INSIPIÊNCIAS OU INCIPIÊNCIAS,
OU SEJA LÁ O QUE FOR
João Barreto
O Diário de Notícias, na sua edição de hoje (ontem), 11/01, brinda-nos com uma reportagem sobre o setor dito “vimeiro” que começa por surpreender-nos pelo título. No mesmo fala-se em valores destinados ao setor que são classificados como “INSIPIENTES”.
Julgando tratar-se de uma gralha que pode acontecer aos melhores, progredi no texto e logo abaixo encontro a transcrição de que o Sr. Dr. Ivo Correia, empresário do setor “vimeiro”(?), o qual referindo-se aos valores inscritos no PIDDAR para o mesmo declarou-os “insipientes”.
Nestas situações, parto sempre do princípio de que a ignorância é minha: afinal a língua portuguesa é uma das mais antigas da Europa e do Mundo e o seu vocabulário é incomensuravelmente rico (para além das asneirolas que regularmente lhe vão acrescentando).
Assim, fui consultar os meus dicionários, deixando de lado o clássico de José Pedro Machado, e recorrendo à consensual (pós acordo ortográfico) edição do HOUAISS – Dicionário do Português Atual (1ª edição Círculo de Leitores, 2011).
Resultado: “Insipiente – adj 2g. 1. Não sapiente; ignorante. 2. Tolo, néscio. 3. Sem juízo, insensato, imprudente”
Pensando, julgo que corretamente, que nenhum dos apodos acima se aplicaria com propriedade a valores inscritos no PIDDAR e presumindo que nem o jornalista, nem o entrevistado os estariam a dedicar ao autor do documento que, de tão preclaro, foi aprovado pela digníssima Assembleia Legislativa da Madeira (mau grado os votos contra dos suspeitos do costume), persisti em desconfiar da minha ignorância: seria, por certo, erro de grafia, arreliadoramente duplicado! Foi ver! E como a ventania de Augusto Gil, “nem uma única agulha bulia, na quieta melancolia dos pinheiros do caminho”.
Segundo o mesmo dicionário HOUAISS: “Incipiente” – adj 2 g. que inicia, que está no começo, inicial, iniciante, principiante.”
Também não eram adjetivos aplicáveis, em qualquer dos géneros, a cifras do PIDDAR. Tudo se resumia, afinal, a pura ignorância dos circunstantes: um, esplendoroso empresário e, deve lembrar-se, parlamentarmente designado presidente do Conselho Económico e da Concertação Social; outro jornalista de um diário mais do que centenário.
Os dois, juntos à dinâmica presidente do IVBAM, prometem grande futuro ao setor “vimeiro” (não queria insistir na malevolência, mas esta palavra simplesmente não consta do referido dicionário). Quanto ao Conselho Económico e da Concertação Social, nem sequer quero pensar!
8 comentários:
Esteja o adjectivo bem ou mal aplicado, o certo é que efectivamente a indústria do vime na Madeira anda pela rua da amargura. Pelo que sei e é visível, o empresário visado nesta crónica tem tentado revitalizar o Café Relógio que, verdade seja dita, sempre aparece agora com melhor imagem. Os responsáveis do governo o que têm feito pelo sector? Há algum plano ou política prevista? A Câmara de Santa Cruz tem planos para a Camacha? O que pensam os agentes turísticos? O Sr. João Barreto tem alguma ideia sobre o que realmente interessa ou limita-se a dar umas de doutorado em linguística?
Logo, a insipiência produz resultados incipientes.
O Diário, está cada vez mais "insipiente"...
Obviamente meteram água! Mas da boa: Água do Vimeiro, pois então!
Como diria a minha avó: "Não apanharam com um cipó nas canelas em pequenos!"
Quem diz um cipó, diz um vime, bem entendido!
Mas punições corporais aos meninos-bem da Camacha devia de ser uma quimera e por isso deram no que deram: estoira-vergas do dinheiro alheio e algo mais...
Tinham rédea solta e castigos corporais, só já em adultos, quiçá em orgias e bacanais!
Dizem... Que eu não vi, não comi mas também não fui comido!
Um ex-culaborador do Centénio
o problema é que o diário "correu" com todos os revisores de ortografia e gramática! E o resultado não poderia ser outro! Todos os dias se encontra erros de agressões à língua de Camões! Há uma cabecinhas que dizem que os computadores resolvem tudo! Os computadores que resolvam!
A língua portuguesa parece complicada.
Benditas reguadas que me inculcaram semântica e ortografia. Tenho vergonha de ler por vezes coisas escritas por doutores e até por jornalistas.
Não sou daqueles que está sempre a dizer "no meu tempo...", mas que algo mudou, isso não tenho dúvidas.
Não me parece que o adjectivo incipiente esteja mal entregue.
Quando o empresário o emprega é no sentido de ser tão pequena a verba, que só dá para algo no começo, no início, e não para uma actividade já existente e que precisa ser revitalizada.
Discordo desta interpretação à letra do articulista, por simplista e fechada. É preciso mente aberta quando se interpreta, e, deve-se sempre verificar o que é pretendido.
Mas que se escreve muito mal, e se fala com imensos erros, isso de acordo.
Quanto a erros ortográficos o DN é uma vergonha.
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