17 de Maio 2019

Berardo rebentou

com a campanha

das 'Europeias'

...E ainda falta o nosso Joe especulador 'pôr a boca no trombone' para mostrar o resto dos artistas

Entretanto, a 'Sábado' alimenta o espectáculo com a bomba Almerindo

O estilo de intervenção usado pelo nosso Joe na Comissão Parlamentar mostrou que ele não perdeu as qualidades de jogador e especulador que desde tenra idade lhe permitiram governar vida. No caso, ele compareceu diante dos deputados resolvido a escarnecer dos otários que insistiram desesperadamente para lhe meter milhões nos bolsos. 

Joe zombou propositadamente das administrações da CGD e de outras instituições bancárias. Ridicularizou os governos que nomearam as administrações. Gozou positivamente dos 10 milhões que têm votado nos sucessivos governos de Castela-a-Nova, toda uma população a quem têm sido passadas as facturas desse e dos outros buracos financeiros avaliados em milhões de milhões.

O resultado de mais este jogo de Berardo foi tão estrondoso que a campanha para as eleições europeias desapareceu das agendas. 

Se não se promover um escândalo de jeito envolvendo candidatos ou partidos e capaz de recuperar as atenções do pessoal, que o que quer é disto, a populaça acordará no domingo 26 tentando lembrar-se de qualquer coisa que tem de fazer nesse dia.

Nestes dias, as televisões transmitem tempos de antena com candidaturas europeias e os telespectadores mudam de canal à procura de Berardo. Os telejornais metem a campanha e novo salto de canal à procura de comentadores a desancar em Berardo.

Verdade seja dita que os figurões das listas partidárias já de si não cativam a simpatia de ninguém. 

Aqui na Madeira, então, um caso perdido. 

Pedi a um amigo que me definisse a campanha das europeias em curso e ele respondeu muito depressa: solteiros contra casados. 

Imaginei logo as famílias na praia e nos centros comerciais enquanto uns amadores de desporto se esfalfam num jogo lá para o interior da serra, sem ninguém a assistir a não ser o cozinheiro da caldeirada. 

Cláudia Monteiro já esgotou o reportório do que vai exigir para a Região quando chegar ao novo PE. Reivindicações que já conhecemos de há 5 anos e que continuam intactas, porque a eurodeputada não lhes tocou durante o mandato exactamente para não as estragar. 

Depois do adormecimento a ouvir Cláudia, o telespectador abana a cabeça para ver se Sara Cerdas melhorou as arengas, mas mesmo os adversários caem numa ansiedade solidária quando ela se lembra das ordens da LPM e desata a sorrir a meio do discurso sem mais nem menos, mesmo que esteja a falar num assunto seriíssimo como a influência da semilha grelada no relacionamento entre as RUP e os orçamentos gregos da era Tsipras. Enfim, as invenções "socialistas" 'in' do costume. 

Margarida Pocinho começou bem, mas trabalhar para aquecer no deserto centrista ao ritmo da batuta de Assunção Cristas não é motivante e de facto quem deve continuar de mangas arregaçadas é Nuno Melo, que já marcou viagem de regresso para Estrasburgo.

Há Nuno Morna da IL. E depois há Ferrão do Bloco (Guida Vieira deu sinal de vida e lá está a veterana dirigente com os seus óculos escuros e a bandeirinha atrás do orador). E há Ricardo Lume da CDU. E outros. Mas todos com missão impossível. Eles sabem disso e o eleitorado também sabe. Ora adeus.

De maneira que se o povo tivesse de escolher entre assistir a esta sensaboria 'solteiros vs casados' e a um 'três muda seis ganha' de arrancar castanheiros como antigamente, não tenho dúvidas sobre o voto.

Para mais azar, nova bronca veio reforçar a rábula interpretada magistralmente por Berardo: de repente, surgem do nada denúncias de velho Almerindo Marques a mandar para a lama mais ministros do sinistro governo de Sócrates!

"Testemunho explosivo incrimina ex-ministros", estoira a 'Sábado'.

Quem diria! Almerindo passou pelo CA da RTP, onde teve tempo para mostrar que de televisão não enxerga um boi à frente, fazendo gala de afirmar que nem sequer via televisão (e teve o cuidado de deixar um sucessor à altura). E depois transferiu-se de uma empresa onde os administradores precisam de sensibilidade especial para televisão, porque gerir a vida de uma televisão, ainda por cima pública, não é o mesmo que gerir estradas, e, então coerentemente, foi para uma empresa talhada para ele, uma empresa de gerir estradas.

E é aqui que, afinal, o homem se revela: não por ter dado melhores redes viárias ao País, mas por uma virtude que se manifesta em tempo serôdio. Ele decidiu ler alto e bom som a cartilha que aprendeu no asfalto das estradas, entalando muita gente incluindo ministros que governaram no seu tempo de capataz das estradas - na era Sócrates.

Nosso Primeiro Costa deve estar com a cabeça em água. Depois de não conseguir desmentir que Berardo aumentou a conta pessoal para 800 milhões no tempo do socratismo, agora mais isto.

Há poucos anos, alguns fanáticos das histórias de faca e alguidar caíram em depressão por causa do encerramento do 'Crime'. Estão todos recuperados. Hoje 'O Crime' é escrito, é falado e é mostrado. Está a toda a hora nas bancas, nos ecrans e na telefonia. Não há miséria que não dê em fartura.

Consequência: a campanha das europeias está clinicamente morta. E dispensa-se a autópsia, porque a causa é clara. 

Faço votos para que Berardo não esteja a preparar bronca ainda mais arrasadora para rebentar com as legislativas nacionais de Outubro. Começo a acreditar que ele é bem capaz de aparecer em público lá para Setembro, com a boca no trombone, para citar e apontar o dedo aos seus companheiros de aventuras destes 30 e tal anos. Desde que cavou da África do Sul com o seu pé-de-meia e um extenso jardim itinerante de cicas que não podiam sair daquele País, tornando-se rico na Lusitânia e na ilhota natal, à custa de investimentos com dinheiro da banca (EMT, Savoy, casarão no Porto Santo, etc).

Os jogadores que andam agora com as calças na mão à espera do episódio seguinte de Berardo deviam ter percebido em tempo útil que confiar num especulador dos bons é tão certo como confiar em si próprios.  

PS - Vejo hoje que o Tribunal de Contas exige aos antigos vereadores do Porto Santo envolvidos no caso da palmeira o dinheiro que gastaram à Câmara para a sua defesa pessoal. Muito bem. Mas espero que o TC também esteja atento aos balúrdios incalculáveis que os senhores da Câmara do Funchal têm espatifado ao erário para sua defesa no âmbito do inenarrável processo do Monte.