Congresso cheio de Saúde...

e com surpresas boas

para o projecto Câmara-Cafôfo

'UNIDADE' morreu à nascença

Para o líder cessante, as coisas começaram sem ondas muito altas, mas a sua intervenção ambígua e o abandono dos trabalhos deixaram os rivais a 'macacar'... e a explosão deu-se no lavar dos cestos da sessão: Já noite, Carlos Pereira apanhou de todos os lados e, quando não havia mais onde bater, os indignados cafofistas viraram-se para a moção de Carlos e 'rasgaram-na' toda! 

Terça-feira passada, o rapaz escorregou ao saltar da camioneta da HF e estatelou-se desamparado pelo passeio pra lá, ficando muito maltratado. Conduzido ao hospital, sim, tinha fracturado a clavícula. Depois do primeiro socorro, a vítima do azar ficou ali 'empalamada', à espera da operação que lhe disseram ser necessária. Passa-se a terça-feira, a quarta-feira e, já na quinta, recebe ordem para regressar a casa e voltar no domingo à tarde ao hospital, para ir à faca na segunda. Oito dias depois! Nestes últimos dias, lá tem estado o rapaz cheio de dores, porque não lhe deram sequer os necessários medicamentos, ali para um canto da casa, ligado da cintura até ao pescoço, a rezar para que o domingo e a segunda cheguem depressa. 

Ora, é esta Saúde que não queremos. Sem a menor hesitação. Mas também não queremos aquela Saúde impecável e miraculosa que os socialistas andaram a prometer hoje no congresso, Saúde que, avaliando pelo poucochinho das intervenções que se puderam ouvir, dará vida às "Pessoas" até aos 120 anos e será capaz de curar até as algibeiras moribundas dos madeirenses. 

Não acredito em milagres, e agora?

Até porque, sejamos previdentes, já estamos a ouvir a Bagunça de "esquerda" pegar nas rédeas do poder regional em 2019 e, quando os madeirenses repararem que continuam com dores na perna, no estômago e sem remédios para a doença crónica - já estamos, pois, a ouvir as novas vedetas súcias imitarem a câmara de Cafôfo: não podemos fazer nada porque o PSD deixou a Saúde de pantanas, tenham paciência e vão gemendo e morrendo porque precisamos de 4 anos para arrumar a casa (ou o hospital, como queiram).

Até lá, continuaremos a ver os abutres em círculos sobre a Cruz de Carvalho e os Marmeleiros, a fazer figas com as garras pegajosas para que as altas problemáticas vão aumentando, os doentes profundos não tenham remédios para aplacar as dores insuportáveis, e sobretudo vá morrendo gente em número crescente, para poderem fazer a sua propaganda contra o status. É só dizer que o Cafôfo resolve aquela doença toda e Zé Pagode vota que é um regalo.

Não precisam disso.

Esta tarde, pelas amostras, foi um festival de Saúde lá dentro do congresso. Até Victor parecia um Nobel da Medicina a prometer injecções e ventosas ao povo doente. Digo 'pelas amostras' porque não consegui acompanhar o congresso pela RTP. A RTP esteve no congresso mas não fez reportagem do congresso, salvo ocasionalmente. Aquilo foram entrevistas e mais entrevistas, sem intervalo umas das outras, 'à margem' da reunião magna. Cobertura mais irritante! A gente sem conseguir perceber quem estava a falar e a dizer o quê. Sem podermos montar uma história do congresso. Como numa transmissão de um jogo de futebol em que o jornalista fosse entrevistando comentadores atrás de comentadores, para falar dos desaguisados que precederam o jogo e do futuro de cada um dos adversários, mas sem mostrar imagens do próprio jogo, só a cara dos entrevistados. No Casino foi assim, hoje. Para a RTP, os palcos do congresso eram os 'bastiões' ocupados pelas equipas de reportagem. O telespectador não descortinava quem conduzia a bola no palanque, qual a sua posição na estratégia da equipa, qual facção estava a dominar, ou sequer se havia facções. Que tristeza! Se aquilo é televisão!... Quem terá montado um (des)alinhamento que tão mal deixou os jornalistas de serviço e tanto desagradou a quem queria perceber o acontecimento que era o motivo da reportagem? Pessoalmente, gosto de conhecer as opiniões de Duarte Caldeira, Ricardo Freitas, Gil França, todos os muitos entrevistados ao longo da tarde. Mas só os queria ouvir antes da sessão ou depois dela. Podiam entevistá-los domingo, segunda, que diriam o mesmo, ou quase.

Com muita mágoa e sem meter no assunto o esforço dos profissionais que viabilizaram a transmissão em directo: uma tarde de não-televisão.   

