A nova política doméstica
Rui Nogueira Fino
Eu sei que praticamente toda a gente mais ou menos bem-pensante, mais ou menos interessada, escreveu já sobre esse acontecimento glorioso da política madeirense, que consistiu no derrube de um líder socialista, mais um, e na sua substituição por uma curiosa parelha constituída por um militante que não se sabe o que quer, e um não militante que não se sabe o que pensa.
Não pertencendo a qualquer das categorias referidas, confesso-me deliciado com esta espécie de política pós-moderna que vai aos poucos assentando arraiais entre nós. Voluntarista, rompendo tradições recomendáveis. Analfabeta, mandando às urtigas algumas noções básicas de um adquirido cultural com um lastro de alguns séculos.
Tal como a conheci há um ror de anos atrás, a política não dispensava uma ideologia, apoiava-se em valores que todos presumiam operativos e eticamente válidos, e exigia aos candidatos ao seu exercício um módico de estudo e alguma preparação. Agora não é assim. Nesta espécie de, chamemos-lhe “coisa 2.0” que actualmente nos servem como política, a ideologia cedeu o passo à vacuidade, os valores plastificaram-se sem que alguém lhes passe cartão, e a preparação dos aspirantes a uma carreira política assenta em grande medida, e no mais das vezes, no chico-espertismo.
Repare-se. Até há pouco tempo atrás, era pacífico definir um partido político como uma associação de agremiação voluntária, dotada de autonomia estratégica, isto é, dirigida sempre a partir de dentro, e constituída por pessoas que num dado momento decidiam unir-se em torno de uma determinada perspectiva doutrinária e, porque política é acção, de uma determinada orientação programática. E a política assim organizada oferecia uma proposta diversificada e plural no grande bazar das promessas eleitorais. E os eleitores sabiam porquê e em quem votar.
O tempo é outro, como bem se percebe. Vivemos no tempo das geringonças formais ou informais, dos arrivistas, do pragmatismo levado ao limite do insuportável, dos troca-tintas, das negociatas exteriores a partidos que se deixam capturar por interesses que lhes são estranhos, dos políticos que afinal detestam a política, dos líderes partidários, imagine-se, em regime de out sourcing.
O que se passa no PS-Madeira é bem ilustrativo deste novo tempo. Um não militante, a soldo sabe-se lá de quem e de quê, resolveu tomar de assalto a segunda força política da Região, sem essa maçada da filiação partidária, do debate, da disputa interna, dos votos. E esta, pasmemo-nos, deixou. Sem cuidar de saber que forças ou ideias se movem por trás deste novo ás da política doméstica. Sem ter em conta que a partir de agora será sempre comandada a partir do exterior. Sem perceber que acabou como partido capaz de se levar a sério. É que nem chega a ser barriga de aluguer. Aceita ser simplesmente o braço acéfalo de um propósito alheio.
E que dizer das outras forças politicas da coligação “ageringonçada” que suporta o actual executivo da Câmara Municipal do Funchal. Celebraram um acordo para quatro anos. Assistem impávidos ao anúncio formal da intenção de acabar com o negócio. Mas não há um sobressalto, uma proclamação, um murmúrio indignado. Esperarão porventura a comiseração de umas migalhas, se e quando elas um dia chegarem. Porém, não percebem que ficam assim, também eles, aprisionados e de mão estendida a uma estratégia que, se calhar, tem muito mais negócio que política.
Não me apetece muito, confesso. Mas creio que ficaria mal se não escrevesse qualquer coisa também sobre a estrela em torno da qual gravita agora, acéfala, toda a oposição regional. Será, acreditem, um exercício difícil. Porque dela, a dita estrela, a única coisa que sei é que não tem palavra, não revela um módico de respeito pelos representantes do povo que pretende aliciar, nem teve sequer a decência de explicar quem serve e ao que vem. Sabe-se vagamente que, conforme diz, adora a “política para as pessuas” (é assim que soam as suas juras constantes). Sabe-se também, menos vagamente, que tanto podia ser socialista, bloquista ou jotapêpista – seria sempre o que desse mais jeito e estivesse mais à mão. Mas sabe-se sobretudo, para vergonha do pessoal dos partidos, que a política partidária e o debate democrático são maçadas que dispensa e porventura detesta, ou não contasse afinal com umas solícitas páginas de jornal e uns serviçais sem brio, atentos e obrigados.
É com entidades destas, instituições e pessoas, que agora se faz a política pós-moderna de traço doméstico. E eu só não peço a intercessão de Nossa Senhora do Monte para não ser mal interpretado.
24 comentários:
EXCELENTE ANÁLISE, CARLOS FINO!
OS OPORTUNISTAS/CAFOFISTAS DO PS-MADEIRA?, COM TACHOS OU À PROCURA DELES, SÃO A VERGONHA DO PS.
"SHAME ON YOU!!!!!!!!!
Grande artigo e bem escrito, parabéns!
