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domingo, 10 de fevereiro de 2019




LIBERDADE



Ia a caminho dos 12 anos quando aconteceu o 25 de Abril de 1974.
Frequentava, na altura, a Escola Preparatória Gonçalves Zarco que funcionava nas instalações do que tinha sido, pouco tempo antes o quartel do Batalhão de Infantaria Independente n.º 19, no centro do Funchal, junto à Igreja do Colégio, onde funciona hoje a Universidade da Madeira. 

Do dia em si, lembro-me que, entre alguns murmúrios inextricáveis do meu pai para a minha mãe, fui, como de costume, logo de manhã, para a escola.
A primeira aula era de Inglês (uma exceção com que tinha sido brindado, numa altura que sob a égide do Ministro Veiga Simão se tinham iniciado diversas experiências pedagógicas que se prolongaram muito para além desses anos).
A professora de que não retive o nome, mas apenas a figura que era pequena e recatada, disse-nos (quero crer, a esta distância, que emocionada), que não havia aulas porque "tinha sido restaurada  a liberdade".
Saímos da escola em turbamulta, dando vivas à liberdade. O que, na altura, era mais dirigido ao brinde imediato de não termos aulas, do que propriamente uma profissão de fé fosse no que fosse. De liberdade sabíamos, efetivamente, pouco; e de democracia ainda menos, sujeitos que fôramos aos manuais da família ideal de Salazar e às sessões no Sábado da Mocidade Portuguesa, em que cantávamos, de braço erguido, os hinos da Restauração e os inefáveis “Castelos erguendo”.
Nos anos seguintes, fui aprendendo a liberdade, a democracia e a novíssima realidade dos partidos políticos, disputando o poder. Retenho até hoje, como fundamental, a liberdade de “poder dizer!”, fosse o que fosse, mesmo os enormes disparates que então se proclamaram e ainda hoje se continuam a difundir em nome da liberdade. Retive, para sempre a frase fundamental de Voltaire: “não concordo com o que dizes, mas defendo até à morte o direito de dizê-lo”. Esta é, por assim dizer, uma marca geracional de quem hoje se encontra entre os 50 e os 60 anos e, como eu, era um adolescente no 25 de abril de 1974.
Crescemos na crença de que tudo era suscetível de discussão e de que não havia verdades absolutas. A negociação resolvia os diferendos e toda a disputa era negociável. Alguns chamaram a esta ideologia “relativismo” e combateram-na; outros apodaram-na de “transigência” e combateram-na. O certo é que o radicalismo deixou, por algum tempo, de imperar e se construíram muitas pontes.
Os que como eu, eram adolescentes em 1974, chegaram, de perto ou ao longe, ao poder ou à oposição. Outra marca geracional dessa malta é que raramente deixou de tomar posição, dum ou do outro lado da barricada. Poderão até ter-se aburguesado, deixado ficar no lado mais confortável, mas nunca se alhearam da situação política ao ponto de abandonarem posições ou pontos de vista essenciais. Somos, inegavelmente, a nova “geração de 70”.
Depois de nós, vieram outros: os do fim do século, os “millenials”, os do novo século. Trazem com eles novos modos de ver, novas formas de estar, novas maneiras de interação social. De acordo com o arquétipo de tolerância que mantemos como base, cabe-nos integrá-los e fazer, com eles, crescer o mundo. Continuar a fazer crescer as pontes. Combater o fundamentalismo e a intolerância que parecem querer renascer com as novas gerações. 
Se repararmos bem, há mais de 60 anos que o mundo não conhece uma guerra a uma escala global. Esse é o legado dos nascidos nos anos 60 e 70 do século XX! 
Essa é a afirmação fundamental da Liberdade!

José Vicente Gomes

1 comentário:

Anónimo disse...

A liberdade de expressão na mamadeira ainda é muito perigosa. Os tribunais da mamadeira protegem "a máfia no bom sentido". Se alguém diz em público que está a ser roubado no porto do caniçal com os preços mais caros da Europa, leva logo com um processo! Que o diga José Manuel Coelho e os jornalistas do extinto Garajau! Por isso srº Vicente a liberdade na mamadeira ainda é uma miragem!