Bagunça Rumo a 2019

TRINTA E SEIS

CAFÔFO CASOU COM UMA VELHA

O plano de fundo é o mapa-cor-de-rosa em todo o País. António Costa conta ganhar em 2019 de maneira a nem precisar da geringonça. Com os Açores, o nosso Primeiro está descansado: Vasco Cordeiro domina o panorama. A mais difícil tarefa mora na Madeira e o Rato não vai largar. Com o País totalmente rosa, Costa poderá então preencher agenda para mais 8 anos, pelo menos.

E Paulo Cafôfo? No meio das comemorações do centenário de Max, coincidindo com a viragem no PS-M, o novo líder do partido e Mayor do Funchal ouviu o célebre 'Casei com uma velha', do nosso eterno cantor-animador?

Já se percebeu que o triunfalismo ocupou literalmente a Praça Amarela. Mas Cafôfo ainda não ganhou as eleições regionais. Pode não ser um passeio. 

Vemos socialistas eufóricos, a falar como se já fossem governo. Calma. Deitar foguetes antes do arraial dá azar. Principalmente se também se estiver a festejar um casamento por interesse de ambas as partes. O PS - o de Emanuel Câmara - apregoa que o móbil do apoio a Cafôfo é o "capital político" do Mayor. Cafôfo deixa a noiva meter o braço porque, até à data dos laboratórios de Victor, ninguém havia pegado nele, e porque, tendo as coisas batido certo, agora precisa de quem o leve ao altar da vida.

Calma, sim. Afinal, que PS é este que já canta vitória a uma distância tão grande das eleições decisivas? É um partidozeco que há meia dúzia de dias, em Março de 2015, não conseguiu mais do que uns míseros 14.600 votos, apesar de coligado com 3 pequenos partidos, entre eles o PTP. Obra de Victor, o mesmo dos laboratórios. O grupo parlamentar deste PS tem 5 deputados lá sentados, tantos quantos os do novel JPP - não cabem no antigo taxi do CDS, mas cabem num carro alugado sem condutor. Este PS conta com o "capital político" de Paulo Cafôfo, que é substancial, goste-se ou não. Mas Cafôfo terá de trabalhar muito para desmontar os 56.600 votos que Albuquerque obteve em 2015. Do PS para cima, são 42 mil votos de distância. 

A tendência do "capital político" de Cafôfo é de subida. Os resultados de 2013 e 2017 são esclarecedores. Mas a Matemática não permite milagres. Para ganhar umas regionais, Cafôfo terá de conquistar eleitorado ao PSD. Já o deve ter feito em 1 de Outubro, nas autárquicas. Resta saber se a tendência e os resultados municipais influenciam as regionais com a certeza que se alojou na cabeça de muitos socialistas. A maioria de Albuquerque foi por um triz e mesmo assim com algumas contas feitas depois da hora. Mas aos socialistas falta muito trabalho para cantar vitória.

Que é preciso mostrar uma onda vitoriosa, o que é outra coisa, sim, é importante. E já. Para bater o PSD, é preciso levar o PS-M mobilizado e conseguir as boas graças do resto da oposição. Portanto, à uma caçar votos ao PSD e seduzir o resto da oposição. Começam os senhores a perceber a ideia do Cafôfo candidato do PS com a auréola de independente?

O PSD obteve, em 2015, 44,4% dos votos. Isso deu a tal maioria absoluta, apertada mas maioria absoluta. É possível que a Rua dos Netos tenha perdido eleitores desde então. Mas estes raciocínios são sempre aleatórios, sem certezas. Porque há o perigo - para o convencido PS - de a máquina laranja recuperar o dinamismo dos tempos em que o seu partido punha "a Madeira em marcha". Os actualmente desmotivados quadros da administração mais os aríetes locais da social-democracia perceberão em breve que a sua vida estável pode ter os dias contados. Paulo Cafôfo, a ganhar 2019, precisará de lugares para a sua clientela. Se até aqui ele dirige uma escandalosa central de empregos, com 'compra' de apoiantes à descarada e a rodos num processo eleitoral partidário, como é público e notório, imagine-se o batalhão de aspirantes a emprego à espera que o homem se sente nas Angústias! 

Numa palavra: a menos que duplique o número de postos de trabalho na máquina da Função e afins, Cafôfo terá de pôr na rua chefes e chefinhos, directores e directorzionhos, assessores e adjuntinhos, secretárias e companheirinhas - desses e dessas que pululam no desgoverno laranja. Então, pode muito bem a máquina dos Netos perceber que o regresso ao PSD totalitário, cantando, rindo e em unidade, ainda é o melhor caminho para que todos se aguentem nos camarotes construídos em 1976-78 quando da implantação do sistema. Aí, o caciquismo tradicional faria o resto. E os votos PSD para Cafôfo escasseariam.

Caso Cafôfo tranquilize os actuais adversários, na tentativa de fazer desmoronar a ainda maioria, então reclamarão os carreiristas do 'saco de gatos', que já sonham com um Eldorado socialista, para si e para os seus - como se tem ouvido pelas esquinas, tal é o descaramento.

