode sucumbir aos pedregulhos que ameaçam minar-lhe o caminho.
Mas, se acaso vem por bem, há-de saltar esses obstáculos e aquilo que mais aparecer a estorvar.
Fazendo o que for preciso em benefício da cidade e dos funchalenses, não estará sozinho. Terá mais de 100 mil a dar-lhe força.
Fazendo o que for preciso em benefício da cidade e dos funchalenses, não estará sozinho. Terá mais de 100 mil a dar-lhe força.
Pode até dar-se o caso de o resto da equipa perceber que vai a tempo de se tornar politicamente adulta.
Em 2021 há autárquicas.
Em 2027, legislativas regionais.
E o futuro começa já.
E o futuro começa já.
14 comentários:
Quando o senhor Calisto se põe a fazer previsões à Zandinga...
Não se esqueça disto: o Gouveia, teimoso e convicto da sua esperteza, vai devolver a CMF ao PSD. Em certo sentido até será um regresso a casa, pois não foi o PS quem há 15 anos lhe arranjou emprego na EEM.
Penso que Gouveia teve que fazer um negócio, com vista a 2022.
Teve que aceitar o emplastro do Iglésias por troca com a imposição do Ruben, eliminando a possibilidade de outros membros suplentes da lista de vereadores.
Exigiu a Proteção Civil tirando-a ao Picareta Falante, perfeito ignorante na matéria, e impôs Idalina na vice-presidência.
Em política tudo é negociável, e Gouveia tem uma ambição para 2022, mesmo que mude a gerência do PS-M. Para isso tem que fazer boa figura, e Gouveia esperará que lhe saia no sapatinho a prenda de Iglésias e Picareta rumarem à ALRAM em setembro.
Seria a cereja no topo do bolo.
Onde andava este senhor no tempo da Ditadura jardinista? no PSD obviamente!
Miguel Gouveia ainda deve ter a garganta a arder com o tamanho do sapo que teve de engolir. Ele não suporta o Iglésias.
Imagino o tamanho das negociatas por detrás desta aceitação, tudo pelas PSoas, mas as dele, a irmã, o cunhado, a sogra, o compadre, o sogro, etc.
E viva o socialismo, aquele que rebenta com tudo a bem dos interesses dos seus.
Não diria melhor.
A autoridade do presidente fica muito beliscada com a continuação de Miguel Iglésias como chefe de gabinete do presidente Miguel. Certamente foram imposições e Miguel Gouveia teve de acatar (...)
Alguém sabe quando será a próxima Assembleia Municipal?
O Rodrigo vai continuar a defender o executivo camarário como fazia?
Concordo contigo Raquel.
Duas notas:
1- Passou-se quase uma semana e o careca mentiroso ainda não apareceu no pasquim chamado Diário de Noticias. Estranho.
2- Em 2021 este Municipio será novamente PSD.
Assim é que se fala. O Funchal governado por madeirenses, não a mando de cubanagem. Por isso PSD volta estamos arrependidos
Caríssimos anónimos, é verdade que o novo presidente da CMF engoliu um grande sapo ao admitir o cônsul cubano como seu chefe de gabinete. Imposições políticas, certamente. No entanto, não podemos esquecer outros pedregulhos no sapato presidencial, internos. A Polícia Municipal, sim. A Proteção Civil Municipal, sim. E o Parque Ecológico? Ainda não sabemos qual a postura do Sr. Presidente Gouveia, relativamente a este espaço. Aliás esta foi, segundo o discurso de tomada de posse, uma das suas bandeiras, uma das suas prioridades para o biénio que ainda resta de mandato! Qual a sua opinião acerca do regresso do gado à serra? Mesmo que seja em transumância holística, como o sr. engenheiro técnico agrário Diretor do Departamento de Recursos Naturais, defende? Estará ele preso ao lobby dos cabreiros como o professor Mentiras, acessorado pelo alucinado e já mencionado engenheiro técnico agrário, que fez questão de colocar/impor na chefia de um Departamento da CMF sem cumprir os critérios exigidos para tal cargo público, segundo a lei?
Veremos as cenas dos próximos capítulos de mais esta novela que, apenas mudou de protagonista (por morte cerebral do primeiro).
Eleições já, falta legitimidade aos cubanos, ainda por cima foram derrotados no Funchal a 26 de Maio. Em vez de construir estão a destruir o Funchal, seja no ambiente, acessibilidades e dinâmica citadina
Reduzam esse senhor à sua insignificância. Eleições antecipadas já!
Então o comissário politico Iglesias ficou lá para vigiar os tontos!?
O colonialismo do rectângulo continua.
06.51
Mas então querem ou não querem a Continuidade Territorial que muito andam a apregoar.
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