3 de Fevereiro 2019
Hora de voltar a viver
'con sabor venezolano'
'con sabor venezolano'
Manifestação sábado de apoio a Guaidó. FEDERICO PARRA (AFP) |
Os olhos do mundo estiveram ontem colados a Caracas. E quê?
Tendo resultado num empate técnico a disputa entre as manifestações de força promovidas pelo opositor Guaidó (Las Mercedes) e pelo chavista Maduro (Av. Bolívar), que posição deve assumir Portugal? Respeitar o compromisso que o governo lisboeta assumiu de reconhecer o presidente interino, pondo os nossos patrícios residentes na Venezuela em risco de represálias do ditador Maduro e inviabilizando a vontade dos milhares que de lá saíram de voltar aos seus haveres? Ou manter a neutralidade, aparentemente mais prudente?
Objectivamente: ficar quieto para não agravar a situação dos luso-venezuelanos ou decretar que, perdido por perdido, a hora é de acção e de oposição assumida ao usurpador Maduro?
Os EUA, o Parlamento Europeu, Espanha, Alemanha, França e mais um número crescente de países apostados na queda da ditadura instalada em Miraflores esperavam que algo de importante acontecesse ontem: o derrube de Nicolás Maduro.
Para o mesmo sábado, com pretexto do 20.º aniversário da revolução chavista, a clique dos vermelhos convocou a sua própria manifestação. Tratava-se de, no mínimo, equilibrar com o previsto espectáculo popular em Las Mercedes. À incontável multidão que esteve a ouvir Guaidó dizer que não teme a guerra civil, opôs-se a concentração de apoio ruidoso a Maduro, nos desafios deste aos EUA e a Donald Trump.
O processo não evoluiu e os 32 milhões de venezuelanos continuam fraccionados em duas partes, com dois presidentes assumidos. Que é que pode acontecer agora?
Maduro apenas cede na convocação de eleições parlamentares. Cedência que aliás não passa de uma zombaria. O ditador apenas aceita levar a jogo em eleições nacionais o órgão parlamentar onde a oposição detém a maioria. Quanto a presidenciais, nem pensar. Ele ontem frisou que o presidente se chama Nicolás Maduro e continua a governar todos os dias.
Realmente, que poderes detém o outro presidente? Onde fica a sede do seu governo? Que decisões tomou durante a semana que se passou depois da sua auto-proclamação?
O conflito desenrola-se em cima de embaraçosos equívocos e internacionalizou-se. O Parlamento Europeu e individualmente vários países do Velho Continente enviaram ultimato a Maduro, que consideram presidente ilegal: ou convoca eleições presidenciais imediatamente ou esses países reconhecem o presidente Guaidó em termos de ser este a convocar as eleições.
E se Maduro não fizer a convocatória nem deixar Guaidó fazê-la? Os países estrangeiros conseguirão mudar o poder de mãos, em Caracas, apenas com sanções económicas? Ou mandarão tropas para desferir ataques aos militares chavistas a partir de bases na Colômbia e no Brasil, liderados pelos marines e pelos fuzas de Trump? Trump fará descer páras em Miraflores, para ocupar o palácio presidencial? Será de repetir ali um Vietname, um Afeganistão, um Iraque? Desencadeamos uma terceira guerra mundial? É preciso contar com a loucura de Maduro e com o fanatismo da sua numerosa seita. E com países que apoiam declaradamente o regime chavista: China, Rússia, Irão, Turquia e os vizinhos México e Bolívia.
Para nos situarmos, não devemos ignorar a hipocrisia de certas nações presumivelmente democráticas. Que talvez por miopia não enxergam, e por isso não contemplam com ultimatos, as ditaduras na Coreia do Norte, na China e até na Turquia, onde Erdogan encena golpes de estado para fazer desaparecer adversários aos milhares, sejam advogados, professores, juízes, jornalistas ou pedreiros. Para não falar em exemplos de totalitarismos que os norte-americanos têm nas suas barbas. A credibilidade esvai-se quando é preciso actuar a sério, como é o caso.
Li há pouco uma constatação com muita razão de ser: os norte-americanos reivindicam que a América é dos Americanos, contanto que os Americanos sejam os norte-americanos.
Não ignoremos a hipocrisia daquelas nações, mas sem esquecer, obviamente, que a China e a Rússia, por exemplo, apostam em Maduro não por razões políticas mas pelos seus interesses na extracção e refinação do petróleo no Orinoco, afortunada região venezuelana onde são reis e senhores.
Quando há petróleo e ouro na costa...
Nisto de justiceiros... Quem é que não ouviu Maduro dar o troco a Pedro Sanchez dizendo não aceitar ultimatos do presidente espanhol quanto a realizar eleições - uma vez que se é preciso fazer eleições é em Espanha, onde ele, Sanchez, chegou ao poder sem ser eleito.
Terá Maduro ouvido Miguel Albuquerque falar de Costa no recente congresso do revivalismo laranja madeirense?
