Powered By Blogger

sábado, 4 de março de 2017

O Santo


As Componentes da Guerra Pessoal


A Guerra tem várias componentes:

·         Invulnerabilidade – a invulnerabilidade pessoal é garantida pela aplicação da virtude, normas estabelecidas e, não divulgação de planos. Sê discreto. Ninguém pode saber o que sabes e o que pretendes fazer. Em caso de erro, “cria uma floresta”. Sê imprevisível.

·         Objetivos – quais são os objetivos realistas da guerra definidos pelo Senciente. O Objetivo primordial deve ser a auto-preservação. O Secundário deve ser a destruição das Forças (Fontes de poder) do Inimigo, se tiveres capacidade para isso. Neste último caso, o objetivo poderá ser desgastá-lo e adiar uma possível derrota. Em caso de derrota iminente, poderá ser escolhido o objetivo de fuga e/ou invasão de outro campo. Lembra-te: podes perder tudo, mas nada nem ninguém te pode obrigar a te submeteres. Deus deu-nos o livre arbítrio.

·         Juízes – indivíduos e/ou organizações que tendencialmente não têm interesse particular na contenda, tendo no entanto a capacidade de atribuir a vitória e/ou afetar os contendores e a sua maneira de agir[i]. É importante não se incompatibilizar com juízes cruciais. Mais ainda, os Juízes podem ser sensibilizados a apoiar um determinado contendor, passando a Aliados.
Quase todos os desejos do homem são ofertas de outros homens, embora existam meios, normas, regras e leis para obter essas ofertas[ii].
Não esquecer que, de acordo com Adam Smith, qualquer movimento punitivo (ou que provoca dano) só é tolerado e apoiado pela Sociedade/juízes para corrigir injustiças[iii]. Essa ação tem que ser adequada: à ofensa, ao punido, e ao ofendido.



·         Moral – ímpeto do espírito. Permite a manutenção da coesão estratégica dos objetivos[iv].
No coração de quem luta deve bater um coração inflexível”
Esquilo, Coéforas

·         Informações – corretas e falsas. Coerentes e sem sentido. Verídicas e enganosas. Nem todos os dados e informações são corretos. Ao consumir informação é-lhe atribuído um valor: “bom” ou “mau” (Aconselho a valorar em termos de “útil” e “talvez um dia seja útil”). A perspetiva pessoal com que os dados são processados em informação, afeta as potencialidades de utilização[v].

·         Forças e Fragilidades – Todas as forças contendoras têm fragilidades, pontos fortes e pontos fracos. O conhecimento, na medida do possível, destas forças e fragilidades pertence ao item “Informações”. Mais ainda, a Força e a Fraqueza de algo referem-se sempre a um dado conjunto de situações específicas[vi]. Rousseau vai mais além:
“0 mais forte não é nunca assaz forte para ser sempre o senhor, se não transforma essa força em direito e a obediência em dever.”
Rousseau, Do contrato social, tradução Rolando Roque da Silva

·         Paragens – a maior parte do tempo da Guerra é passado em observação e recolha de informação. O Inimigo não pára, até pode oferecer presentes ao outro contendor para diminuir a Moral do defensor…

·         Testes – ataques e movimentações para descobrir a forma de agir do Inimigo. O teste pode começar com a entrega de informação que leve a uma suspeição.

·         Batalhas – Engajamentos, confrontos com o Inimigo. Podem ser de diversas dimensões. O Movimento de ataque é um movimento de extrema vulnerabilidade.
Na realidade, os eventos da guerra são imprevisíveis, e os ataques são geralmente súbitos e furiosos; muitas vezes uma força me­nor, por estar temerosa, vence adversários mais numerosos, despreparados por subestimar o inimigo.
Em terra hostil deve-se sempre ser ousado em pensamento, mas cauteloso na ação e, portanto, estar preparado, pois assim os homens serão mais valorosos no ataque e mais firmes na defesa.” 
Tucidides, Livro II, História da Guerra do Peloponeso

·         Circunstâncias – as Batalhas dão-se num certo conjunto de circunstâncias. Essas circunstâncias é que definem o certo e o errado, e a vitória.

·         Dissimulação – criação de um conjunto de circunstâncias falso para enganar o adversário. Regra geral, o Inimigo é mais forte nisso, e se se é descoberto fica-se gravemente exposto. E não tenho a certeza que a longo prazo, em política pessoal, essas dissimulações não voltem para “assombrar” (i.e., por uma reviravolta do destino, a dissimulação provoque dano ao seu autor).

·         Fricção – moral, ímpeto e força perdidas na manutenção do estado de alerta resultante da Guerra, e na execução de uma qualquer ação tática. Por outro lado, o estado de Guerra aumenta o estado de alerta.

·         Manipulação – Condicionamento do Inimigo, Aliados, e Controlados (de todas as partes).

·         Erros – Todos erram. Se vais agir pela certa, nunca agirás. Quando agires, tens é que te certificar que, caso seja um erro, o custo deste seja baixo. É necessário aproveitar os erros do Inimigo, por isso aponta-se todo o histórico de Manipulações por ele executadas a fim de retirar-lhe a sua fonte de Poder, os Aliados e os Controlados. Uma pessoa sem virtude comete muitas ilegalidades. É necessário descobri-las e perceber porque é que ele se safou. Assim poderão tornear-se os aliados escondidos.

