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quinta-feira, 19 de março de 2020



Mais Ciência, menos Retórica



Não é por ser do Chega que o cartaz deixa de ter toda a razão do mundo.


Que Marcelo Rebelo de Sousa é um discípulo serôdio de Maquiavel, alguns perceberam há perto de 50 anos. Que, depois destes quase 50 anos, a esmagadora maioria não conseguisse descortinar pelo menos alguns truques do prestidigitador-mor da política portuguesa, é espantoso.
Povo sem malícia, como diria o outro.
No passado dia 9, o Presidente da República (é assim que ele se trata a si mesmo) cedeu a mais um ataque de hipocondria e anunciou que a sua agenda estava suspensa por duas semanas. Pelo que se trancaria na sua casa em Cascais mesmo sem sintomas específicos de coronavírus. É que entre os alunos de uma escola de Felgueiras que visitaram Belém, encontrava-se um se calhar infectado de 19. 
Acto contínuo, Marcelo submete-se ao teste do coronavírus. Mas nada.

Na ocasião, António Costa, em lugar de o chamar energicamente para a batalha que na rua já assustava 10 milhões de compatriotas, mandou-lhe miminhos: parabéns pelo resultado do teste e parabéns pelos 4 anos de mandato presidencial.
O teste deu negativo? Hum... Prevenir é o melhor remédio. Então, o Presidente armou-se em médico e decretou para si próprio uma quarentena de 14 dias no quentinho do lar, para evitar resfriados-19. Ficou a ler, a lavar louça e a pôr roupa a lavar. E a mostrar-se aos jornalistas na varanda (à distância regulamentar de algum infectado).
Entretanto, perante a escalada de mortes na China, Itália e já a um ritmo assustador na vizinha Espanha, António Costa, a ministra Marta Temido e Graça Freitas da DGS viam-se na obrigação de ir entretendo o país com recomendações mais do que óbvias e apelos à serenidade e unidade dos Portugueses.
Pois se não podiam tomar medidas drásticas enquanto o Presidente estivesse refastelado de sofá em Cascais a ver a TV dizer que o Sr. Presidente estava bem de saúde!
Neste interim, Miguel Albuquerque e Vasco Cordeiro desesperavam pelo desbloqueamento em Lisboa de uma autorização para fechar os aeroportos das Ilhas.
E o número de mortos em Itália a subir exponencialmente. E o pânico a propagar-se em França. E a Espanha, também perra de movimentos, a ver aumentar os óbitos (o Rei só agora apareceu a falar...).
Quando teve a certeza de que a sua saudinha estava garantida, Marcelo espreguiçou-se, abriu o olho e revelou: agora é preciso tratar do povo. E, lá no seu esquisito conceito de emergência, prometeu reunir o Conselho de Estado três dias depois, quarta-feira. A justificação é que a Constituição exige esses três dias. Pergunta-se: era obrigatório ouvir o CE? Não. A decisão é PR-Governo-AR.
E se eram mesmo preciso três dias, então o Marcelo que falasse mais cedo - até podia fazê-lo 15 dias antes, quando o País já andava com as calças na mão, salvo seja.
Portanto, a vedeta de Belém - sempre com todos os cuidados de 'isolamento social' - sentiu-se bem seguro, a ponto de aparecer ao povo com Bandeira Nacional e tudo, depois de uma aparição apalhaçada pelo skype ou coisa que o valha. E lá veio anunciar o estado de emergência, ainda por cima um decreto que não é carne nem é peixe.

O problema da postura do Chefe de Estado neste processo de vida ou de morte não é o seu imobilismo pessoal. Ter ficado de quarentena é lá com ele. O problema foi deixar o País de mãos atadas quando era preciso contra-atacar a 'peste' que vinha a caminho, fosse como fosse. Se apenas tivesse ficado calado! Mas não, ele resolveu atrapalhar quem está a trabalhar com conhecimento e a arriscar a vida pelos seus compatriotas.
Que veio dizer o Marcelo na prédica ao povo? Além de abrir portas à tímida emergência, veio lançar a esperança sobre o povo. Portugal já atravessou muitas outras crises e venceu-as sempre, pois desta vez nós vamos vencer outra vez, porque somos Portugal. Foi o que ele arengou p'ra lá.
Imagino os palavrões que muitos portugueses, fechados em casa, deixaram escapar baixinho. Realmente! Lá que a crise vai passar sabemos nós. 
O cólera-mórbus na Madeira em 1856 também foi vencido, quatro meses depois da sua aparição e de cerca de 10 mil funerais! Grande vitória!
Já agora, passemos os olhos pelo Elucidário, para não nos chamarem a nós de separatistas: "A cólera-mórbus grassava intensamente em Lisboa e, no Bairro de Belém, a epidemia tinha-se manifestado com extraordinária virulência. Nesse bairro, estava aquartelado o regimento de infantaria n.º 1, que o governo central, numa criminosa imprevidência, fizera seguir para a Madeira, onde chegou na tarde do dia 28 de Junho, desembarcando imediatamente e indo ocupar o extinto convento de S. Francisco." 
Imagina-se o resto. Só no dia 31 de Julho, morreram 162 funchalenses (em 24 horas, pois).
Também a epidemia de 1910 foi vencida, mas depois de matar 556 madeirenses. Situação agravada pela recusa de Lisboa ao pedido de ajudar com meia dúzia de reis para reforçar as instalações sanitárias do Lazareto.
Pois desta vez não nos mandaram regimentos infectados nem recusaram obras no Lazareto. Apenas ignoraram o pedido para fechar os aeroportos numa altura em que havia cá zero infectados de Covid-19.