18.08
...Aliás, Rui Fino.
O CDS é o segundo maior partido e não o PS
Uma delícia, estes arrufos na família socialista!
Mas não vale a pena lançar foguetes, pois a família laranjinha e a família centrista estão também a cozer em lume brando.
Que S. Cosme nos valha!
Impecável. Parabéns, sr. Rui Fino.
Fica sempre bem um PSD de gema defender um antigo presidente do PS. Não deixa de ser verdade algumas das coisas que são referidas no texto pelo Rui Fino, como não deixa de ser verdade que o Carlos Pereira foi vitima da sua própria arrogância e sobranceria que aliás nunca perdeu, apenas disfarçou.
Falta 2 anos para as regionais é muito tempo e é pouco tempo em politica, uma coisa é certa, se a nova direcção do PS Madeira forem pelo mesmo caminho do compadrio partidário e ignorando a voz da sociedade civi,l o resultado será o mesmo de 2015, morrer na praia.
Na Madeira atual existe o PS Madeira comandado por Lisboa e o PSD Madeira comandado por meia duzia de empresarios regionais.
E entre o Cafofo com sede de poder, emporrado pelo diario e Albuquerque a viver no mundo da fantasia nao vai ser dificil ao primeiro vencer, infelizmente com estes dois candidatos o maior perdedor sera os Madeirenses.
Não se vê de facto qualquer melhoria desta bagunça em comparação com os renovadinhos. Também, não se vê em Cafofo mais conteúdo que Albuquerque, mais rasgo ou sequer idoneidade. Na verdade, entre os dois, venha o diabo e escolha.
A popularidade do primeiro apenas se explica, porque cataliza o descontentamento geral com Albuquerque e o desgaste de 40 anos com o PSDM...
Talvez por isso seja certo actualmente que vá vencer as Regionais!
Por isso pergunto: do que estão a espera os sociais democratas para correr com o lider defunto e eleger alguém com capacidade de vencer em 2019?
Na verdade, é um problema que apenas precisa de pragmatismo para ser resolvido!
O dilema da escolha: um alucinado ou um pau mandado! Se nos EUA chegou ao ponto de apenas terem como escolha Trump e Clinton, nada podemos realmente esperar desta terra...
Não quero nenhum destes.
Nao apoiei Manuel António em 2015, porque achava que não era o momento. Mas hoje vejo que tinha sido escolha mais sensata. Se fosse hoje o presidente do Governo, apesar dos seus defeitos, nao andava o PSD de calças na mão!
Bom artigo Rui Fino.
O seu descontentamento é partilhado por muitos.
Estamos sempre à espera de D. Sebastião, mas Cafofo não o é, nem por sombras. Antes, revelar-se-á um Miguel de Vasconcelos!
Quanto ao Albuquerque... que desilusão. Tinha tudo para ficar 12 anos! Só lhe faltou juízo. Mas daquela trupe (para não dizer outra coisa) que veio da Câmara e à qual aderiram outros comediantes, não se podia esperar mais. De facto, estão a cumprir com as expectativas.
Resta apenas ao psd renovar-se efectivamente. Mas terá capacidade para um golpe de rins a ano e meio de eleições?
Cafofo mais um Sócrates!
Parece-me que se está a estender o tapete vermelho para o regresso de AJJ...
Excelente artigo.
Está nas mãos dos militantes do PSD escolher um líder capaz de avançar e ganhar eleições. Miguel Albuquerque não só decepcionou os militantes como todo o povo Madeirenses.neste momento e por muito que venha a fazer não reúne condições para vencer eleições, aliás,quanto mais tempo ficar em exercício pior para a sua e para a imagem de o PSD.nas redes sociais perdeu-se o respeito pelo presidente e os insultos,as palavras menos próprias,as insinuações sobre determinados assuntos são cada vez maiores.os primeiros dois anos,as suas escolhas iniciais marcados pela incompetência total levaram a esta situação, é irreversível quer queiram quer não.
Atenção que há quadros de muito valor, há é que saber reunir os que estão dentro e os que estão de fora. Até neste assunto Miguel não é a pessoa indicada para o fazer porque o orgulho de muitos também não vão permitir que tal aconteça.
O PSD tem de aproveitar esta guerra interna do PS,esta falta de carácter e de personalidade de Cafofo ao anunciar o desejo de avançar para as eleições regionais deitando por terra o voto que fez a todo os funchalenses ao assumir a presidência da câmara.
É urgente que as bases digam quem querem,quem acham melhor para rapidamente inverter toda esta situação.
Sabemos que Cafofo não vale nada,é só sorrisos e pouco mais,é mandado por Iglesias e por Lisboa.
Cafofo ganhou porque muitos e muitos votaram contra Miguel,noutros concelhos o PSD perdeu porque muitos votaram contra Miguel e contra as suas escolhas malucas.
Este artigo de Rui Fino é um aviso á navegação,é um aviso de um Madeirense que embora PS não quer ser mandado por cubanos.
