O JOGO DO BICHO
Conta-se que em tempos idos, lá
para os lados da rua da Queimada, havia um estabelecimento que era conhecido
por fazer o jogo do bicho, como complemento à sua actividade diária, porque já
então as coisas não eram fáceis. Então, o “Bicheiro”, entenda-se o homem lá da
tasca, escrevia o nome do bicho num papel, o qual era introduzido numa
campânula e aberta no dia do sorteio. Quem tivesse apostado naquele bicho
sorteado ganhava um prémio em dinheiro, e parece que até dava umas patacas
jeitosas para aquele tempo. Ora, não há bela sem senão e eis senão quando, num
certo dia, dois marmanjos puseram-se à cuca para espreitar que raio de bicho
iria ser “escrevinhado” ; radiantes, descobrem que o nome do ansiado animal
começava pela letra “A”, não esperam pelo final da palavra e desatam a
“bilhardar” pela cidade o que tinham visto.
Claro está, toda a gente começa a
jogar na Águia e Avestruz, únicos bichos constantes deste jogo que começavam
pela referida letra. A certeza era quase absoluta que o “Bicheiro” estava feito
e que iria à falência. Chega o ansiado dia, e o pessoal já esfregava as mãos de
contente, na expectativa do dinheirinho que iria embolsar. Coitado do
“Bicheiro” que tinha os dias contados. Mas, surpresa das surpresas, é aberta a campânula
e o bicho sorteado que lá estava escrito era nem mais nem menos que o
“Alifante”. Desânimo geral, e ninguém questionou os dotes de português do
bicheiro. A vitória, aparentemente fácil, transformou-se em derrota e a
história conta-se até aos dias de hoje.
Como tudo, este jogo de apostas
evoluiu e passou a ser jogado tendo por base os números da Lotaria Nacional,
onde cada bicho é representado por quatro números consecutivos compreendidos
entre 00 e 99. Não cabe aqui explicar como funciona o jogo do bicho, nem era
esse o propósito deste escrito, mas sim estabelecer um paralelo entre o
referido jogo, com alguma realidade vivida nesta semana cá na nossa terra.
Começando pela visita do nosso
Primeiro Ministro, António Costa à Região Autónoma da Madeira e segundo julgo
saber, constava da agenda um conjunto de dossiers por resolver, alguns já com
barbas, cujo total ascendia a 21 assuntos pendentes (vá lá saber-se o que têm
andado a fazer os nossos governantes para, quase em final de mandato, ter tanta
coisa engatada). Ora, dizia eu, constava nos meandros que a expectativa era
grande na solução pretendida e que sairia fumo branco na Quinta Vigia com a
resolução em duas horas daquilo que não tinha sido resolvido em vários anos.
Veio o fim da reunião e, ainda
hoje, estamos para saber o que é que foi exactamente discutido e aprovado mas,
de certeza absoluta, não foram mais de dois ou três assuntos e, mesmo assim,
com interpretação duvidosa quanto ao seu desenlace. Ou seja, e fazendo analogia
com o Jogo do Bicho, apostou-se na Cabra (21) e deu Avestruz (3) ou, se
quiserem, “Alifante”. Portanto, de fumo branco nada (branco só se for a Sissi)
e espero é que agora não metam a cabeça na areia como faz o dito bicho sorteado
e que se empenhem verdadeiramente para encontrar as soluções que todos nós madeirenses
e portossantenses ansiamos e merecemos. Mas rápido, porque já falta pouco para
2019. Se fosse no Brasil, diriam, deu Zebra! (acontecimento impossível, porque
a Zebra não faz parte do conjunto de bichos a sortear).
E porque estamos a falar de
bicharada, fomos surpreendidos por uma notável resolução do Governo Regional e
publicada em parte, tipo cronica, no DN cá da praça e que classifica a Carne
Regional em duas categorias, ou seja, a rija e a super rija, perdão, a Carne
Regional Extra e a simplesmente Carne Regional (faz lembrar um filme antigo,
Simplesmente Maria). Isto sim, é de se lhe tirar o chapéu; que tirada diabólica! E dou Graças a Deus por me ter proporcionado a possibilidade de estar vivo e
ter podido assistir a esta magnífica, diria, extraordinária sapiência no que
respeita à classificação da nossa “carninha” com base no seu local de
nascimento. Querem lá saber da regulamentação da classificação de carcaças, se
é que sabem que isto existe. Ainda transformam isto num negócio da China, o
bicho nasce cá, passa a ser extra, exporta-se e todos ganham um “balúrdio”.
Em tempos, as pessoas nascidas e
residentes na Madeira eram o Povo Superior; agora, e por analogia, temos o
porco , vaca , galo superiores. Fantástico. Olha, é o bicho, é o bicho,
vou-te……
K-BICHO
2 comentários:
Nunca tive o prazer de conhecer um bicheiro.
Em contrapartida conheci alguns(mas) políticos(as) - fica bem estes pruridos de género para evitar comentários feministas ou misóginos.
Pela amostra conhecida (de políticos e de políticas), prefiro mil vezes os "bicheiros". Nestes últimos sabemos ao que vamos na certeza da aleatoriedade dos números da lotaria. Com os primeiros, seremos sempre, sempre e em qualquer circunstância, tramados e enganados … e sem vaselina.
Politiquices à parte, só me lembro de bichos: vaca galo!
Parece-me que para o ano vai dar Alifante.
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