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domingo, 24 de fevereiro de 2019




24 de Fevereiro 2019





Parábola de domingo:
Atenção, Nuno!


Faz hoje oito dias que D. Nuno Brás tomou posse da Diocese das Quatro Fontes, em cerimónia na Sé. Parece que foi ontem, de tão intensa que tem sido a actividade do novo bispo. Antes de cá chegar, já mandou mensagem à frente, que agradou por não vir em latim, pelo contrário revelou uma pessoa desempoeirada, de ideias claras e com vontade de se pôr ao nível do povo. 

Há um novo estilo pessoal à frente da Diocese. A tomada de posse foi elucidativa. Nos exemplos anteriores, vimos o novo 'sua excelência reverendíssima' com aqueles paramentos todos pelas ruas, a caminho da cerimónia na Sé, de tronco artificialmente erecto, com um garfo ou talvez o báculo nas costas, ar jesuítico e solene de quem se dirigisse ao largo das punições atear a fogueira para queimar o herege, um cheiro a incenso de dar voltas ao estômago. Pois D. Nuno Brás mais parecia uma estrela rock ou um político americano em campanha eleitoral pelas ruas apinhadas e entusiasmadas. Mandou às malvas os formalismos bafientos e mostrou que está no cargo para o povo e não para ser adorado - ou temido - pelo povo. Uma entrada de leão aplaudida por católicos praticantes, católicos não praticantes e não-católicos. 
Será desta vez que a Diocese abre as portas a quem precisa de ânimo espiritual? 
Até aqui, o que têm feito é empurrar fiéis aos milhares para 'igrejas' de seitas mafiosas que se dizem religiões - mas que só exploram financeiramente os mais desfavorecidos, doentes e incultos
D. Nuno viveu e fez viver uma semana intensa e prometedora. Mostrou solidariedade com a vítima e a família da derrocada na Calheta. Andou pela Região a falar com os padres que têm contacto directo com o povo católico. Equacionou medidas concretas ao alcance da Diocese, como o apoio a idosos nas paróquias. Enfrentou as perguntas da RTP-M respondendo a tudo com espontaneidade - e sinceridade -, porque o seu pensamento é enraizado, não exige compassos de espera para ver o que preceituam as escrituras sagradas sobre cada tema. 
Respondeu a tudo... vamos indo. Casos a que chamou particulares da Diocese, deixou para o tempo certo assuntos escaldantes como a suspensão 'a divinis' de Martins e a situação desconcertante do padre-pai Giselo. Quando será o tempo certo?
É aqui que acho oportuno como que ensinar o pai nosso ao sr. vigário, contando também ao novo bispo uma parábola de domingo.
Naquele tempo... 
O sr. bispo em breve irá conhecer as Fontes de João Dinis, que ficam por baixo do Palácio de São Lourenço, no trecho de caminho entre o dito palácio da soberania e a Avenida do Mar. Pois naquele tempo, no tempo da monarquia, cada novo governador que chegava à Ilha avisava em tom grosso que iria desempenhar o seu mandato com total alheamento e independência das intrigas entre os partidos políticos. Porém, meia dúzia de bailes, jantaradas e subsídios depois, tornava-se invariavelmente dócil aos caciques locais que se encontrassem na mó de cima. E então dizia o povo enganado: "Já bebeu água das Fontes de João Diniz."
Depois de 1974, já no tempo da democracia - digamos assim -, o fenómeno passou-se das Fontes de João Diniz para as Quatro Fontes, que ficam no cabo da Rua da Carreira. O primeiro bispo, Francisco Santana, não precisou de engraxar os políticos, ele é que determinou como seria a política na Tabanca. Quando esse bispo morreu, precocemente, os poderes regionais, incluindo o religioso, já estavam concentrados num partido político, o PSD-M. Veio novo bispo com um discurso de esperança e chegou-se a acreditar no adeus ao incenso, com resolução de casos como a suspensão do padre Martins, mas a água das Quatro Fontes fez efeito e o que se viu foi a Igreja da Ribeira Seca cercada de polícias durante um longo período. A esperança voltou com um outro bispo na Diocese. Mas lá estava o raio da água das Quatro Fontes para repor as coisas no seu lugar, o da promiscuidade política-Igreja.

Os tempos são outros e não se vislumbram pressões à moda antiga capazes de influir na postura do bispo. Nem nos parece que D. Nuno Brás seja muito pressionável. Ainda este sábado celebrou missa pela Venezuela e mostrou coragem no conteúdo da mensagem, alertando para o perigo de um banho de sangue num país onde vivem centenas de milhares de luso-descendentes, carentes de uma simples palavra da sua terra que lhes levante o despedaçado moral. 
Espera-se, pois, um bispo interventivo e sem receio de escolher o lado do povo. A Igreja Católica é de grande influência nas sociedades - nem um ateu contraria a realidade. No caso de D. Nuno, para chegarmos a conclusões sólidas há o teste da água das Quatro Fontes. E há a tentação satânica de exercer de forma a permitir um dia mais tarde a reforma dourada neste clima abençoado.
Vá lá, bispo, enfrente o touro pelos cornos, salvo seja. Resolver o difícil, como os problemas Martins, Giselo e finanças duvidosas do Paço, isso é que leva ao céu. Rezar uma missa ou sair na procissão com a cruz em punho acho que qualquer fiel praticante sabe fazer.
De modo que, aos primeiros sinais de comodismo, faríamos como nos domingos antigos, quando o seu homónimo Nuno Brás estava a relatar um jogo de futebol por exemplo nas Antas e desatava a engonhar, a falar sem dizer nada, e o colega do estúdio cortava: "Atenção Nuno, Atenção Nuno, vamos ver se há novidades em Alvalade!"   
Nessa altura, gritaríamos: "Atenção, Nuno! Vai pregar para outra freguesia"
Não há-de acontecer. Ide em paz.

1 comentário:

Anónimo disse...

Ide em paz e o senhor vos acompanhe! A Fonte de João Diniz e as Quatro Fontes, foram substitídas pelo "Abreu dá cá o meu" dos Donos Disto Tudo. Vamos lá ver de o srº Bispo consegue resistir ao vil metal, que tudo compra nesta terra, até a ética e a deontologia dos jornalistas!