E quem seria a escolha no PSD?
Pelo que se vê é ouve, muitos estão desacreditados (Rubina Leal, Calado e Cunha e Silva à cabeça) e a Manuel António falta coragem de assumir-se como alternativa, ou será que voltou ao mesmo e espera o aval vindo do Quebra Costas?
E o próprio Cardoso Jardim, ainda espera a vaga de fundo? Bem que continua a dar a sua bicada a ver se acelera o processo
A escolha... terá que ser dos militantes, poderá até passar por um dos nomes que o comentador das 16.08 inumerou.
A questão de fundo é, com este actual líder o PSD não ganha eleições.
Os Madeirenses não estão para aí virados,entre Cafofo e Miguel venha o diabo que escolha e o diabo está mais inclinado para o sorridente.
Cafofo é mentiroso e comandado por Lisboa.
Miguel não é comandado por Lisboa, já foi, mas além de não ter cumprido fosse o que fosse caiu numa total descredibilidade que ano e meio não chega uma vez que dinheiros não abundam é a sua imagem está denegrida por boatos que se ouve.
Resta alguém que tenha popularidade,tenha capacidade para interagir com as pessoas, competência e capaz de unir o partido ignorando este ou aquele, chamando ao terreno quem tenha valor independentemente de ter sido apoiante deste ou daquele ou mais importante ainda contar até com todos os que estiveram na corrida.
Meus amigos,partido ganho,partido "inteiro" é mais de meio caminho para a vitória.
Doa a quem doer esta é a verdade.
É bom que Miguel pense que o partido social democrata não é dele,o governo também não e o facto de se afastar de líder não é uma derrota, é uma prova de inteligência da sua parte, valorização do PSD,um carregar de baterias e que não invalida que tenha lugar noutras funções.
A isto se chama UNIÃO.
Quantas vezes se tira a braçadeira de capitão a um jogador sem o tirar da equipa?
Manuel António, chega-te a frente e ganhas nas calmas. Basta quereres. Ate alguns Renovadinhos votam em ti.
Caro anónimo das 18:15,
essa união vem com 4 anos de atraso, em 2013 com o AJJ em total descrédito, o psd-m devia ter-se unido em torno do Albuquerque que era o melhor candidato do partido no momento, mas não, o desejo de poder/tacho de uns e o desejo de vingança de outros fez com que o partido se dividisse e originaram o fenómeno Cafofo.
E cegados, continuaram durante este tempo todo a dar tiros nos próprios pés e só agora é que acordaram para a vida e deram-se conta do "monstro" que alimentaram.
Podem apelar a uniões, mas acho que já vão tarde, os madeirenses já se aperceberam que é possível viver sem o psd, e até os tubarões criados na era jardinista sabem que podem contar com o Cafofo.
Calendário: sondagem em julho, se Albuquerque estiver atrás, tem que refletir e ter bom senso de dar o lugar a outro. E não vejo outro candidato senão o manuel António.
Não são apenas os boatos que denigrem a imagem do presidente honorário do GR. São também as mentiras. Há mais de um ano ele deu largos milhares de euros à Vialitoral para fazer um estudo sobre a reposição dos limites de velocidade na via rápida, estudo esse que seria divulgado em 3 meses...
Já se passou mais de um ano e estudo nem vê-lo.
O presidente esquece-se? que as pessoas que andam na via rapida sentem na pele os constrangimentos da redução da velocidade imposta pela vialitoral. E esquece-se também que essas pessoas votam.
E já que estamos no campo automobilístico, para quando a eliminação do acréscimo de 15% sobre o imposto sobre os produtos petrolíferos decretado por AJJ aquando da assinatura do Paef? O Paef foi-se mas o acréscimo do imposto manteve-se...
Neste momento em que o preço do petróleo está relativamente baixo nos mercados internacionais continuamos a pagar a gasolina a cerca de 1,50 euros por litro, o mesmo valor de quando o petróleo ultrapassou os 100 euros por barril...
O ainda? presidente esquece-se de que os automobilistas também votam e na hora do voto irão votar contra estas arbitrariedades que se prolongam no tempo.
20,16h
Apoiado e subscrevo.
Se uma coisas dessas ainda não foi resolvida nem o estudo divulgado, imaginemos outros assuntos de grau mais difícil de resolução como será.
Por mim e grande parte da minha família perdeu o voto que nas ultimas eleições lhe foi dado.
Temos a vida e o nosso dia a dia muito mais caro do que no Continente.
Manuel António, por amor ao partido, por favor, AVANÇA JÁ!
Esse ainda está à espera do aval de Jardim.
Agachado, conspirar na recta dos Canhas ele sabe mas chegar-se à frente nada
18,47h
Passariamos a ter dois Brokilas no PSD, um a nível nacional o do Porto o Rui Rio e na Madeira o dos Canhas que não faz nada e não enxerga um papel a sua frente.
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