Esqueçam a retórica do patriotismo de que os Portugueses vão vencer também esta crise letal. Não vamos para uma guerra contra um inimigo tradicional, dispensamos discursos para nos encher o peito de valentia.
Do que precisamos agora é da Ciência. Não de Retórica. Precisamos dos avanços investigativos que conduzam à vacina salvadora. Precisamos do conhecimento dos nossos profissionais da Saúde - e precisamos da sua coragem, provada já em todo o Portugal.
Precisamos das briosas classes médica e de enfermagem. Que não lhes falte a frieza para colocarem em prática a sua ciência, a experiência, os conhecimentos, a abnegação e o amor ao próximo.
Precisamos de todos os profissionais que enfrentam o traiçoeiro inimigo nos ambientes perigosos dos hospitais e afins, desde os bombeiros aos maqueiros, administrativos, pessoal da limpeza. 
Precisamos da solidariedade e da coragem dos fabricantes que continuam sob risco a fazer pão para o País. Dos empresários que ainda tentam inventar modos de não fechar portas à vida dos seus compatriotas. Dos funcionários das grandes superfícies e do comércio imprescindíveis ao dia a dia do povo em quarentena. Da coragem dos motoristas que transportam quem vai trabalhar para nós todos. 
Precisamos também da tranquilidade e inteligência dos milhões que aceitaram ficar em casa.

O tempo é de Ciência, Conhecimento e Coragem. Não é de propaganda, aproveitamento e milagres.
Como dizia o escritor madeirense Carlos Martins, até o Papa, quando está aflito com uma doença, larga o rosário e a água benta para se agarrar aos melhores médicos do mundo.
Não sei se repararam, mas o bispo que mandaram para cá disse um dia destes que a maior tristeza da sua vida foi rezar missa com o templo vazio. E a gente a pensar que a maior tristeza do Nuno era ver tanta gente morrer num calvário sem fim à vista!
Até o povo começa a dar prioridade à Ciência, e daí as igrejas vazias e o santuário de Fátima aos pardais. E, apesar da sua grande atoarda para campónio ouvir, não acredito que o bispo Nuno esteja a fiar-se na Virgem. Tal como nós, acho que desta vez vai fiar-se mais na vacina, que está prestes a brotar da cabeça dos cientistas - e não dele.

Fora com todos estes atrapalhos. Deixem os nossos profissionais tratarem o drama de Ovar. Muita força e competência aos profissionais de Saúde em Portugal Continental, Açores e Madeira. 
E fora com os atrapalhos. Os que experimentaram a quarentena por sua conta, para salvarem o cabedal enquanto o País ficava à mercê do inimigo - esses, a começar pelo maquiavelinho à portuguesa, podem continuar de quarentena para sempre, que nenhuma falta fazem por estes lados. 
Ilustramos esta peça com um cartaz do Chega. É onde vemos apontar que o rei vai nu. Pode ser uma lição para Costa, Rio, Catarina, Jerónimo e mais uma boa leva de acomodados e carreiristas deste País.

23 comentários:

Anónimo disse...

Mas há neste rectângulo plantado à beira-mar algum partido mais populista e oportunista que o Chega? A caça aos votos para a presidência da república já começou, e no meio de uma desgraça descontrolada, que é a pandemia do "vírus chinês" como lhe chamou outro político da Trampa. Mas para o srº Ventura essa coisas de falsos moralismos, é coisa que conhece bem. Veja-se as suas prestações no CMTV, e onde se consegue descobrir que os demagogos e os vendedores de banha de cobra, ou banha de covid, continuam a alastrar mais rápido do que qualquer corona!

Anónimo disse...

Caro Calisto,

até acho que foi brando com as personagens que se governam neste país.

