Viragem de paradigma no PS-M

               Alea jacta est!                                                                        Imagens GREGÓRIO CUNHA

Veremos o que os 'PSoas'

fazem 'Pelas Pessoas'

O XVIII Congresso dos novos 'PSoas' terminou ao princípio da tarde de hoje como começou no sábado: com a promessa do céu às "Pessoas". No discurso final, Emanuel Câmara falou alto para não adormecer a plateia com um discurso longo, à Fidel. Mas este já está. Agora, PS e Cafôfo têm a palavra. Não poderão insistir mais na tecla de que tudo tem o seu tempo. Fazer o longo trajecto que falta agarrados à 'táctica do abutre' na Saúde é capaz de cansar. Urge mostrar essas soluções milagreiras de que falam.

A lebre de Cafôfo, Emanuel Câmara, afinal é maratonista, se levarmos em conta a imensidão do discurso que encerrou ao fim da manhã de hoje o XVIII Congresso do PS-Madeira. Uma oração interminável. O discurso  deu a ideia de mais longo pela falta de alguma ideia nova que acordasse a plateia, tanto a que se concentrou no Casino como a que seguiu a sessão de encerramento pelos media. 
O problema é que a partir de agora, para lá da campanha de abutre de há muito no terreno, o novo PS-Madeira, além de falar "Pelas Pessoas" e de fazer um festim nas manchetes sempre que morre no hospital algum cidadão mal curado ou quando a página da necrologia vem cheia - doravante o novo PS precisa de muito mais. 

De facto, a um partido que pretende ser poder - e o novo PS já se considera no poder - não chegará reagir em oposição a quem ainda lá está, na Administração Regional. Será preciso agir, mostrar ao eleitorado soluções para corrigir e preencher os erros e as insuficiências da governação Albuquerque/Calado. Não chegará dizer "olhem, morreu mais um com alta problemática, o Pedro Ramos é um incompetente", ou "faltaram pastilhas no 3.º piso dos Marmeleiros, o Sesaram vai-nos matar a todos com falta de remédios". E não basta vir a D. Ana Catarina Mendes, como veio hoje, desancar na desgraça da Saúde regional, apontando problemas que até são verdadeiros, mas julgando estar a 'comer' artolas que desconhecem os cemitérios em que se estão a tornar os hospitais do Rectângulo de lés-a-lés, sem que a Geringonça do seu amigo Costa dê conta de meio recado. 

A dura realidade é que, a partir de agora, a gente precisa de ouvir dos socialistas eleitos, esses inovadores 'PSoas', hoje por hoje armados em grandes mestres da Medicina e fantásticos gestores dos sistemas de Saúde, queremos ouvir deles que caminhos concretos descobriram para salvar o maltratado sector. Não vá ser o caso de chegarem lá e, depois de acomodados na cadeirinha, dizerem, como referi aqui ontem: os parasitas do PSD desgraçaram o sistema de Saúde nas últimas décadas e agora, coitada da gente, a gente não pode fazer nada, a gente precisa de 4 anos para arrumar a casa e só então tratar da saúde das "Pessoas".

Precisam de saber que alguém lhes vai cobrar a estratégia do abutre.

Dizer que foram precisos 4 anos para arrumar a casa, isso foi o que aconteceu na Câmara do Funchal, com os pontas-de-lança Cafôfo-Iglésias-LPM, triângulo operacional da 'candidatura cubana' já em campo. Olhando para os últimos tempos, depois de tantas manchetes pagas por nós a prometer coisas às "Pessoas", não vimos nada "Pelas Pessoas". Gabam-se de ter dado livros e subsídios aos rapazes que andam nas escolas, mas não é para isso que os munícipes votam numa vereação. Esse trabalho, faça-o o governo, que é uma das suas obrigações inalienáveis. Pegar nuns milhares de euros dos outros para fazer o número na manchete vai deixar de 'pegar'. Da Câmara, queremos que torne o Funchal numa cidade agradável. Ou pelo menos que não faça nada, fiquem quietos pr'a lá a 'levar o seu', sem 'chatear' a molécula do contribuinte, como está a 'chatear' diariamente com a disputa da Ponte Nova, o trânsito que nunca esteve tão maçador, as ruas que não permitem longa vida à suspensão dos carros, a mobilidade impossível nas ruas das esplanadas, a poluição visual que irrita os transeuntes indefesos. Vão bugiar, com essa governação da regedoria. 

Até aqui, desde a vitória da Mudança em 2013 (esta cabeça, esta cabeça!) e agora com 4 meses e tal de Confiança, ao contrário do que dizem os 'PSoas' da nova vaga, pouco vimos feito "Pelas Pessoas". 

