Carlos Pereira
decide voltar à Madeira
A trama traiçoeira que nestes dias envolveu Paulo Cafôfo, Filipe Sousa e António Costa é uma oportunidade caída dos céus que Carlos Pereira, aposto, vai desperdiçar
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O chefe socialista, que tanto gosta de falar, mesmo quando está só, continua 'calado como um rato'. O gato comeu-lhe a língua? |
Perante os últimos desenvolvimentos políticos na Região, altamente penalizadores para o PS-Madeira, o líder dos socialistas decidiu deixar muito em breve o lugar em São Bento para se dedicar exclusivamente à vida partidária regional. Será desnecessária, pois, a iniciativa nesse sentido preparada por um dos membros da Comissão Regional para levar à reunião de mais logo.
Finalmente, Carlos Pereira reconhece que as suas diligências e os resultados que possa ter alcançado na Assembleia da República não compensam o desfalque deixado nas suas funções de liderança do partido. Quase não se lembram dele. Se não tivesse uma sondagem para ir mostrar ao camarada...
O chefe perdeu positivamente o controlo do PS-Madeira. Precisa de voltar urgentemente por causa das eleições autárquicas do dia 1 de Outubro e da mixórdia de mais uma visita do primeiro-ministro António Costa, dentro do processo eleitoral. Primeiro-ministro que, como se sabe, desatou a negociar as eleições no Funchal. Com o chefe JPP. Presidente de Santa Cruz.
A mando de quem?
De Paulo Cafôfo.
Obviamente.
Apenas Jaime Leandro se indignou com a marginalização do PS no caso do encontro diplomático, atacando pública e desabridamente o líder nacional e demitindo-se de chefe do grupo parlamentar socialista. E Carlos Pereira? Um homem que tanto gosta de falar, que quando não lhe dão oportunidade para debitar ideias arrebata o microfone seja lá onde for - como se explica este silêncio à desautorização que António Costa lhe aplicou à bruta? O gato comeu-lhe a língua?
Carlos Pereira vem tarde para a Madeira. Os novos gurus da política regional já voam alto. Brilham que nem pirilampos. Albuquerque pelo cargo que ocupa. Cafôfo pelas lantejoulas da farda. Rubina pela expectativa do que lhe possa acontecer.
Mas Carlos Pereira podia ainda bater com o punho em cima da mesa de maneira a mandar estilhaços da Praça Amarela para todo o espectro político-partidário regional. Bem vistas as coisas, os espertos Costa e Cafôfo entregaram de bandeja a grande oportunidade para o líder regional dos socialistas se livrar do fenómeno Cafôfo e tornar o PS num partido capaz de fazer o seu caminho livremente.
Carlos Pereira podia chamar Cafôfo a contas (se não lhe atendesse o telemóvel, fazia-lhe uma espera à saída de alguma sessão fotográfica). Avisava-o de que, com o 'inimigo' JPP não haveria coligação no Funchal, a não ser com os socialistas de fora. Cafôfo teria de se definir: ou JPP ou PS. A ceder na encruzilhada, escolhendo o PS, ficava tudo esclarecido sobre quem é que manda. Se o edil optasse por virar as costas aos socialistas, Carlos Pereira assumia o 'divórcio' (que sempre desejou) e refundava uma candidatura do PS, que, coragem das coragens, poderia passar por ele próprio - e enfrentar os novos e tresloucados ventos que entontecem a política regional.
A escolha dos candidatos é competência das concelhias. No caso do Funchal, é mais do que conhecida a engrenagem montada: cafofismo a potes que vai da concelhia à Frente Mar. Passando por algumas juntas de freguesia. E por famílias madeirenses, na prática pseudo-importantes, pouco receptivas ao estilo e às políticas de Carlos Pereira. Mas há uma particularidade que muitos desconhecem: em caso de coligações, a Direcção do partido tem uma palavra a dizer. E mesmo que não tivesse, a Direcção retirava a confiança política a quem apoia outras linhas de actuação.
Às tantas, poderia haver a ideia de um congresso extraordinário para clarificar o estado de coisas. Cafôfo não poderia concorrer à liderança, por causa dos 6 meses. Mas poderiam enfeitar um candidato afecto ao Mayor do Funchal que lhe abrisse ainda mais facilmente os portões do PS e o acesso à candidatura regional, em 2019. São riscos que Pereira teria de enfrentar, desprendidamente.
Resgatando o Partido Socialista do sequestro actual, Carlos Pereira, provavelmente mais maduro, menos autista e agora presente, como que assinaria uma refundação socialista. Um novo partido que não permitisse aos Costas de Lisboa virem cá palpitar e indicar caminhos. Nem aos ambiciosos da política, absolutamente legítimos mas outsiders, usar a vaga partidária da Praça Amarela para os seus intentos individuais.
Carlos Pereira não irá por este caminho. Conhecemos-lhe coragem. Bem como a competência técnica. O problema é quando se torna necessário aquele clique indispensável para dar grandiosidade ao partido e ao seu próprio currículo.
Assim sendo, a reunião da Comissão Regional de hoje não trará nada de novo - a não ser que Carlos Pereira anuncie já a data do regresso à base. O que também não será novo a partir deste momento.
O PS continuará a sua vida como até aqui, mais focado no debate sobre a corrida interna Cafôfo-Pereira (se Pereira sobreviver às autárquicas) do que na luta contra o poder regional instalado. Tudo com muito ruído em fundo. Jaime Leandro revoltou-se contra Costa e Costa já pediu pouco barulho ao PS-Madeira. Jaime Leandro mudou ontem a fechadura da sede partidária e espalharam-se os rumores de assalto por facções adversárias da vigente. Quando, afinal, a fechadura foi mudada porque alguém perdeu uma chave identificada. Conspira-se também contra vice-presidentes do PS-M, que estariam com uma mão em Pereira e outra em Cafôfo. Murmura-se sobre a presença de Sofia Canha na maldita inauguração da loja do munícipe. Quantos autarcas funchalenses apoiam a Direcção do partido?
Carlos Pereira vai falhar com a baliza escancarada. Mau para ele. Desportivamente falando, é raro as equipas mistas ganharem títulos.
[Recordamos que Adelaide Ribeiro está a seguir a Carlos Pereira na lista PS para a AR, pelo que, se tudo correr normalmente, avançará para S. Bento a protagonista da revolta contra uns cartazes do PS que ficaram célebres.]