Infelizmente, apesar de tudo o que referiu e mais algumas coisas, essas personagens vão continuar a representar o seu papel, a ludibriar os portugueses e a serem levados ao colo a troco de esmolas, novelas e futebóis.
Vão continuar a receber fortunas todos os meses, mais subsídios, benesses e reverencias com o patrocínio dos media alinhados e alimentados pelo poder.

Resta-nos acreditar nos profissionais de saúde e na sorte.

Anónimo disse...

Anónimo das 14:54, e que tal uma palavrinha sobre o tema do texto?
Com tudo aquilo que se está a passar e a sua preocupação é o ventura da cmtv??? Fosse esse o grande problema do país.

Anónimo disse...

Calisto,
Li a sua interpretação da ausência do Presidente da República na sua quarentena voluntária.
Uma interpretação é que Marcelo esteve mal porque sem qualquer sintoma se recolheu.
Outra, é que Marcelo esteve bem ao dar um exemplo, permitindo assim que a sua atitude fosse didática e demonstrasse a necessidade de recolhimento.
Qualquer delas é válida.

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...

Na Madeira os politicos do CDS,PS e PSD estão em quarentena com o Grupo Sousa e com os donos disto tudo há anos e a vihloada ainda acredita neles.

Luís Calisto disse...

20.16
O exemplo que o cavalheiro deu foi o de fugir quando devia enfrentar o problema, como o País. Com a agravante de ter impedido o governo de saber com que linhas se coser na grande luta. Foram mais de 10 dias com o País a ver o inimigo às portas do castelo e sua excelência no bem-bom. Este é que é o problema. Fugir e deixar o País em suspenso, à mercê da pandemia, foi o exemplo que ele deu. Ao contrário dos profissionais das áreas da Saúde, que combatem corajosamente nas trincheiras da frente para defender os seus compatriotas.
Dez dias espojado para convencer os portugueses a ficarem em casa, quando a ordem ainda nem sequer era essa - podemos considerar esse comportamento uma 'atitude didáctica'?
Se me permite, o seu comentário não aborda o cerne do artigo, é antes uma especulação para desviar atenções.

Anónimo disse...

Este texto não é mais que um retato real e sensato da realidade que nos vai convencendo dia a dia, à custa da evidência.
Quantos infectados surgiram com estas politiquisses?
E agora ainda querem defender a economia?! Não vale a pena e mesmo que queiram não vão conseguir!
O tempo é de manter a vida, hibernar e a seu tempo, renascer!

Anónimo disse...

Repararam que enquanto o governo açoriano parou com os voos da Sata para as ilhas, o Costa garantiu (como se isso fosse uma dádiva) voos comerciais diários da TAP. Afinal estamos num estado de ingerência. O Governo da República tem muito com que se preocupar e medidas a tomar, deixem as regiões tomar conta de si, são outra realidade e têm demonstrado que sabem o que devem fazer.

Anónimo disse...

Calisto,
Eu percebo a sua interpretação e concordo com ela. Acho que Marcelo baqueou perante a sua hipocondríase. Aliás não se percebe de todo que, se os alunos da escola de Felgueiras representavam perigo, porque é que todos os funcionários do Palácio de Belém que contactaram com os estudantes não entraram também de quarentena, mas apenas o presidente.
Não me parece que o meu comentário seja especulação. Apenas manifestei a existência de uma outra interpretação, que em vários meios considerou a atitude de Marcelo como didática para demonstrar ao povo a necessidade de quarentena.
E não tem qualquer intenção de desviar atenções.
Aliás, indo mais além, digo mesmo que o presidente foi exagerado nesta declaração do estado de emergência, em que se escudou no parecer de um Conselho de Estado constituído maioritariamente por indivíduos de terceira idade, assustados no seu grupo de risco.
A declaração de calamidade pública era suficiente, até porque permite todas as medidas que o governo tomou, e algumas que o governo ainda tomará com o decorrer dos acontecimentos.
E, se o presidente geriu muito mal esta situação, também me preocupa a ligeireza e se calhar o apoio do povo à declaração do estado de emergência, que, suponho, não tem a noção do que significa.
Felizmente para nós portugueses, António Costa com todos os seus defeitos e as suas qualidades, é um homem com uma profunda cultura democrática, e com uma apurada noção do que é e deve ser um Estado de Direito.
Finalizo dizendo que, quer António Costa, quer Miguel Albuquerque me têm surpreendido pela positiva nesta crise.

Anónimo disse...

