10 de Fevereiro 2019

As cigarras e as formigas

Depois das excursões e almoçaradas para velhotes quando o tempo é de eleições autárquicas, os regedores que se refastelam por essas paróquias além, eleitos pelos resultados dos votos bem 'trabalhados', regressam à boa vida com mais 4 anos de regabofe no horizonte. 

Em Santa Luzia, o processo tem graça. O José António diz às suas eleitoras idosas, que aliás gostam dele como de um galã na telenovela da tarde: qualquer problema, minha senhora, fale comigo que a gente está aqui para resolver as coisas. 
Pois bem. Acontece uma idosa deparar-se com a sua modesta casa em estado perigoso para as vidas da família.

Sem recursos para fazer obras, sem conhecimentos nenhuns por onde se possa movimentar, e precisando de apoio logístico - apenas esse - para convencer o senhorio a remediar o estado dos tectos, pois então a idosa faz como o sr. regedor José António disse. Coloca-lhe o problema. José António interessa-se profundamente pelo assunto e leva-o até às últimas consequências, voltando-se imediatamente para a mulher com a solução: "Isso tem de ser resolvido. Não pode continuar assim. Vá apresentar o caso à câmara."

E pronto, a regedoria de Santa Luzia prossegue tranquilamente a azáfama da sua gestão até à época de mais excursões a Santana e ao Porto Santo com as velhotas a cantar a 'primavera das flores' e o 'cá em cima está o tiro-liro-liro'.

Entretanto, a idosa da casa a cair aos bocados agarra na preciosa solução proporcionada pelo regedor e mete-se pelos frios e desconhecidos corredores da câmara, ocupada nestes anos pelo consulado cubano. E por lá anda às cabeçadas, atirada de um lado para outro, até porque a carta enviada desesperadamente para o presidente Mentiras, o tal que afiança trabalhar para as PSoas, não teve resposta, nem sequer para mandar às urtigas a idosa cuja importância começa e acaba no dia das eleições.

Um belo dia, fartos de ver o fantasma da senhora de balcão em balcão camarário, um daqueles barões municipais eleitos para não fazer a ponta de um corno deixa-se tocar por um assomo de remorsos e diz: "Minha senhora, tem toda a razão, vamos acabar com esse pesadelo. Informe-se onde fica e vá aos julgados de paz." 
E lá vai a senhora a repetir o nome para não se esquecer - 'soldados da paz', 'soldados da paz' - e vai andando a caminho de mais um inverno e da sua roleta russa das noites de temporal, a temer pelo momento em que as PSoas lá em casa acordem com o telhado em cima da cama - ou não cheguem a acordar. E então o José António e o Mentiras do Cafofo, por coincidência tio e sobrinho, de partidos diferentes que são duas faces da mesma moeda, aparecerão no local da derrocada, rostos carregados afinados pelo colete fluorescente a dizer que as entidades farão todo o possível para ajudar os familiares das vítimas. Só para a televisão veicular a boa vontade, claro está, porque depois a coisa há-de ir esquecendo. 
Tudo isto quando na câmara existem documentos a comprovar o perigo de que a senhora falou. 

Este exemplo infelizmente não é ficção para ilustrar, é bem real como tantos que haverá por aí, só faltando acontecer a desgraça para que a realidade seja total. Pois é, os quatro anos dos mandatos são para exibir a imagem e levar vida na pândega. Os sevandijas que ocuparam, conspurcando-o, todo o espectro da política tabanqueira estão-se a marimbar para o povo.

Veja-se o rol de conclusões do conselho regional do PSD-M de ontem, no Estreito. É uma confissão evidente de que o pé no acelerador consiste num "intenso trabalho e forte mobilização rumo às vitórias que existem por alcançar". Daí a importância devolvida aos autarcas, TSD e JSD, para que limpem as armas a tempo das batalhas que se aproximam. A cigarra faz-se à estrada porque andou no regabofe todo o tempo, que se danem os problemas do povo. E do outro lado temos outra cigarra, que promete mundos e fundos depois de passar meia dúzia de anos a 'chatear' os cidadãos no dia a dia funchalense - e a mandar passear munícipes que mendigam um apoio insignificante. Mas aqueles estafermos vivem para o tacho, as selfies e as rodadas de imperial (pagas por nós, ainda por cima).

Infelizmente, essas duas cigarras, a laranja e a rosa, acabarão por levar a melhor por causa da decisão miserável nas urnas exactamente dos mais massacrados pelas governações. Não tem graça nenhuma. Quem leva a bicicleta é o Miguel, o Cafôfo e os Josés Antónios das regedorias por essa ilha fora. As formiguinhas que passam os 4 anos a trabalhar como os antigos galegos são cada vez mais desprezadas nas eleições pelas massas a quem dedicam a vida. Até a senhora dos tectos a cair volta a votar, quem garante sou eu, no moderno parasitismo da sociedade madeirense.