Não sendo inatingível o tal passeio com o qual contam os PS's, como se de um momento a outro se tivessem tornado num grande partido, há muitas questões que afligirão Paulo Cafôfo. A começar por ele próprio. Ele mentiu descaradamente nestes anos, contradisse-se, falhou promessas, cometeu azelhices de carácacá, e mesmo assim o eleitorado deixou passar. Mas é duvidoso que o estado de graça dure muito mais. Cafôfo precisa de crescer como político, em todos os aspectos, porque até o sorriso pepsodent pode ser de efeito efémero. Compreende-se que são apenas quatro anos e pouco de experiência política, mas as eleições regionais não se compadecem com os dramas de cada um.

Tudo isto apesar de o homem estar investido do papel de 'nó górdio' da vida pública madeirense. O antigo gigante PSD precisa desesperadamente de o travar durante a corrida ou de o derrotar no sprint final. E a oposição, olhando ao panorama presente, sem ele continuará nas ruas da amargura. Cafôfo é incontornável nas próximas decisões. O PSD até sonha com uma condenação no caso do Monte. O que não passa de um sentimento derrotista. Vencer um jogo porque o adversário está com gripe, Deus me livre. Obviamente que tudo depende das decisões do tribunal. Mas festejar um desenlace desses, por favor.

Cafôfo conta certamente com uma arma secreta: José Manuel Rodrigues. O antigo líder do PP está de regresso à luta pela liderança no seu partido e pode continuar a ser um apoio à maioria Confiança - digamos assim. Mas há que andar de pé atrás. Se Zé Manel reconquistar mesmo a liderança nos populares, o seu objectivo número um será chegar, finalmente, ao poder na Região. E se o meio mais eficaz para o conseguir for de braço dado com Albuquerque, ele não hesitará, por mais 'rabo preso' que ainda tenha na Bagunça Municipal. É política.

Olhando para 2019, já nos assusta a ligeireza dos que vão disputar o poder regional. Este PSD já mostrou que cabeças aéreas não resolvem problemas nenhuns à Madeira, só os agravam e muito. A provável alternativa - PS com Cafôfo - pegará nas facilidades de financiamento que António Costa vai disponibilizar em nome do mapa cor-de-rosa, para, em caso de vitória, permitir aos madeirenses mais uns anos de boa vida, como forma de prolongar os novos-ricos no poleiro. Com mãos largas, Cafôfo e António Costa, cada qual no seu campo, garantem agenda dourada para dois ou mais mandatos. E qual é o problema? O problema é que o dinheiro fácil já mostrou os malefícios que causa às sociedades. Sabemos dos 100 milhões (de contos) que Guterres perdoou e ninguém nos tira das costas o peso dos tais 6,5 mil milhões (de euros). Tudo resultado de modelos económicos assentes em soluções para o presente e desprezo pela sustentabilidade do futuro. Dá votos baixar impostos e aumentar vencimentos, deixar o povo descansar ao sol e importar tudo. A esta geração não dói nada, bem pelo contrário. O pior são as gerações futuras - e não esqueçamos que já estamos a pagar loucuras do passado, aos níveis regional e nacional. Emanuel Câmara já deu uma entrevista em que deixou o mote: o PS-M vai contar com as pessoas, não com os números. Porque - explica - há custos que são investimentos. É tudo bonito para as agendas deles, mas a agenda da Madeira não se resume a 8 anos. 

Nessa entrevista, ele diz que vai ser o árbitro no PS, que será ele a mandar. Mas depois, ao falar do governo, também diz que será ele a mandar, que decidirá se será secretário regional ou não, e por aí fora. Pelos vistos, Cafôfo vai ficar limitado a governar com a estratégia governamental que o Câmara determinar, possivelmente ouvidos os estados gerais, e a governar com o elenco executivo que o líder do partido destacar. Claro que não será assim. Emanuel está a falar às avessas, deixá-lo brilhar que a hora é dele.

Cafôfo é que transmitirá o que o lobby Lisboa-Funchal determinar. Mas será ele a ouvir dos que embarcaram nesta Bagunça e depois ficaram fora do Eldorado. Emanuel já está a criar maus costumes, dando a entender que a formação de um governo deve ser colegial, consensual. Lindo serviço, se Cafôfo enveredar por aí. O antigo e experiente Jardim do PSD nem ao travesseiro confessava os nomes a contactar para o governo e ainda assim teve alguns dissabores, quanto mais estes pequenos democratas!

Pois é, Paulo Cafôfo deixou-se levar por uma velha com as rugas cheias de creme e os falidos lábios pintados a vermelho. Mas é uma velha que não perdeu os vícios de sempre, agora ainda mais intratável, rabugenta, desinteressante, chata e feia como o escuro. Apesar das promessas de unidade, qualquer dia ele verá o que será essa zaragateira a partir louça dentro de casa. Vão ser elas, quando o raio da velha lascar o lençol. Então quando a nova estrela precisar estrategicamente de piscar o olho ao eleitorado do PSD e da oposição, a ciumeira é capaz de causar alguma desgraça pr'aí. Ou achará o Cafôfo que, apesar do seu populismo, é milagreiro capaz de aquietar por muito tempo o saco de gatos? 'Pera aí. Parece-me ouvir um sinistro e familiar afiar de facas.