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quarta-feira, 9 de maio de 2018




DEBAIXO DA ROCHA





Gil Canha

Quando o Partido Nova Democracia (PND) andava por aí a fazer verdadeira oposição ao regime jardinista, um dia fizemos uma conferência de imprensa em frente ao actual prédio abandonado da Peugeot, na escarpa a oeste da Ribeira de João Gomes.
Dias depois, um dos sócios do empreendimento ligou-me todo furioso, acusando-nos de inimigos do desenvolvimento e dos empresários da região, e que andávamos ressabiados e invejosos com o sucesso dos outros. Com calma, informei-o que ele devia agradecer-nos por o termos alertado para a loucura que pretendiam fazer naquela despenhadeiro, e que um dia, ainda se iriam lembrar de nós e dos nossos alertas. E a finalizar a nossa atribulada conversa ainda repliquei: - O dinheiro que vocês vão gastar na contenção periférica, muros de suporte e estacaria da arriba, tudo somado, vai sair mais caro ao metro quadrado que um terreno comprado na zona turística.
O senhor, zangado, desligou-me o telefone na cara. 

Passado uns tempos vim a saber que a empresa faliu e que, por arrasto, levou outros negócios atrás, precisamente porque os custos da construção foram extremamente onerosos. 
E lembrei-me deste episódio porque há dias passei na parte baixa da Ribeira Brava e reparei que estão a escavar na escarpa a oeste, entre a estrada que ladeia a ribeira e a antiga estrada regional, uma escavação monstruosa, um buraco de proporções assustadoras, cujos muros de suporte (contenção periférica) vão ter um custo de tal ordem, que seria muito mais barato para o promotor comprar o terreno mais caro do vale da Ribeira Brava.
Mas, sinceramente, pouco me importam os males dos “empresários” que se metem nestas loucuras, a minha preocupação e revolta vão, sim, para os autarcas e para os governantes que dão pareceres positivos e licenciam este género de “abortos” que depois será o “carro da bomba dos contribuintes” a avançar sempre que “cai rocha” ou acontece alguma intempérie mais violenta.
Lembro-me de, quando era vereador na Câmara Municipal do Funchal, no tempo de Miguel Albuquerque, votar contra o licenciamento de uma padaria, que pretendiam construir “debaixo da rocha” e numa zona florestal “non aedificandi” pelo PDM, na Fundoa de Cima. Este assunto originou uma discussão séria na vereação, e cheguei ao ponto de acusar o Presidente de irresponsável e de cúmplice de uma ilegalidade. Depois veio o 20 de Fevereiro e a tal padaria levou com lamas e rocha em cima, que até arrepiou.   E sabem quem pagou todos os prejuízos e a contenção da escarpa, cujos trabalhos ultrapassaram um milhão de euros? Sabem?! Fomos todos nós, “a viloada”!
E o regabofe criminoso dos nossos governantes e autarcas não é de agora. Na Calheta, um empresário construiu estacionamentos, quartos para turistas e estabelecimentos comerciais “debaixo da rocha”, e como a arriba está instável e têm caído blocos basálticos, como é normal na nossa geologia, o governo de Miguel Albuquerque já se prepara para gastar milhões de euros na contenção da escarpa. E o mais hilariante (a viloada até merece!) é que o empresário que construiu nesta zona de alto risco, provavelmente, ainda vai acabar por ficar com a empreitada da obra (isto chega a ser lindo!..)
E se pensam os senhores leitores deste blogue que estou a “caçoar”, vejam o que aconteceu recentemente em Câmara de Lobos, onde se construiu o empreendimento “Nova Cidade” também debaixo de uma arriba perigosa, e devido à recente queda de pedras, voltou novamente a entidade pública a gastar dinheiro dos contribuintes, para acautelar erros grosseiros de um passado recente.
Alguns idiotas encartados (vilões mais atrevidos) dizem que toda a ilha é zona de risco. O que não é totalmente verdade, porque os nossos antepassados raramente construíam as suas casas debaixo da rocha ou em leitos de cheia de ribeiras. Procuravam sempre os locais mais seguros, como o cimo dos “lombos”.
Os patos-bravos da Madeira Nova é que, na sua ânsia de ganhar dinheiro e minimizar custos, começaram a ocupar terrenos baratos e em zonas perigosas, que anteriormente eram inteligentemente reservados para a agricultura.

6 comentários:

Anónimo disse...

Chuta Gil
Tens razão, mas se todos pensarem como tu o afadesvias também vai a falência
Enquanto houver burros tem de haver também palha
Carrega, costa a cima, mas depois foge debaixo
Mais canas, mais cheques de 100 e mais palha

Anónimo disse...

Parece que o emigrante da Ribeira Brava desta escavação vai sofrer como Cristo na terra, mas quem tem culpa é o sr. padre da Câmara que já tem idade para ter juízo.

Anónimo disse...

Em todo o madeirense há a alma de um construtor civi. Estamos a contruir desde as descobertas: canalizações de ribeiras, poios, caminhos e estradas, igrejas, vilas e cidades, com todos os seus elementos (casas e prédios habicionais, edificações comerciais e industriais, hotéis e albergues, teatros, cimemas etc.).
Com uma intensidade tal que a economia e o desenprego nunca estão bem quando as empreitadas estão mal.
O Sr. Gil,sempre generoso, quer introduzir alguma racionalidade nisto. Escusa de atormentar essa ingênua cabeça. Somos muitos, há muitos séculos, a querer argamassar todo e qualquer m2 de terra livre. E isto está para durar.

Edgar Silva disse...

Avisar para quê...para depois nos apontarem o dedo e difamar...deixa cair pedregulho e cascalho em cima desses burros...vão pagando...vê agora um presidente de camara é recebido em londres á custa da viloada como se fosse presidente do GR ao que parece ir a Lisboa não chega...é preciso molhar o pincel em terras de sua majestade...

Anónimo disse...

É claro que a contenção da escarpa da Calheta é para a AFA, pois eles é que têm o equipamento para aqueles trabalhos e o concurso será limitado por prévia qualificação. Vai uma aposta?

Anónimo disse...

Deviam meter a Quinta Vigia debaixo de uma rocha e transformar o Cafofo num Pinóquio de pau.