As Regionais de 2019 vão decidir

quem é o falso profeta mais sedutor

Emanuel Câmara ganhou as eleições para Presidente do PS Madeira com um programa “mobilizador e reformista” ¹. Na verdade, 57% dos eleitores socialistas sufragou a única proposta do seu programa: Apoiar, nas Regionais de 2019, Paulo Cafôfo como candidato a Presidente do Governo Regional.

No rescaldo da vitória eleitoral, Emanuel Câmara apresentou, no congresso do PS Madeira, a moção “Um futuro pelas pessoas”, garantindo “sim estamos prontos para governar”, “podem acreditar em nós”. Apenas nos move uma causa: “Mudar o Governo Regional do PSD”. Mais uma vez os eleitores do PS Madeira deram o seu apoio a Emanuel Câmara num claro “sinal do que é ser socialista na Madeira: proximidade às pessoas” ¹.

Nos dias seguintes, a euforia da vitória contagiou os militantes socialistas e, um pouco por toda a Região, surgiram cânticos ao profeta Paulo Cafôfo considerando a sua vitória nas Regionais de 2019 como um dado adquirido. Em reação ao otimismo socialista, Miguel Albuquerque reagiu “garantindo nunca ter assistido a “nenhum jogo cujo resultado fosse anunciado antes da final da partida” ².

No entanto, poucos dias depois foi publicada uma sondagem onde Paulo Cafôfo (39,8%) superava claramente Miguel Albuquerque (30,2%) nas intenções de voto e, como era de esperar, surgiram reações de todos os quadrantes políticos a uma vitória histórica de Paulo Cafôfo nas Regionais de 2019. De entre a miríade de reações, destaco a do filho de Emanuel Câmara vociferando que o “PS está pronto para riscar Miguel Albuquerque e o PSD do poder e da governação desta terra”.

Esta reação fez-me lembrar “Ganhei coragem” ³, um texto que analisa o que move o povo nas eleições. Para Rubem Alves, “o povo é movido pelo poder das imagens e não pelo poder da razão. Quem decide as eleições e a democracia são os produtores de imagens. Os votos, nas eleições, dizem quem é o artista que produz as imagens mais sedutoras” ³.

Para justificar este comportamento do povo, Rubem Alves argumenta que já na antiguidade “o povo preferia os falsos profetas aos verdadeiros, porque os falsos profetas lhe contavam mentiras. As mentiras são doces; a verdade é amarga”. Na sua opinião “uma das características do povo é a facilidade com que ele é enganado”, e que essa tendência se deve ao facto de que “os indivíduos, isolados, têm consciência. São seres morais. Mas o povo não é moral. O povo é uma prostituta que se vende a preço baixo” ³.

Não sei se Rubem Alves está certo. Mas sei que, até às Regionais de 2019, há muito tempo para ocorrerem eventos imprevistos com impacto significativo na conjuntura política regional. Assim sendo, só o tempo nos poderá dizer se “Um futuro pelas pessoas” não se transformará numa mentira tão amarga como a “Renovação”.

J. C. Silva

¹ http://www.dnoticias.pt/madeira/equipa-de-emanuel-camara-garante-sim-estamos-prontos-para-governar-AC2703561

² http://www.dnoticias.pt/madeira/ps-m-esta-dividido-mas-tem-o-rei-na-barriga-diz-albuquerque-EA2640420

³ http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz0505200208.htm