No meio da tragédia jornalística, houve entrevistas oportunas, as que garantiam alguma pimenta, como as que foram feitas a Carlos Pereira e a alguns dos seus apoiantes, que deram um pouco de ânimo à reportagem ao deixarem claro que não engoliram a derrota e que há dois blocos no partido. Posições às quaise, em sentido contrário, corresponderam muito bem Avelino Conceição, Amândio Silva, Miguel Iglésias, Victor Freitas e sobretudo Emanuel Câmara, que a meia tarde avisou Carlos Pereira de que haveria um líder com galões dentro de poucas horas.

Agora que está tudo consumado, é curial reconhecer que estas 'pegas' internas dão vivacidade ao partido. Fazem parte do ADN socialista insular. Lembram-se da piada do saco cheio de gatinhos? Não só cá, atenção. Então o debate entre Soares e Zenha não é uma das peças mais apreciadas do histórico socialista português? E depois disso - apesar disso - não esteve o PS umas quantas vezes no poder, com maiorias absolutas e tudo? Esse debate e outros que se seguiram, com socialistas de proa em confronto.

Não consegui tomar o pulso às intervenções no palanque, a não ser aquelas que a RTP passou - apetece a dizer que talvez por distracção. Cheguei a ver Carlos Pereira (gravado, gravado) gaguejar umas ideias mal amanhadas, quando falara bem grosso na imprensa da manhã. Emanuel Câmara surpreendeu-me ao descarregar a apresentação e a defesa da moção, como fazem os 'bicheiros', noutro quadro da sua equipa, João Pedro Vieira. Esquisito. Então não era trabalho do futuro líder? Consegui perceber também que Iglésias deixou de esconder que é ele o chefe da locomotiva. Já lhe ouvimos a voz de comando tanto na intervenção como na entrevista à RTP, esta de interesse jornalístico, vá lá. O actual chefe de gabinete de Cafôfo, pela pujança da oratória, está decidido a levar o processo com muito cuidado. Certamente distribuirá muito puxão de orelhas, inclusive ao espaventoso e irritadiço Emanuel Câmara, quando o momento não for de libertar emoções. E Cafôfo, a estrela da companhia, também terá de andar na linha - e como se sabe não é fácil afastar o Pepsodent de uma digital, mesmo quando há inconvenientes. É por demais evidente que as perspectivas falam de facilidades para 2019, mas o pragmatismo do verdadeiro chefe do projecto (em nome de António Costa, claro) não deixará a tropa embarcar em 'conversas'. Entregar o ouro ao bandido, como diz o povo, nunca.

Uma coisa é certa. Mesmo contando com a turbulência que Pedro Fragoeiro levou em fim de festa ao congresso; à declaração de guerra de Célia Pessegueiro apelando para um chumbo à moção de Carlos Pereira, contra o costume no partido, que é aprovar a moção derrotada; e mesmo contando ainda com a leitura da cartilha que Bernardo Trindade (finalmente uma excelente intervenção político-partidária, aquela que mais empolgou o congresso) desbobinou dedicada a Carlos Pereira, zurzindo forte e feio na casaca do líder cessante - apesar de tudo isto, deu para perceber que a falange de Cafôfo, candidato em banho-maria muito sorridente na sessão da noite, está com a lição bem estudada para as delícias do 2019 que se desenha no horizonte. O que entusiasmou Emanuel a ponto de, contra as 'regras', pedir para usar da palavra a encerrar os trabalhos, para elogiar os militantes e os operacionais. Mas especialmente para passar um último e incisivo raspanete a Carlos Pereira, pelo facto de o chefe cessante não ter participado na tarde partidária depois da sua intervenção - nem ter ficado nem que fosse para "votar a sua própria moção". Em matéria de ambiente interno, estava decididamente assumido: a tão proclamada 'unidade' não chegava a nascer. Emanuel disse mesmo que Pereira é um profissional da política ao serviço do partido, por isso devia ser o primeiro a chegar ao congresso e o último a sair. Em vez dele, havia delegados do Porto da Cruz e do Porto Moniz ainda ali, militantemente presentes àquela hora da noite!  Trindade também deitou cá para fora as 'maldades' do adversário interno guardadas havia muito. Que pena Carlos Pereira não estar ali na primeira fila para que ele, Trindade, como disse ao encerrar a sua intervenção, lhe falasse olhos nos olhos sobre assuntos antigos, como o veto do seu nome na lista de deputados nacionais, como o seu afastamento puro e duro dos órgãos regionais!  Foi uma tareia histórica num líder acabado de abandonar funções.

Moral da história: pelo que se viu hoje do novo PS, terão os periclitantes social-democratas razões para ficar mais preocupados ainda?

Sim.