3 de Junho 2019

Paulo Cafofo já fez 

o que Jardim não conseguiu:

apagar o PS-Madeira

Alguém pode imaginar um partido que organize a cerimónia de lançamento da candidatura a um governo sem que seja o seu líder a fazer o discurso de abertura?

Aconteceu ontem. A candidatura do apartidário Paulo Cafofo foi lançada formalmente e Emanuel Câmara nem discursou no início para explicar a candidatura do partido nem falou a meio nem encerrou a sessão.

Alguém concebe o lançamento de uma candidatura em nome do PS num cenário montado onde apenas um logo do partido envergonhado se conseguia vislumbrar no pano de fundo azul-amarelo da Bandeira da Região, aliás um colorido hipocritamente escolhido para disfarçar o ódio que os usurpadores nutrem pela Autonomia?

Aconteceu ontem à tarde nos jardins do Lido. De PS, apenas a mãozinha fechada num cantinho do pano de fundo para dar a entender que a barriga de aluguer é consentida.

Os Leitores que não assistiram àquela espécie de sessão do 'reino de deus' não acreditarão no que vou dizer. Mas dou a minha palavra como da parca assistência não se ergueu uma só bandeira do Partido Socialista. E no entanto Paulo Cafofo referiu uma vez (ou duas) que a sua candidatura tem o apoio do PS-Madeira.

O speaker da tarde, após ter dito que Paulo Cafofo é "o rosto da mudança da Região", apresentou a martelo uma professora universitária, Luísa Paolinelli, que já integrou a lista da Câmara funchalense. E por aí começaram as intervenções programadas, a cargo de mais dois professores universitários, um médico e uma enfermeira. Todos potencias membros do governo que Paulo constituirá em Setembro para salvar a Madeira, diz-se.

Como se vê, um estranho poder central 'cubano' insiste no projecto nacional 'mapa cor-de-rosa', instalando na 'rebelde' Madeira gente da sua confiança mas colocando à cabeça do filme uma estrela madeirense que aceitou representar com fidelidade canina o guião lisboeta.

E é enquanto apresentam pessoas que nunca ninguém viu mais gordas na Madeira, muito menos no PS-M, que os promotores da candidatura dizem dirigir-se aos provincianos madeirenses e portossantenses. 

Percebe-se que a realização e a produção da película de terror sintam a necessidade de alargar o eleitorado a toda a "cidadania", porque os votos dos simpatizantes socialistas até à data foram sempre insuficientes para desalojar o bafiento PSD das Angústias. Mas haja dignidade. Frontalidade. Já agora, não é por esconder a bandeira, o símbolo e os verdadeiros militantes do PS que alguém ganha a simpatia dos madeirenses. Podem crer.

Lá o speaker, também com pronúncia de pouco conhecedor do meio ilhéu, foi dando a ideia de que só mesmo um sujeito com a coragem do Paulo Cafofo para avançar à conquista do poder na Região (Autónoma, disse ele de voz embargada pelo ódio).

Coragem?

Estes cavalheiros caídos de pára-quedas na Praça Amarela sabem o que é perder e ganhar sempre com a bandeira do partido desfraldada ao sol, ao vento, à chuva, à trovoada, como sempre aconteceu naquelas hostes, lá e cá?

O tempo é de futuro, mas não há futuro sem passado. Ouviram falar nas lutas de Soares? De Zenha? De combates encarniçados numa época em que era preciso muita coragem, intelectual e física - muito mais coragem do que a exigida para receber tudo de bandeja e viver de passeios e fotografias.

Coragem de socialistas! Viram Gil Martins? João da Conceição? Ainda podemos perguntar a Emanuel Jardim Fernandes e a Duarte Caldeira como era noutro tempo, eles talvez tenham fotos dos carros destruídos à bomba, como muitos outros. E Mota Torres, tratado nos seus mandatos vexatoriamente como 'forasteiro', pelo adversário implacável? E José António Cardoso, vilipendiado todos os dias, tal como Jacinto Serrão, ainda hoje uma enorme saudade entre os militantes? E João Carlos Gouveia, para quem o grupo parlamentar laranja aprovou um exame de sanidade mental? Foram 40 anos de guerra quotidiana. 

Ninguém está a pedir medalhas. Mas que pensarão estes antigos presidentes do PS-M de uma cerimónia como a de ontem onde se notou com incredulidade a preocupação de esconder o partido? Que pensarão Góis Mendonça e os irmãos Martins, que conquistaram com muita luta câmaras para o PS no tempo em que choviam raios e coriscos? E André Escórcio, que elevou o nome do partido no tremendo combate de 1993 contra o social-democrata Virgílio Pereira, numas célebres eleições funchalenses? André Escórcio, deputado como Carlos Pereira (outro ex-líder), Rita Pestana, Carlos Fino, Luís Amado, Gil França, Fernão Freitas, João Isidoro, Arlindo Oliveira, tantos socialistas que deram a cara pela causa, com prejuízos pessoais e familiares, para que o Partido Socialista se mantivesse no plano de alternativa governativa! Com momentos bons, a chegar perto dos 20 deputados, outros maus, com baixas pesadas - que o adversário tinha tudo a seu favor -, e sempre sem renegar a cor partidária nem a idiossincrasia de lutadores e activistas mesmo nas lutas intestinas, renhidas e democráticas, dentro do eterno 'saco de gatos'.

E vêm falar agora de coragem! 

Lisboa quer o mapa cor-de-rosa em Portugal. Já Cafofo e seus primos de areópago pseudo-intelectual sonham com uma vaga de fundo populista na Madeira. Bem podiam arranjar outra barriga de aluguer. É injusto apagar desta forma insensível um partido com história digna e gloriosa. 

Cafofo pode ganhar nas urnas votos para 40 deputados. Se acontecer, o PS não estará a ganhar nenhum. A onda populista apagou o partido.

Acredito nas boas intenções de Emanuel Câmara, ao aceitar o projecto que lhe propuseram. Se o PSD se eternizava no poder e de repente, com Paulo Cafofo, a Câmara do Funchal fugiu às garras do Laranjal, por que não derrubar o PSD ao nível regional por essa via?

Pronto. Emanuel alinhou no estratagema e garantiram-lhe a vitória sobre Carlos Pereira no congresso. Ganhou. Mas não chegou a tomar as rédeas do partido. Disso trata Cafofo. Aliás, Miguel Iglésias. Tomar as rédeas do partido para o esconder.

Emanuel Câmara deve ter-se sentido um pouco estranho ontem no final da sessão de candidatura, quando subiu ao palco, não para fazer qualquer coisa enquanto presidente do PS, mas para legitimar a estrela do filme com um abraço. Sempre calado.   

Outros socialistas alinhados por Cafofo - Célia, Victor, Ricardo Franco, Olavo -, sentados na primeira fila, cumprimentados a correr pelo candidato no início da rábula, aproveitaram para ensaiar o papel que lhes está reservado: dar palmas a Cafofo e aos futuros 'governantes' independentes.

Pois. Emanuel e Victor meteram o cavalo de Tróia na fortaleza. Já não serão os dois cavalheiros a libertar um dia o Partido Socialista do sequestro materializado por Costa-Cafofo. 

Entretanto, alguém que meta umas bolas de naftalina nas bandeiras socialistas armazenadas na Praça Amarela.

PS - Ontem foi dia do Cafofo. Hoje é dia do ex-PS.