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quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019




20 de Fevereiro 2019



Estranha semântica:

'saúde' já é sinónimo de 'doença'


Uma casa de saúde é um sítio com doentes. Assim como os centros de saúde e os hospitais estão cheios de doentes. Ou seja: começou de há muito a confusão entre saúde e doença. Mas agora o assunto agudizou-se: já não é mera confusão, a saúde quer dizer literalmente doença. Quando se diz 'saúde' quer-se dizer 'doença'. Parece que já não há pessoas com saúde. Há é doentes e potenciais doentes. Os políticos da oposição regional dizem que a saúde na Madeira está doente. Querem dizer que o sistema que devia tratar dos doentes não funciona bem e no discurso misturam saúde com doença.
É confuso. Mas o estado de coisas afecta uma pessoa.

Para os partidos políticos, está tudo doente, inclusive a saúde. Tenho a certeza de que existem pessoas em estado sofrível, pelo menos até às próximas análises. Mas a oposição mete toda a gente pelo hospital dentro, com ou sem atestado. E é quando não nos tenta passar a certidão que não queremos.
Entendo que quando cheira a eleições, é preciso montar uma estratégia que faça mossa. Falar de saúde-saúde não dá votos. Falar de saúde-doença, sim. Se é a saúde - aliás doença - que apoquenta o governo regional, toca a insistir no tema. É luta política. O problema é que o assunto se tornou obsessão, tão doente como as obsessões do sargento Costa. Não me refiro à hipocondria. Nem à velha mania das doenças que leva o suposto paciente a exigir que lhe reconheçam o estatuto de 'coitado, é uma pessoa doente'. Quem é que não tem uma tia idosa que não pára de se queixar das dores? A gente pergunta: 'Mas o que é que lhe dói hoje?' E ela: 'Nem sei, dói-me o corpo todo." Mas isto é mania normal, digamos assim, das pessoas ao atingirem certa idade. Hoje em dia não é só por aí. Até as jotas partidárias se julgam entendidas no diagnóstico sobre a saúde, aliás doença, de uma população, e atacam sistemas de saúde, saúde pública, operações a ferro frio.
Se um governo falar num programa de prevenção para doenças da próstata ou do coração, faz-se a conferência de imprensa e depois ninguém liga àquilo. Se um partido da oposição sugere um projecto de recuperação de um bairro desprezado que ameaça tornar-se um foco de infecções, não lhe dão 30 segundos na televisão. Mas se alertar para um caso concreto de varíola, temos festim nas televisões, nos jornais e nas redes sociais. Se o José Manuel Rodrigues acusar no parlamento o governo regional de pintar as paredes exteriores dos Marmeleiros em vez de rever a frota dos raios-X daquele hospital, conquista duas manchetes no dia seguinte. E se José Prada responder ao Zé Manuel com o caso das crianças oncológicas que são tratadas em contentores no S. João do Porto, ganha direito a uma caixa bem destacada para equilibrar as coisas. 
Hoje em dia, as contas fazem-se pelo lado das doenças. Quanto mais alarmantes, espaventosas e fatais, melhor.
Um cidadão que encontre Cafofo a jeito e lhe fale no exagero das lombas que a câmara pôs na sua rua, ouvirá como resposta: pois é, e o governo regional tem 20 mil cirurgias por fazer. 
O súcia do Norte, se for confrontado com a falta de solidariedade do seu patrão Costa na mobilidade aérea, tem resposta engatilhada: e as 40 mil pessoas em lista de espera na Cruz de Carvalho?
O problema é que o cidadão normal já se vai deixando contagiar por este surto epidémico: ao passar pelo Lugar de Baixo, a pessoa vê os destroços da marina maldita e estupora mecanicamente: então o dinheiro que se mandou ali ao fundo do mar não dava para um bom hospital?! 
Outro cidadão viaja na via rápida, vê um descampado e diz para a mulher: que lindo espaço para um lar de terceira idade ou para um centro de cuidados paliativos.


Já se tornou paranóia. Eu próprio não consigo olhar para uma pessoa sem tentar descobrir de que é que ela está a sofrer. Há dias, pela televisão, descobri no sargento Costa uma estranha mudança de cor quando Assunção Cristas o apertou no debate quinzenal de S. Bento. Quando me dizem que Marcelo Cantigas, apesar de almoçar uma sanduiche e dormir 4 horas por noite, goza de uma boa saúde, eu vejo naqueles beijos e abraços sintomas de um cheché sem retorno. Aquilo de o Cafofo estar sempre de pregagem à mostra, mesmo perante uma tragédia na Praia Formosa, cheira-me a foro patológico. Para não falar na gravidade da sua amnésia total quando o MP lhe fala do Monte. Também lhe noto uma galopante alergia à verdade, quando fala e escreve. Será pancada minha, não será? Uma pessoa já não sabe.



Por este andar, adivinho que daqui até 22 de Setembro a saúde de todos nós vai piorar bastante, se é que é possível, ao ponto de nos colocar à beira da extrema-unção. 

Da minha parte, ainda não me queixo muito. Se por acaso me chegar alguma (não esquecer que os PSoas ameaçam tratar-me da saúde), faço como Miguel Albuquerque: vou-me tratar a Lisboa. O nosso Blue fez uma inflamada intervenção em público na semana passada, garantindo que a Madeira tem o melhor sistema de saúde do país. E logo a seguir meteu-se no avião para ir a uma consulta médica em Lisboa. Daí não ter acompanhado a posse do bispo no fim-de-semana. Serei diagnosticado com o perigoso 'complexo da desconfiança' se perguntar o que é que Miguel Albuquerque entende por um bom sistema de saúde? Ou ele recorre à saúde cubana por tendências suicidas?

1 comentário:

Anónimo disse...

Principio de Peter para o Secretario da Saúde.
Abraço Calisto.