Europeias: PSD ganha em 9 concelhos (actualizado)

BANHO DE GELO

NA EUFORIA CAFOFO-PS

* PSD - 37%    PS - 26%    CDS - 8%

* Obsessão de Costa pela Madeira não correspondida

* Sara Cerdas eleita, Cláudia Monteiro provável

As eleições europeias são especiais, muito pouco participadas, que não devem ser consideradas como primárias de legislativas. Mas a vitória do PSD-M este domingo, tão clara, estonteante, deve fazer mexer os socialistas que pretendem assumir-se como alternativa em Setembro. Vem aí um trabalhão sem descanso. Haverá humildade, depois do desastre?  

Alguns políticos, e não apenas do PSD-M, disseram na noite eleitoral de domingo que as Europeias foram a tal grande sondagem que todos esperavam, tendo em vista as legislativas que acontecerão em Setembro. Continuo a pensar que, apesar do resultado vitorioso dos social-democratas que não se esperava tão nítido, estas eleições não podem ser vistas como primárias das regionais.

A abstenção é sempre grande nas europeias e voltou a sê-lo. E ninguém sabe que forças partidárias foram mais afectadas por militantes preguiçosos que preferiram a praia.

Mas há outra vertente do problema: quem mais devia comparecer para votar eram os militantes que desejam a mudança, os socialistas, porque têm de ser os mais motivados - assim como os habituais votantes no PSD que se dizem fartos do seu partido no poder e ameaçavam "votar nem que fosse no cachorro" para despedir os 'renovadores' de Albuquerque.

Não aconteceu assim. O Laranjal, ou parte dele, encheu-se de brios e deu a Cláudia Monteiro e Albuquerque uma vitória à Jardim. Das antigas. 

As próximas legislativas serão eleições diferentes. Decidirão um governo para 4 anos. Mas a leitura destas europeias é decisiva para quem já se dava no topo das intenções de voto dos madeirenses: o PS com o candidato assumido Paulo Cafofo. Os resultados foram maus. Os eleitores, poucos, mas as diferenças de votação por freguesia e concelho fazem lembrar de facto as eleições da época da 'velha senhora'.

Este recado do eleitorado devia fazer os dirigentes socialistas caírem em si. Perceberem críticas antigas sobre a sua arrogância e sobranceria, aliás vaidades sem qualquer razão de ser.

O comportamento de alguns eleitos em autarquias e no parlamento tem sido deplorável. O povo não gosta.

Sem dúvida que a Madeira precisa de alternativas para o governo. Mas se na área PS-Cafofo não houver uma reflexão muito, mas muito profunda, com mudança de comportamentos, apresentação de ideias, projectos e quadros credíveis, a alternativa na Região está prejudicada à partida.

Na realidade, o grande 'bigode' que a partir das minhas 'arruadas' imaginei para estas eleições de domingo aconteceu, mas no outro lado (PS), não naquele que apontei (PSD).

Pelas primeiras reacções desta noite, percebeu-se que os chefes socialistas não estão voltados para aceitar a realidade com humildade política. É um erro. 

O PS teve tudo para ganhar estas eleições. A onda Cafofo. Paz interna no partido. O desacerto do PSD-Madeira e do governo regional. O apoio de um super-Costa, governo e PS nacionais. Descontentamento e divisão no Laranjal. E então?!

Quanto ao PSD, foi a grande surpresa destas eleições. Claramente. O seu trunfo era forte, Cláudia Monteiro. Eurodeputada recandidata que realizou uma campanha interessante, com discurso competente. Mas a vitória, sobretudo porque em tais dimensões e em 9 dos 11 concelhos - incluindo o Funchal onde Cafofo se julgava já rei indiscutível -, é um activo tremendamente rendível para o PSD de Miguel Albuquerque. Na hora em que mais precisava da injecção. 

E assim a obsessão de Costa pela Madeira sofre uma 'tampa' escandalosa. 
A linha Cafofo-PS também falha estrondosamente.
Partir nestas condições para a disputa de umas regionais não é o que desejavam certamente os responsáveis da Praça Amarela e dos Paços do Funchal. 
Há gente infiltrada no projecto de poder nascido em 2013 que precisa de ser afastada das primeiras linhas e de preferência para muito longe. Porque em vez de acrescentar alguma coisa ao projecto só fragiliza os pontos fortes. As cúpulas do PS não podem ficar fora de um refresh realista, por mais que haja egos dolorosamente atingidos. É preciso identificar os causadores da penosa derrota e proceder às necessárias correcções. Política também é isso. 
Europeias não são primárias. Mas palavra de eleitor é para ouvir e com muita atenção.

Ou então os socialistas acham que está bem assim e seguem em frente para a batalha final ao ritmo da bandalheira, todos cantando e rindo - e seja o que Deus quiser. Nisso têm a quem saiam. 
O PSD agradece. 

Conhecidos os trágicos resultados, Emanuel Câmara disse que o objectivo das eleições foi atingido. Se se referia à eleição de Sara Cerdas, muito bem. Mas se o objectivo era apanhar tamanho banho gelado nos resultados regionais... Ao falar na sede, referiu que o PS subiu em todos os concelhos. Contenta-se com pouco. Como vimos a tantos líderes socialistas no passado: diziam-se vencedores porque subiram umas décimas ou porque não desceram tanto como os adversários previam. Faziam essas contas aos jornalistas enquanto os camisas laranja festejava ruidosamente pela noite funchalense mais uma vitória do PSD que "põe a Madeira em marcha".
Pelas primeiras impressões pós-europeias, a história repete-se. 
Não vimos Paulo Cafofo dar a cara pela derrota. O que já se tornou habitual na sua imagem: aparece em actos irrelevantes para a fotografia e esconde-se descolando da equipa quando o momento é crítico. Péssimo. Emanuel apareceu, mas nem por isso deixou de ser outro derrotado. Assim como Célia Pessegueiro, que caiu com a derrocada do mito pontassolense. Mas sem esquecer, obviamente, que esta também foi uma derrota do vencedor nacional António Costa, que tinha prometido três vitórias na Madeira este ano. 
E os dirigentes locais acham que está tudo bem, ameaçando deixar correr o marfim.  
Muito mau para a democracia. 
Também aqui, Albuquerque e o PSD agradecem. 

Diz Câmara que o 22 de Setembro será um dia histórico na Madeira, porque aí mostrará um cartão vermelho ao Governo do PSD. Em que fundamentos se baseará o líder do PS para tal previsão, partindo como parte nas condições  periclitantes do PS-Cafofo diagnosticadas nestas eleições?! 

É que isto não vai com cartões amarelos e vermelhos, vai com votos. Mas se Emanuel Câmara insiste nos cartões, quem apanhou o vermelho nas europeias foi ele próprio, pelo que deve ser punido com muitos jogos de castigo, se não com a irradiação pura e simples.

São opiniões pessoais minhas, claro. Mas insisto: o PS-Cafofo não devia recomeçar o trabalho como se nada de especial houvesse acontecido este domingo. Se irresponsavelmente minimizar o revés, não recuperará dos estragos.

PS - Tarde da noite, a contagem de votos apontava para a reeleição de Cláudia Monteiro do PSD para Bruxelas. A confirmar-se, foi um dia especial para a eurodeputada, uma vitória inesquecível por várias razões.