Pequena Ilha mais uma vez a saque

Porto Santo de Verdade,

a verdade da areia

Há um dito popular sobre o que fica na mesma quando as moscas mudam, mas o que dizer quando percebemos que não só temos mais moscas como o que as atrai piorou, tanto na quantidade como no “aroma”?

Depois da chuva de brindes, promessas e frases feitas de Setembro, eis-nos, de novo, em Janeiro. E, pelos vistos, as promessas de uma postura mais assertiva perante o nosso vergonhoso isolamento, promessas de um “bater no peito” que faria corar de vergonha os majestosos gorilas na bruma, lá se juntaram a todas as outras, no monte onde voam, felizes, as moscas.

Como se não bastasse tudo aquilo que está a saque na nossa terra, lá vamos nós, alegremente e sem pio, delapidar e desperdiçar mais um bem essencial do nosso património: os inertes. Não me refiro ao Presidente da Câmara e aos outros quatro vereadores, despidos de pensamento crítico e preocupados em passar o seu mandato por entre os pingos da chuva, mas sim às areias da nossa terra, a parte “Dourada” da expressão “Ilha Dourada”. Porto-santenses, a proposta da Câmara Municipal de suspensão do PDM não é um equívoco. É, sim, a primeira amostra do que serão os próximos quatro anos. Enquanto uma mão distrai com, por exemplo, uma Taxa Turística, a outra age pela calada, para não percebermos, a tempo, as consequências dos erros praticados. Mas outra coisa não se pode esperar dos “iluminados” cujas campanhas foram feitas sempre com um dedo apontado aos “podres” alheios, nunca reparando para onde os outros quatro dedos apontavam. Fazem as trapalhadas por baixo do nosso nariz, mas esquecem-se que, quando produzem material apropriado para as moscas, o nariz é, normalmente, o primeiro a saber.

Os cinco dedos desta “mão marota”, vereadores eleitos para defender os interesses do Porto Santo e dos porto-santenses, preparam-se para deixar uma “dedada” irreparável na nossa terra, seja por actuação iludida ou por omissão de crítica.

Srs. Presidente e Vice-Presidente da Câmara Municipal, pergunto-vos: tem cabimento apresentar uma proposta desta importância, para não falar do Orçamento, numa reunião de Câmara que não só não foi aberta ao público como não mereceu qualquer tipo de publicidade, seja por convocatória ou edital? Ao arrepio de qualquer parecer técnico, da vontade das autoridades regionais, ou até, pasme-se, da pura lógica, já que tanto se anda a encher a boca com a “Reserva da Biosfera”? E não serve de nada vir dizer que se convocou uma reunião pública. Marcar uma reunião para as 9 da manhã de uma Quarta-Feira (dia 17 de Janeiro) não é abrir a discussão ao público, é querer lavar as mãos da responsabilidade. Deve ser por isso que convidaram quem anda a fazer sabonetes com a areia local. Se é este o juízo demonstrado pelo Sr. Presidente nas matérias em que os outros vereadores podem votar, imagine-se o que vem aí com a “rédea solta” que lhe foi dada com a delegação de poderes na sua pessoa, um “cheque em branco” passado com o aval do vereador José António Castro.

Sr. vereador eleito pelo “Mais Porto Santo”, pergunto-lhe: Há um laranjal a querer brotar de dentro de si e não avisou ninguém? Quem lhe confiou o voto, pensou que ia acabar com os avales “a fundo perdido”. Mas, depois das votações das reuniões de Câmara de 19 de Dezembro e 9 de Janeiro, pelos vistos, os avales do presente estão a desembarcar no mesmo porto de abrigo dos do passado.

Srs. vereadores eleitos pelo PS, pergunto-vos: os últimos quatro anos não ensinaram nada? É este o conhecimento autárquico que o ex-Presidente da Câmara Municipal pretende transmitir às autarquias que requeiram os seus préstimos? Em todo aquele floreado da declaração de voto produzida, não encontram um único argumento que impeça a vossa conivência? Sim, abstenção é conivência! Esta é uma lição que o bolso de quem se absteve perante as patranhas do último mandato, chumbadas pelo Tribunal de Contas, aprendeu, de forma dolorosa.

De que serve aprovar uma Taxa Turística se, antes da mesma render o primeiro euro, dermos cabo do turismo? Aprovada a proposta pela Câmara, cabe aos membros da Assembleia Municipal demonstrarem iniciativa e aproveitarem a oportunidade para apagar a má imagem deixada na primeira reunião, em que tanto tempo se perdeu com os preciosismos do Regimento. As reuniões da Assembleia Municipal vão passar do 80 ao 8, da guerrilha à submissão? A Assembleia Municipal fiscaliza a Câmara Municipal, não é a carneirada dela.

E onde anda o Sr. deputado que, supostamente, nos representa na Assembleia Regional? É tão inútil no Parlamento como a dirigir a concelhia local? Caso não tenha percebido, ter menos votos do que na eleição de 2013 significa que a Câmara não foi ganha pelo mérito do candidato e do seu programa, mas sim porque a vossa porcaria fede menos do que a dos outros. Está na hora de tirar o nariz do ecrã do telemóvel enquanto se discutem os assuntos importantes e de merecer o principesco ordenado que recebe. Há gases inertes, mas não é suposto estar cheio de gás inflamável? Todos os actores políticos locais e regionais ainda vão a tempo de recolher informações sobre o possível impacto desta proposta. Consultem os operadores turísticos e procurem saber o impacto das nossas belezas naturais no turismo que nos procura. Falem com actuais e antigos técnicos da Câmara e procurem soluções alternativas.

Todos vós deveis agir em respeito da responsabilidade que vos foi confiada. Está em jogo não só a erosão da nossa imagem de marca turística como, também, a erosão da confiança que os portos-santenses (cada vez menos) têm nos seus representantes.

* Grupo de cidadãos porto-santenses