DEBAIXO DA ROCHA
Gil Canha
Quando o Partido Nova Democracia (PND) andava
por aí a fazer verdadeira oposição ao regime jardinista, um dia fizemos uma
conferência de imprensa em frente ao actual prédio abandonado da Peugeot, na
escarpa a oeste da Ribeira de João Gomes.
Dias depois, um dos sócios do empreendimento
ligou-me todo furioso, acusando-nos de inimigos do desenvolvimento e dos
empresários da região, e que andávamos ressabiados e invejosos com o sucesso
dos outros. Com calma, informei-o que ele devia agradecer-nos por o termos
alertado para a loucura que pretendiam fazer naquela despenhadeiro, e que um
dia, ainda se iriam lembrar de nós e dos nossos alertas. E a finalizar a nossa
atribulada conversa ainda repliquei: - O dinheiro que vocês vão gastar na contenção
periférica, muros de suporte e estacaria da arriba, tudo somado, vai sair mais
caro ao metro quadrado que um terreno comprado na zona turística.
O senhor, zangado, desligou-me o telefone na
cara.
Passado uns tempos vim a saber que a empresa faliu e que, por arrasto,
levou outros negócios atrás, precisamente porque os custos da construção foram
extremamente onerosos.
E lembrei-me deste episódio porque há dias
passei na parte baixa da Ribeira Brava e reparei que estão a escavar na
escarpa a oeste, entre a estrada que ladeia a ribeira e a antiga estrada
regional, uma escavação monstruosa, um buraco de proporções assustadoras, cujos
muros de suporte (contenção periférica) vão ter um custo de tal ordem, que
seria muito mais barato para o promotor comprar o terreno mais caro do vale da
Ribeira Brava.
Mas, sinceramente, pouco me importam os males
dos “empresários” que se metem nestas loucuras, a minha preocupação e revolta vão, sim, para os autarcas e para os governantes que dão pareceres
positivos e licenciam este género de “abortos” que depois será o “carro da
bomba dos contribuintes” a avançar sempre que “cai rocha” ou acontece alguma
intempérie mais violenta.
Lembro-me de, quando era vereador na Câmara
Municipal do Funchal, no tempo de Miguel Albuquerque, votar contra o
licenciamento de uma padaria, que pretendiam construir “debaixo da rocha” e
numa zona florestal “non aedificandi” pelo PDM, na Fundoa de Cima. Este assunto
originou uma discussão séria na vereação, e cheguei ao ponto de acusar o
Presidente de irresponsável e de cúmplice de uma ilegalidade. Depois veio o 20
de Fevereiro e a tal padaria levou com lamas e rocha em cima, que até
arrepiou. E sabem quem pagou todos os prejuízos e a contenção
da escarpa, cujos trabalhos ultrapassaram um milhão de euros? Sabem?! Fomos
todos nós, “a viloada”!
E o regabofe criminoso dos nossos governantes
e autarcas não é de agora. Na Calheta, um empresário construiu estacionamentos,
quartos para turistas e estabelecimentos comerciais “debaixo da rocha”, e como
a arriba está instável e têm caído blocos basálticos, como é normal na nossa
geologia, o governo de Miguel Albuquerque já se prepara para gastar milhões de
euros na contenção da escarpa. E o mais hilariante (a viloada até merece!) é
que o empresário que construiu nesta zona de alto risco, provavelmente, ainda
vai acabar por ficar com a empreitada da obra (isto chega a ser lindo!..)
E se pensam os senhores leitores deste blogue
que estou a “caçoar”, vejam o que aconteceu recentemente em Câmara de Lobos,
onde se construiu o empreendimento “Nova Cidade” também debaixo de uma arriba
perigosa, e devido à recente queda de pedras, voltou novamente a entidade
pública a gastar dinheiro dos contribuintes, para acautelar erros grosseiros de
um passado recente.
Alguns idiotas encartados (vilões mais
atrevidos) dizem que toda a ilha é zona de risco. O que não é totalmente
verdade, porque os nossos antepassados raramente construíam as suas casas
debaixo da rocha ou em leitos de cheia de ribeiras. Procuravam sempre os
locais mais seguros, como o cimo dos “lombos”.
Os patos-bravos da Madeira Nova é que, na sua
ânsia de ganhar dinheiro e minimizar custos, começaram a ocupar terrenos
baratos e em zonas perigosas, que anteriormente eram inteligentemente
reservados para a agricultura.
6 comentários:
Chuta Gil
Tens razão, mas se todos pensarem como tu o afadesvias também vai a falência
Enquanto houver burros tem de haver também palha
Carrega, costa a cima, mas depois foge debaixo
Mais canas, mais cheques de 100 e mais palha
Parece que o emigrante da Ribeira Brava desta escavação vai sofrer como Cristo na terra, mas quem tem culpa é o sr. padre da Câmara que já tem idade para ter juízo.
Em todo o madeirense há a alma de um construtor civi. Estamos a contruir desde as descobertas: canalizações de ribeiras, poios, caminhos e estradas, igrejas, vilas e cidades, com todos os seus elementos (casas e prédios habicionais, edificações comerciais e industriais, hotéis e albergues, teatros, cimemas etc.).
Com uma intensidade tal que a economia e o desenprego nunca estão bem quando as empreitadas estão mal.
O Sr. Gil,sempre generoso, quer introduzir alguma racionalidade nisto. Escusa de atormentar essa ingênua cabeça. Somos muitos, há muitos séculos, a querer argamassar todo e qualquer m2 de terra livre. E isto está para durar.
Avisar para quê...para depois nos apontarem o dedo e difamar...deixa cair pedregulho e cascalho em cima desses burros...vão pagando...vê agora um presidente de camara é recebido em londres á custa da viloada como se fosse presidente do GR ao que parece ir a Lisboa não chega...é preciso molhar o pincel em terras de sua majestade...
É claro que a contenção da escarpa da Calheta é para a AFA, pois eles é que têm o equipamento para aqueles trabalhos e o concurso será limitado por prévia qualificação. Vai uma aposta?
Deviam meter a Quinta Vigia debaixo de uma rocha e transformar o Cafofo num Pinóquio de pau.
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