·         Regras – Cada guerra tem uma lista de ataques (i.e., manobras, acções) não permitidos, por serem obscenos, abjectos, indecentes e/ou imorais (para os contendores e/ou Juízes). Ao longo dessa Guerra é natural que as Regras se vão modificando[vii].

·         Custos: Saúde – O conflito gera preocupações, excita os medos, corrompe o sono, tira o sabor à comida, retira o deleite ao amor, provoca disputas insensatas e desproporcionadas com os mais próximos, … Sim, com o tempo o espírito disciplina-se, pelo que recupera-se as sensações da Viver. No entanto, a saúde do organismo irá sempre ser diminuída, a suscetibilidade à doença será aumentada, e as relações afetadas poderão não se recuperar. Durante todo o conflito a saúde mental está em risco, e o “remédio” encontrado para ter paz de espírito pode-se revelar um veneno (exemplo, bebida, droga, …)…

Custos: Ressentimentos – O conflito, independentemente do resultado, gera ressentimentos, tanto dos aliados, controlados como dos adversários e inimigos. Estes ressentimentos tenderão a manter-se após o conflito.
Agamémnon (o Atrida), venceu a guerra com Troia. Depois de consumada a vitória:
Choram-se os guerreiros, louvando-se como perito no combate, aquele por ter caído nobremente na batalha assassina por causa de uma esposa alheia. Isto rosnam baixo as pessoas e uma dor ressentida marcha secretamente contra os demandantes Atridas.
Ésquilo, Agamémnon

·         Vitória e Derrota – De acordo com Hobbes, a Vitória é a submissão do adversário, e a Derrota se submeter a esse mesmo adversário.
 Há mais derrotas que vitórias, tal como Che Guevara descreveu: “De derrota em derrota até à vitória final.”
Vencedor não é aquele que sempre vence, mas sim aquele que nunca pára de lutar.”

·         A Paz – A Paz é a ausência de Guerra; o final da Guerra. A verdadeira Paz, a Paz em que se pode confiar, é a Paz com Justiça. Pode existir ausência de Batalhas (engajamentos), e existir vontade para Guerrear. Esta vontade pode não ser expressa devido a Medo, falta de Oportunidade e perceção pelo Contendor de incapacidade de vencer. No entanto, tenderá a se exprimir, e quanto mais tempo durar a Paz injuriosa, mais violenta e cruel será a Guerra, quando ocorrer. Em face do exposto, é importante acordar a Paz Justa.
A tendência para a Paz é descrita por Hobbes:
“As paixões que fazem os homens tender para a paz são o medo da morte, o desejo daquelas coisas que são necessárias para uma vida confortável, e a esperança de consegui-las através do trabalho.”
THOMAS HOBBES DE MALMESBURY, LEVIATÃ ou MATÉRIA, FORMA E PODER DE UM ESTADO ECLESIÁSTICO E CIVIL


Eu, O Santo



[i] Exemplos: organismos de Justiça, organismos fiscalizadores, organismos administrativos e superiores hierárquicos de topo, associações de defesa do consumidor, associações de transparência, partidos políticos, imprensa, colegas, subordinados, familiares, etc
[ii] Exemplos de desejos: Uma namorada. Um emprego. Uma viagem. Exemplos de meios: Dinheiro. Amor. Familiaridade. Currículo. Aparência. Volto a focar: ninguém consegue fazer com que alguém venda ou dê uma coisa em especial: existe livre arbítrio, no entanto este pode ser condicionado.
[iii] Exemplo. A Sociedade só admite e apoia que se maltrate um individuo para que este devolva o que injustamente tirou a outro. Caso o espectador não saiba a razão para essa punição, então irá considerar essa ação como injusta e apoiar o “ladrão-vítima”.
[iv] Exemplo. Dizem que Estaline nunca receou os Ocidentais (apesar da desvantagem tecnológica de não ter a bomba atómica) pois “sabia” que eles não tinham Vontade de combater, pelo que pôde atuar quase a seu bel-prazer (dominou quase todos os países a leste da Alemanha). Também há quem afirme que Hitler fez a mesma “aposta” com os ingleses…
[v] Exemplos. Se se está a procurar mulheres para namorar num café, não se repara no que os empregados estão fazendo (será que estes últimos são mais sensíveis à disponibilidade das mulheres?). Se se procura o poder foca-se a atenção nas informações sobre os poderosos.
[vi] Exemplo. Ser pesado é bom para lutas de Sumo mas não para correr a maratona.
[vii] Exemplos: Não atacar a família do oponente. Não difundir boatos privados.

2 comentários:

Anónimo disse...

No que diz respeito às Regras é necessário ter em conta que os Juízes, sejam eles pessoas individuais, institucionais ou a opinião pública, têm duplicidade de critérios para avaliar os adversários em luta. Quem bater devagar quando o adversário bate com força, só para agradar aos Juízes, corre o risco de perder sem qualquer proveito presente ou futuro. A vitória faz esquecer a forma como se venceu e permite ao vencedor contar a "história" de acordo com os seus interesses, nomeadamente remetendo para o adversário vencido um comportamento odioso que na verdade até era inferior ao seu próprio.

amsf

Eu, O Santo disse...

Caro amsf, quanto à duplicidade de critérios, provavelmente isso tambem segue algum critério...
Quanto aos vencedores escreverem a história, tenho a certeza que sabes que outros advogam o contrário: o perdedor é que conta a história. Os exemplos são: a I Guerra Mundial em que muitos dizem que a Alemanha não perdeu a Guerra, e a Guerra Civil Americana.