13 de Fevereiro 2019

Miguel de Sousa põe unidade em risco

e Albuquerque finge não ver

Entre os actuais dirigentes do PSD-Madeira, muitos se interrogam sobre o porquê de Miguel Albuquerque estar a presenciar de braços cruzados os ataques de Miguel de Sousa à unidade do partido. Albuquerque e seus mais directos colaboradores conseguiram a ferros reunificar as hostes que andavam fragmentadas em diversas sensibilidades desde o processo da substituição de Jardim. Aconteceu no congresso e o novo presidente muito tem que agradecer ao seu antecessor. A temperatura interna baixou dos 100 aos 20º e a vitória nas eleições deste ano voltaram a ser  verosímeis.

Como? Quem acabou com a balbúrdia foi o ex-chefe? - deve ter perguntado Miguel de Sousa a si próprio. Vai daí, sentou-se este fim-de-semana à frente do microfone da TSF e foi dali mesmo que despachou várias bananas de dinamite em direcção à Rua dos Netos. 

Foi um ataque violentíssimo aos anteriores governos, claramente para atingir Jardim. Porque fazendo Jardim sair do sério é três quartos de caminho para rebentar com a tal unidade, aliás ainda colada com saliva. 

Quem diria que Miguel de Sousa, depois de se sentar no congresso lado a lado com o chefe de quem foi vice-presidente do governo, secretário, director regional, deputado e delfim preferido por algum tempo, quem diria que teríamos mais um ataque deste jaez?! Não se trata de um militante qualquer. Além do currículo partidário e público em geral, continua a ser deputado do PSD. 

Quando às vezes choramos de tristeza pela fraquíssima qualidade dos políticos que o céu nos tem deparado, o lamento não abrange Miguel de Sousa. O antigo vice do executivo percebe de política, é bom analista, sabe projectar e antecipar consequências, é capaz de fazer um plano de acção perfeitamente contextualizado, foi bafejado pelo acaso com uma criatividade que rareia na Região e ao nível nacional. Assim sendo, para que lado está a jogar o homem afinal, ao atacar Jardim sem papas na língua e pondo em risco a tão sensível unidade do partido? Sim, porque não é de desprezar uma reacção de Jardim voltada para dentro, pelo contrário. 

Realmente...

Então Albuquerque, depois de convencer os barões desavindos a voltar ao redil, não reage aos ataques do seu homónimo ao antigo mentor? O actual líder não devia saltar a terreiro para se demarcar das declarações divisionistas do deputado? É que o ataque desferido pela rádio e pelo DN parece intencional em termos de pôr uns social-democratas contra outros. Já depois de conhecidas as suas posições incisivas contra os governo de Jardim, Miguel de Sousa voltou à carga ontem com um esclarecimento no DN a vincar bem que as suas críticas não visaram o governo actual, mas os anteriores - os quais, precisou, gastaram milhares de milhões de euros em obras sem interesse nenhum ao passo que não resolviam problemas da Saúde como os Marmeleiros. Sem esquecer a dívida de 6 mil milhões que 'proíbe' agora a Madeira de recorrer ao crédito.

Entre os actuais barões da Rua dos Netos, não há dúvidas: o que Miguel de Sousa pretende é dividir o partido para oferecer a vitória ao PS/Cafofo. Porque, com o actual presidente da câmara, os seus negócios avançam como faca na manteiga. Mais facilmente do que nas plataformas onde mandam os laranjas. Outros dizem que Miguel alimentava expectativas para o Parlamento Europeu, revoltando-se ao dar com a recandidatura de Cláudia Monteiro. Para outros ainda, a sua táctica visa pressionar Albuquerque para que o líder não se esqueça do seu nome quando preencher as listas parlamentares que vão a votos este ano - parlamento de cá e parlamento de lá.

Quem não se lembra de que, na corrida de delfins, Miguel de Sousa assestou uma campanha demolidora contra  Miguel Albuquerque, pagando até páginas inteiras de publicidade para arrasar o companheiro? E por essa via garantiu lugar na Assembleia.

Segundo nos informam, Jardim fez saber ao partido que talvez se vá 'estrear' na pré-campanha hoje, ao lado de Albuquerque, na Ribeira Brava, no âmbito do 'Compromisso Madeira'. Independentemente de se confirmar ou não esta hipótese, é de alimentar alguma expectativa perante a reacção do antigo presidente aos ferozes ataques de Miguel de Sousa. E à inacção de Miguel de Albuquerque, pois nem A nem B o actual chefe balbuciou. Afinal que unidade é esta?
Também me admiro: um deputado eleito pelo PSD, aliás vice do parlamento, despreza deliberadamente a orientação aprovada em congresso de unidade interna, especialmente tendo em vista três eleições que há este ano, e o seu mal é batatas! Que estatuto será aquele que nem o líder Albuquerque se atreve a respingar? Ah, já sei: o PSD-M é um partido democrático a potes, onde cada qual é livre de se exprimir.
Como sempre foi.
Muito a sério: Albuquerque tem um problema entre mãos. Por quanto tempo conseguirá fingir que não sabe de nada?

PS - A iniciativa política do PSD-M na Ribeira Brava desta tarde decorrerá no salão paroquial da freguesia. Será engano do press release ou estamos a voltar aos velhos tempos em que os padres, em domingo de eleições, para indicarem o voto no PSD colocado em terceiro no boletim eleitoral, se despedia dos fiéis no fim da missa com um 'ide em paz e... um, dois, três, foi a conta que Deus fez'?!