Terá Maduro ouvido Miguel Albuquerque falar de Costa no recente congresso do revivalismo laranja madeirense?
Um opinador da imprensa espanhola acaba de escrever algo assim: Maduro devia enviar também um ultimato a Sanchez, ameaçando vir tirá-lo do governo se não libertar a dominada Catalunha.
O problema é complexo, local e internacionalmente. O mundo tem um berbicacho entre mãos. Porque a realidade é linear: quem segura Maduro em Miraflores é a tropa. E das duas, uma: para derrubar o ditador, ou se neutraliza a tropa venezuelana pelas armas ou se consegue seduzi-la para que adira ao projecto democrático encabeçado por Juan Guaidó. Não havendo sinais animadores de que a segunda hipótese é possível, resta o recurso à guerra.
A situação deve agravar-se nos próximos dias. Países estrangeiros desafiam Maduro anunciando o envio de ajuda humanitária para o território venezuelano. Os generais chavistas, agarrados aos privilégios de que desfrutam, inclusive no tocante a facilidades no rendível narcotráfico, deixarão entrar no país sem tiros as caravanas estrangeiras? Há uma guerra iminente e Guaidó, que tenta desesperadamente cativar os soldados da Venezuela, não descarta um conflito civil se o caminho da democracia passar por aí. Portugal acerta se respeitar o compromisso de declarar segunda-feira total apoio ao presidente interino? A palavra cabe em grande parte aos nossos compatriotas directamente envolvidos no imbróglio venezuelano. E eles não só se pronunciaram, como exigem que Portugal se assuma nesse sentido. Ouvimo-lo ontem dos 300 manifestantes presentes na Praça do Município e ouvimo-lo na televisão, na concentração de Las Mercedes.
Depois de um massacre que já leva muitos anos, também achamos que a hora é de acção. Não importam os meios a usar para que os Venezuelanos possam ir às urnas esclarecer, em eleições absolutamente livres, que solução querem para o seu país.
É tempo de voltar a viver 'con sabor venezolano'.
9 comentários:
O uso da forca sera o fim da Venezuela.
Se houver eleicoes livres quem perder vai aceitar ?
A Venezuela tem tudo para dar errado, divisao interna radical e muintos interesses externos.
E a República da Madeira através do Albuquerque já reconheceu o novo Presidente?
Tudo na mão dos militares, pagos a peso de ouro Venezolano.
Rússia e Cuba vão defender Maduro até o fim
E desde quando esse Guaidó é a garantia de democracia? Não foi eleito para presidente bem concorreu às eleições presidenciais mas tem o apoio dos EUA, Israel e outros fantoches já o torna o paladino da Democracia? Não bastam os exemplos de outros golpes promovidos pelos EUA e NATO no Iraque, Afeganistão, Líbia, Egipto, Tunísia, Síria; só para referir os últimos 10 anos de Democracias à Bomba em nome da defesa dos interesses das petrolíferas americanas e europeias?
O Cafofo cá já reconheceu! Até desfraldou ilegalmente uma bandeira estrangeira nos paços do concelho! Percebe-se a afinidade: a sujeira nas ruas, buracos, trânsito selvático, desordenamento em Caracas e Funchal são iguais! E se lá existem as FAES aqui já vamos ter a Polícia Municipal.
Ó das 12.05, és um bocadinho limitado em política internacional.
Achar que os apoios ao presidente interino, e presidente eleito da AN, se resumem a uns fantoches, é no mínimo caricato.
Se disseres que alguns dos apoiantes têm os mesmos interesses do que China, Rússia, Turquia e outros ao apoiar Maduro, aí de acordo. Convém não ser ingénuo.
Mas acima de tudo, o prioritário é devolver a liberdade a um povo oprimido, levar comida e medicamentos enquanto ajuda urgente.
O resto virá depois.
Apostaria numa solução à Líbia; decapitação do regime e depois black out jornalístico perante uma guerra civil pela qual depois não querem ser responsabilidade. Ao contrário da Líbia que não nos diz nada, a Madeira e os madeirenses tomarão conhecimento dos desastres posteriores e ficarão surpreendidos por nada verem na comunicação social de referência internacional.
Não acredito em guerra civil.
Acho que o regime cairá por dentro, quando a elite madurista tiver contrapartidas para o pós Maduro.
É bom não esquecer que na Venezuela as altas patentes militares dominam a economia, desde o sector petrolífero, a indústria agro-alimentar, transportes, narcotráfico, etc. Esta foi a forma da "revolução chavista-madurista" comprar a fidelidade das forças armadas.
Só assegurando algumas condições e amnistias futuras será possível a queda do regime.
E esse é um trabalho que está a ser feito. Não tenham dúvidas disso.
os escribas pagos pela LPM em força a comentar fazem-se contra o regime de maduro para ganhar votos mais na realidade apoiam Maduro
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