OS AGIOTAS DO REGIME

Gil Canha

Quem acompanha a atividade do atual parlamento regional percebe bem por que razão o sr. José Manuel Rodrigues afirmou que esta nova assembleia tinha um discurso mais elevado que o anterior parlamento. Efetivamente, este novo parlamento é uma extensão e uma representação canina dos grandes grupos económicos que tomaram conta disto tudo após o triunfal enriquecimento proporcionado pelo regime ditatorial de Jardim. 

Uma das características dum regime oligárquico é a domesticação e o controlo absoluto dos agentes políticos, no sentido de não haver grandes perturbações, alvoroços ou rebeldias por parte de espíritos mais críticos que lhes estragam as grandes negociatas. É por essa razão que não é inocente a recente tomada de assalto dos jornais mais importantes da região por estes mesmos grupos económicos, nem são inocentes as palavras de JMR, quando diz que o ambiente tem de ser cordato e calmo, precisamente, porque ele sabe melhor que ninguém - que uma vaca leiteira para dar de mamar copiosamente não pode ter moscardos esvoaçando à volta das orelhas. 

Nunca os grandes grupos económicos estiveram tão bem como agora, onde não sopra uma crítica nem se levanta uma denúncia. Se percorrermos o atual espectro político, desde a direita até a esquerda, excetuando talvez os JPP, não encontramos ninguém que ponha em causa o desmesurado poder dos “Donos Disto Tudo”. 

Aliás, se metêssemos numa barca o sr. Albuquerque, o sr. Cafofo, o sr. Iglésias, e o senhor Rodrigues, iriam andar todos à bordoada a bordo por questões da saúde, por questões de ambiente, por questões de educação, por questões de lana caprina, etc…, mas ninguém, mesmo ninguém, se distrairia em remar ordeiramente a barcaça em direção aos Sousas, aos Avelinos e aos Pestanas. 

E o mais confrangedor é que todos aqueles que lutaram contra a feroz ditadura jardinista estão completamente apeados do poder, substituídos por este bando de oportunistas cafofianos e falsos renovadores alaranjados, a maioria políticos vendidos, cobardes, traidores, corruptos e acagaçados (um atchim de Jardim nos velhos tempos metia-os de cama) mas que triunfaram, graças à manha, à mentira, à perfídia e à propaganda paga a peso-de-ouro com dinheiros da assembleia e das autarquias. 

Se não fossem os “loucos” e revolucionários do PND, nem os renovadores de Albuquerque tinham dado o golpe num Jardim enfraquecido e combalido pelo desgaste imposto por estes “estroinas”, nem o canalhedo cafofiano tinha saído dos buracos onde, borrados de medo, andaram anos escondidos. 

Dizem que as revoluções devoram os seus filhos, mas, no nosso caso, a queda de Alberto João em vez de fazer nascer uma elite de jovens quadros, bem preparados e motivados para administrarem com responsabilidade e honestidade a coisa pública, pariu esta geração postiça de políticos oportunistas e reles, completamente incultos, e ainda por cima vendidos aos grandes interesses da “rataria” engordada por Jardim/Albuquerque. 

Esta nova cambada de celerados peraltas que assaltou os melhores cargos da administração pública e se fizeram deputados no tal serralho parlamentar de que o sr. Rodrigues tanto se orgulha fazem lembrar os “Incroyables” do pós-Revolução Francesa. 

Nos tempos do Diretório (1795 e 1799) e quando a maioria do povo francês passava dificuldades, surgiram uns jovens ociosos e arrogantes, que se auto-intitulavam de “Incroyables”. A maioria eram especuladores e agiotas que tinham feito fortuna à custa da Revolução e que nunca tinham sofrido as agruras do Ancien Regime. Esses jovens dândis vestiam-se com roupas extravagantes, meio efeminadas, usavam cabelos compridos e sapatinhos bicudos bem brunidos (sem dúvidas mais bonitos que os sapatos e óculos vermelhos do Cafôfo) e julgavam-se os maiores de França. Um dos seus passatempos preferidos, além do pavoneio pelas ruas de Paris, era escarnecerem dos “sans-cullottes” que fizeram a Revolução. 

Tempos mais tarde, Napoleão pegou nesses peraltas vaidosos e meteu-os a marchar pelos duros caminhos da Europa, e alguns deles até deixaram as ossadas na geladeira da Rússia. 

Quem sabe se um dia a viloada não acordará do seu eterno sono e mandará para o inferno gelado napoleónico esta nova classe de políticos parasitas que tomaram conta da ilha?