Coligação de direita encrencada

Está na mão de José Manuel Rodrigues a chave de um problema que também passa pela posição dos duros do Laranjal favoráveis à troca de Albuquerque por Pedro Calado na liderança do Governo

Dos dois lados da coligação em estudo chegam informações coincidentes, mas algumas dificilmente compagináveis.  

Sintetizando, podemos dizer que do lado dos centristas existe a presunção de que conversações a sério com o PSD só depois de quinta-feira. Mais: que o imbróglio da coligação - sim ou sopas - pode ficar para depois das eleições nacionais de 6 de Outubro.

Há quem receie que protelar a grande decisão facilita o trabalho de Paulo Cafofo, que estrebucha para substituir a aliança de direita em perspectiva por uma geringonça liderada por ele mesmo. Cafofo não perde tempo a fazer conjecturas e logo depois das eleições ligou 17 vezes para o telemóvel de Rui Barreto. Sem se esquecer de ligar também para José Manuel Rodrigues.

O motivo das ligações é evidente.

É também do lado do CDS que nos garantem diligências já em curso, como uma eventual visita ao Funchal de Paulo Portas, antigo presidente nacional do partido, com o objectivo de transmitir a Rui Barreto as suas experiências sobre a formação de uma coligação de direita.

Curioso: fontes que deviam estar por dentro deste episódio dividem-se entre a confirmação garantida da vinda de Portas e o desmentido formal.

Em que ficamos?

José Manuel Rodrigues continua no centro das grandes decisões. O antigo líder do CDS sente-se "com a faca e o queijo limiano na mão'. Depois de muitos anos em conflito permanente com o PSD, no tempo do jardinismo, Rodrigues tem sérias reservas quanto a uma coligação entre os dois partidos. Círculos próximos do político aceitam poder-se considerar que ele está "com o menino nos braços". Ou seja, se as negociações sobre a coligação com o PSD avançarem, Rodrigues pode decidir passar a independente no Parlamento, acabando com a maioria de direita - 21 deputados PSD com 2 do CDS não chegam à maioria de 24.

Dependeria portanto do seu voto deixar passar ou chumbar o programa de governo, caso o PS, o JPP e a CDU votassem contra.

Podemos garantir que José Manuel Rodrigues não exclui possibilidade nenhuma. Já lhe ouvimos um "a ver vamos", o que baralha os esforços do PSD e do seu próprio partido para formar governo.

A estas dificuldades, soma-se um problema que estará a fazer abanar alguns círculos do Laranjal. Todos ouviram Jardim comentar na noite eleitoral os resultados do PSD que não chegam para maioria absoluta. O antigo Presidente preconizou a entrada do partido no estaleiro para fazer "uns consertos", porque são necessárias "imensas e importantes mudanças internas... mesmo contra quem for teimoso".

O "teimoso" aplica-se a Miguel Albuquerque, sem dúvidas. E é aqui que se fala de uma onda interna, em linha com estas posições, no sentido de fazer avançar para Presidente do novo governo regional o actual vice, Pedro Calado. A ideia é fazer recuperar eleitoralmente o PSD através de uma governação mais musculada e próxima do velho jardinismo, campeão das maiorias absolutas.

Uma versão que não parece com 'pernas para andar', já que, para todos os efeitos, o PSD ganhou as eleições e o vencedor directo é precisamente Miguel Albuquerque.

O processo de acerto de coligações vai a este ritmo e com solavancos. As novidades atropelam-se. Por quanto tempo é que não se sabe.