Não pensei que Emanuel tivesse de apresentar um programa de governo esta manhã, num fecho de congresso. Claro que não. Mas esperava qualquer coisa de novo, nem que fosse no espírito da coisa, uma ideia, algo que desse lógica à Mudança-Confiança-Esperança. Nada. Então, senhores da propaganda? Andamos a dormir na forma? Costa não iria gostar.

Já a moção de estratégia, por favor, senhores que a 'esgalharam'! Emanuel evitou expor-se na apresentação e defesa da pobre. Esteve bem. Foi mais uma esquiva para juntar a outras, mas às tantas foi melhor assim. Evitou ser ele a desbobinar um exaustivo e cansativo rol de frases batidas, maçadoramente redondas e lapalicianas. Queremos melhor Educação na Região. Queremos mais Saúde. Queremos bons transportes. Queremos o euromilhões todas as semanas para as "Pessoas". Queremos bacalhau a pataco nas mesas. Queremos o céu na Terra. Queremos uma Madeira melhor. Bolas! A moção parece a história do 'comboio dos desejos'. Esse "projecto" assino-o já, de cruz e de olhos fechados. Quem é que não quer tudo isso? Eu quero. Mas gostaria de saber como é que os 'PSoas' conseguem esses objectivos da felicidade. Senhores, isso não é uma moção. Pesem tantos lugares comuns (em tom maçónico) sobre igualdade e fraternidade, não se viu ali uma sombra da matriz socialista que um projecto vosso, julgo, devia patentear à vista desarmada.

Matriz socialista nestes emergentes 'PSoas'? Fiz um pouco de humor. Avelino Farinha, Luís Miguel de Sousa, Pestana e outros 'tubarões' apoiantes de Cafôfo devem estar a rir agora com o meu jeito.

A bola está do lado do PS e é preciso saber jogar com ela. Para Emanuel, a única maneira de ganhar o congresso foi recorrer a Paulo Cafôfo. Ora, com quase dois anos de vida bem dura pela frente, não será fácil manter a embalagem e o estado de graça do artista. O não-projecto precisa urgentemente de subir a projecto, e convincente. Como digo, ele, Cafôfo, precisa de mostrar boa cabeça na Câmara, para que se imagine o que poderá mostrar num Governo. O PS fará oposição a Miguel Albuquerque, evidentemente, mas há muito tempo ainda para consumir e precisa-se de saber que soluções têm o challenger e seus mandantes para o governo regional. Soluções e quadros para as materializar.

Ana Catarina Mendes veio desancar na Saúde, como se fosse preciso, talvez sem saber que a gente sabe que ela sabe das estrebarias em que andam a deixar morrer seres humanos naquele mapa hospitalar do Rectângulo, gerido 'numa boa' pela Geringonça do Costa.

Não sei se repararam mas, neste congresso, falhou a usual apresentação de novos militantes, nomes capazes de dar credibilidade à actual Bagunça Rumo a 2019. Pelo contrário, demos pela ausência de algumas personalidades que apareceram na corrida autárquica oferecendo a sua imagem para catapultar Cafôfo a uma plataforma credível. Não lhes pusemos a vista em cima. Desconheço os motivos. Se por modéstia ou se por algum desencanto com o modelo espaventoso que começa a tomar forma. Ou a não tomar forma.

Virão os estados gerais, certame ideal para o surgimento de reforços dignos desse nome. A dúvida reside no 'estado geral' deste PS daqui a um ano, quando dos 'estados gerais'. Se atrair então interessados na construção de uma nova Madeira para os próximos anos, muito bem, será sinal de que o projecto vai bem. Perceberemos, satisfeitos, que os 'PSoas' querem mesmo trabalhar "Pelas Pessoas", sem que as "Pessoas" sejam apenas os familiares, a clientela e os amigos, como se tem visto até aqui com as frentes de emprego da Câmara. 

Por enquanto, são só promessas às 'Pessoas'! O que, com o adversário lá fora e com dois blocos na família, pode ser perigoso. No vosso lugar, eu pensaria um pouco para além dos slogans das agência de propaganda. O próprio 'Soares é fixe' não deu para a última corrida do monstro sagrado socialista. Ainda esta manhã, antes dos abraços finais e dos hinos (que tocaram pela ordem inversa da protocolar), Emanuel queixava-se: dizem que falo demais nas Pessoas, mas têm de aceitar que eu não concebo a política sem ser "Pelas Pessoas". Homem, a política deve ser "Pelas Pessoas" e o Amigo faz muito bem em agir "Pelas Pessoas". As pessoas não são contra essa prática, simplesmente acham que o disco já está riscado. Pode ser uma picuinhice falar do assunto, mas Emanuel também devia levar em conta o estômago das pessoas que já vomitam só de ouvir invocar o tal "Pelas Pessoas". Essas pessoas com os intestinos embrulhados também são "Pessoas". É uma questão de Saúde. O plano supremo não é dar Saúde às "Pessoas"? Comecem por aí.