18 de Maio 2019

Carta aberta ao Dr. José Prada:

Redundâncias redundantes

De como, com uma carta aberta numa 3.ª página de jornal e chamada de 1.ª, o secretário-geral de um partido consegue estragar a visita à Madeira de um seu homólogo adversário.

José Prada é secretário-geral do PSD-Madeira e entende ser o interlocutor certo do secretário-geral do Partido Socialista, António Costa. Acontece que Prada joga no regional, enquanto Costa é estrela nacional. E depois é claro que um secretário-geral ao nível de Tabanca é só para trabalhar e mandar trabalhar o aparelho, ao passo que o secretário-geral do PS nacional é nada menos do que o líder do partido - e o Costa, por acaso, até é primeiro-ministro de Castela-a-Nova.

Por se considerar ao nível protocolar do secretário-geral do PS nacional, José Prada resolveu enviar uma carta aberta ao homem. Em segredo, presume-se, já que ninguém tinha visto a carta, nem aberta nem fechada - a menos que a missiva fosse concluída ao início da madrugada, com a edição do DN de hoje às portas da impressão. 

Temos duas hipóteses para estudar afincadamente. Se calhar, o Vítor Hugo do Diário encontrou o carteiro e conseguiu tirar uma foto à carta aberta, correndo para a redacção com a primeira mão que é uma carta aberta.

Segunda hipótese (o Leitor que não ligue à ordem dos factores): José Prada, depois de horas de reunião com o chefe Albuquerque, deliberou condicionar a agenda da visita do Costa à Madeira, amanhã. Ora, se a carta aberta só estivesse disponível para o destinatário, os jornalistas não poderiam fazer perguntas à chegada do Costa sobre as questões constantes da carta aberta.

Fosse o caso de o DN ter "acesso" à dita, como vem no artigo, e aí admite-se como normal o assalto ao carteiro, ou fosse o Dr. Prada ter-se esquecido de uma cópia da carta aberta no 'Fofinho' - agradável café da Fernão de Ornelas mesmo à frente do jornal vendido ao Cafofo -, o caso é que temos à disposição trechos da carta aberta na página 3 do DN de hoje. 

Não é nada - é uma "bataria" (lê-se ali) de quase duas dezenas de perguntas que o secretário-geral do PSD-M manda ao seu homólogo (digamos assim) do PS nacional, segundo ressalta do destaque de página. 

E o conhecido causídico madeirense brinda o adversário com um "sarcasmo mordaz", no pleonasmo estilístico que abrilhanta a prosa. 

Com que novidades pretende o Dr. Prada marcar a agenda no dia da visita do nosso Sargento de S. Bento? 

Respondo: com assuntos corriqueiros como o triste do hospital (que o que merecia era mais uma edição da patuscada no Doca do Cavacas, cá para nós); os juros exagerados que Lisboa cobra ao Funchal; o problema dos subsídios às viagens aéreas; os favores aos Açores e as represálias à Madeira; as recorrentes pancadas à ministra do Mar. 

Enfim, tudo aquilo que já se disse mil vezes e que os madeirenses conhecem de cor e salteado, pelo que fico por aqui para não ser repetitivo. 

Ainda por cima tudo condensado numa "carta aberta" redigida com uma tentativa fracassada de ter graça. 

O brilhantismo do Dr. Prada situa-se nos meandros da retórica (a genuína), da argumentação robusta, pontos fortes na sua profissão e na política. De modo que ao saltar gratuitamente para o terreno da ironia pode levá-lo a espalhanços desanimadores como acontece àqueles que, como nós aqui no Fénix, pretendem brincar com coisas sérias.

Mas isso é bom para nós, que escrevemos para passar o tempo.

Ao passar os olhos pelo resumo da "carta aberta" lembrei-me várias vezes das estopadas sem nexo que o Cafofo e o simpático Picareta têm coragem de publicar também no DN. Não vou iludi-lo, Doutor: a parecença é grave.

Para finalizar:

1. Questão protocolar - É capaz de a decisão de o Doutor se pôr ao nível do secretário-geral do Rato ter nascido de longas horas de reunião com Miguel Albuquerque. E logo esse chefe, outro zero em diplomacia, que chega tarde aos jantares na diáspora, falta a cerimónias na Região, chatas mas obrigatórias em política, e por aí fora. Como o Cafofo, que já se julga patrão da Tabanca e chega por último aos actos públicos. 

Caro Dr. Prada, neste caso não perderia nada se enviasse uma carta aberta ao seu homólogo Pedro Vieira do PS-Madeira, c/c ao secretário-geral socialista nacional.

Como dizia Luís Mendes, antigo presidente e cavalheiro da Ribeira Brava, quando as autoridades do Funchal chegavam àquela zona tentando dar ordens:"Cada macaco no seu galho".

2. Conteúdo da carta aberta - Tudo mais do mesmo, Sr. Dr. Prada. Se o jornalista fala em "sarcasmo mordaz", pleonasmo grosseiro que com muito esforço aceitamos como figura de estilo destinada a brincar com os políticos, eu aproveito para dizer que a sua carta é um chorrilho, de cima a baixo, de redundâncias. Aliás, e aproveitando a maré, redundâncias redundantes.

Moral da história: o Dr. José Prada é livre de escrever as cartas abertas a quem quiser, e eu sou livre de escrever uma carta aberta ao Dr. Prada para lhe dizer também meia dúzia de redundâncias sarcásticas.

O Dr. José Prada perdeu uma oportunidade... 

Não acabo a frase para não ser outra vez pleonástico.

PS - Aos ocupantes do partido regional-cubano peço que levem um exemplar do jornal para entregarem ao visitante amanhã no beija-mão do aeroporto, não vá dar-se o caso de a carta aberta do Dr. Prada ter seguido por via marítima.