É o País que temos,todos nós conhecemos Marcelo 'comentador" ,desde que não haja beijos , abraços e selfie o homem fica doente. Lembrem que as eleições presidenciais estão à porta, é necessário tratar todos os assuntos com pinças eleitoralistas,o POVO que espere, o rei vai nu.
A respeito do nosso D.Nuno é mais do mesmo ,e há aquela máxima popular para homem pequeno que nem vale a pena mencionar. Afinal Albuquerque tinha razão quando foi tratar da vida enquanto o alfacinha aterrava no CR7 . O homem preocupa-se ,o contágio apenas é possivel na catequese e procissões não no ofertorio .Quem DEUS me perdoe! O nosso Presidente tem trabalhado bem ! FORÇA....

Anónimo disse...

Passageiros que aterrem na Madeira e que não tenham residência na Região, vão compulsivamente de quarentena para a Quinta do Lorde.
Muito bem, dentro da Lei e sem necessidade do OK do Costa.
É isto que se quer de um governo:Inteligência e pragmatismo.

Anónimo disse...

Parabéns ao Grupo Sousa pela cedência do Praia Dourada!! O momento é de união, solidariedade e preservação da comunidade.

Anónimo disse...

12.20
Afinal eles ainda fazem algo para bem da população ao contrário de outros grupos que por cá abundam e alguns em que a Madeira só serve para seu agasalho nos momentos de aflição.

Anónimo disse...

O Primeiro Damo da Ponta do Sol pôs-se a asneirar,é só retórica, era melhor ficar calado.... deixe de escrevinhar tontices no face com intuito de criar clivagens entre residentes e turistas..afinal também não és de cá, mas sempre foste bem tratado na Terra que te deu acolhimento.... é por essa e por outras que o PS Madeira vai bater no fundo!

Anónimo disse...

14.59
Pelos vistos a clivagem entre Residentes e Turistas não foi criada por ele, mas sim por outros há já alguns dias, até houve uma Empresa de Autocarros que durante 2h não admitia turistas nas suas carreiras.
Nesta hora temos de dar as mãos e não vir para aqui desviar preconceitos que infelizmente foram tomados e alguma cagadinha feita que mais tarde vamos precisar deles. Não sou politico e até acho que deveria haver um viris politico, mas neste caso ele infelizmente tem alguma razão pois houve muita gente na direção governativa da Madeira que atuou muito nervosa,não refletindo nas consequências que as medidas que queriam tomar. Felizmente houve alguém a nível Nacional com pensamento Estadista que não deixou a Ilha se naufragar no descalabro. Este não é o tempo para medidas populistas.

Anónimo disse...

É preciso muito cuidado como se tratam as pessoas.
Hoje, assisti e fui obrigado a intervir, quando num determinado estabelecimento de comércio alimentar uma senhora estrangeira residente na Madeira há mais de 20 anos foi destratada e quiseram recusar-se a servir o seu pedido.
Estrangeiros não são inimigos. Residentes são residentes independentemente da nacionalidade, e maus comportamentos há com turistas visitantes, ou madeirenses dos quatro costados.
Atenção.

Anónimo disse...

20.27(1°Damo), Lol. Tasse mesmo a ver..., assim o Costa tivesses sido cagadinho e nervoso. Não tá bem a ver mas já não sei se vai a tempo é que a cada dia que passa são mais 260, 300, 370 infectados e aqui vamos até que daqui a 2 semanas tomem as medidas que o GR tomou ou queria tomar à 1 semana atrás.

Anónimo disse...

Dossier de imprensa: Miguel Silva/JM, canon (come on)... , descanse, poupe-se. Seja jornalista e não queira ser opinion maker.

Anónimo disse...

Miguel Silva/JM:também não queira ser influencer. Quer defender quem? A vida das pessoas ou a rentabilidade dos empresários? Conhece algum patrão que no final do ano económico tenha tido lucro e tenha dado 1% ao governo? Não conseguem pagar o ordenado de um mês em que 13 dias foram normais, 5 assim assim e 10 maus? Popue-me. Está a defender quem? Onde está o bom senso, a ideologia?

Anónimo disse...

Alguém percebeu o comunicado do Presidente sobre a convocação do Representante da República Madeira e Açores?

Anónimo disse...

Afinal o aeroporto deve fechar ou não?
Cafofo falou com Marcelo para fechar o aeroporto! Em que ficamos? As medidas

tomadas pela Madeira são boas ou não?
Será que há desespero ao ver chegar ao fim de mandato e ter apenas para apresentar uma mão cheia de nada? A mulher é simpática ,nao digo que não esteja cheia de boas intenções, mas nao encontra a chve de ignição . Estou à espera porque quero o melhor para a Ponta do Sol, do outro lado da barricada já desapareceram à anos. Veremos após o virus chinês!!!

Anónimo disse...

06.51,
Cafofo falou com Marcelo?
Se falou com algum assessor secundário, terá sido o melhor que consegui.
Acha que o presidente vai estar a falar com qualquer deputado regional ou nacional?