MISTÉRIOS À RODA-DA-PEDRA

Gil Canha

Em 1870, apareceram publicadas no Diário de Notícias de Lisboa várias cartas anónimas, contando um estranho caso, meio-macabro, de um assassinato e de um grupo de pessoas que alegadamente estariam envolvidas no crime. As cartas assustaram os leitores e só no final é que Eça de Queirós e Ramalho Ortigão admitiram que escreveram os textos por brincadeira, dando origem mais tarde ao famoso livro “O Mistério da Estrada de Sintra”.

Nas próximas eleições legislativas regionais também há uns mistérios que ainda ninguém conseguiu desvendar; na minha opinião, se isto fosse um verdadeiro Estado de Direito, o Ministério Público, com a ajuda da Polícia Judiciária, já teria desvendado os “enigmáticos casos” que passo a citar:

Mistério I – Há um conhecido dirigente socialista, com um nome meio artístico, chamado Miguel Iglésias. O cavalheiro foi chefe de gabinete do anterior presidente de Câmara, Paulo Cafôfo, e era conhecido na autarquia por se meter em tudo e se armar em grande administrador, aliás a transformação do Mercado dos Lavradores em “Tasca gourmet” foi ideia dele.  Entretanto, Cafôfo saiu da Câmara e Miguel Gouveia assumiu o cargo, mantendo este superdotado em dentinhos e pataniscas em “Chefe de gabinete”. Mas o maior mistério é que Iglésias não mete as patas na autarquia, não faz a ponta dum corno em prol da cidade, não presta a tal assessoria “gourmet” ao atual presidente de Câmara, mas leva um chorudo ordenado limpinho para casa, todos os meses, sem fazer nenhum.

Deste modo, alguém sabe o paradeiro do nosso “artista”? Não será crime receber um ordenado mensal do município e prestar serviço no saco de gatos, na rua da Alfandega?

Mistério II – Alguém consegue engordar sem ter comido? Alguém consegue ter um chorudo salário, e depois, de um dia para outro, perder tudo, e aparecer em casa sem “cheta”?! Quem lhe alimenta a família? Os filhos? A gasolina? A paparoca? As vestimentas?

Os ursos ganham gorduras na Primavera e no Verão, para depois gastá-las no Inverno, na hibernação! Mas, que eu saiba, o sr. Prof. Paulo Cafofo não é nenhum urso, quando muito uma “raposa” calva siberiana. É por isso, que seria interessante o atual candidato explicar bem às pessoas se existe alguma organização, um grupo económico, ou alguma empresa de entretenimento (as tais contratadas outrora pela autarquia a peso-de-ouro) que lhe paga as contas.

O Partido Socialista não é, porque está quase falido e com as contas no vermelho!

Mistério III – O sr. Sérgio Gonçalves é um alto cargo do Grupo Sousa e também interrompeu as suas funções administrativas neste conhecido grupo monopolista para se dedicar a tempo inteiro à campanha eleitoral de Paulo Cafofo. Deste modo, os senhores leitores podem fazer as mesmas perguntas acima redigidas no Mistério II, com exceção do último ponto, porque ao contrário do PS/Madeira, os tipos do grupo Sousa estão bem aviados de cabedais e o sr. Sérgio Gonçalves não vai passar a campanha a comer chicharros fritos nem macarrão com chouriço.   

Mistério IV – A propósito da rapinagem de inertes das nossas ribeiras por grupos empresariais mafiosos que atuam na maior das impunidades a coberto do Governo Regional e do MP, ficámos a saber que Miguel Albuquerque argumentou, que “Se é ilegal, a fiscalização tem de atuar. Num Estado de Direito é assim que as coisas funcionam”.  O sr. Presidente tem razão, se isto fosse um “Estado de Direito”! Como não é, porque na realidade somos um “Estado Falhado”, onde todos os gabirus mafiosos fazem o que lhes apetece…

Mas fica o mistério da gargalhada: qual será o fiscal ou a equipa de fiscais que se atreverá a fiscalizar ou a bloquear a atividade criminosa da máfia do betão? Qual será o desgraçado do funcionário do Eng. Amílcar que vai fazer frente ao patrão do sr. Vice-presidente, Pedro Calado?