2 de Maio 2019

Socialistas trocados 

por "independentes medíocres"

exigem vitória já no dia 26

Paulo Cafofo insistiu neste 1.º de Maio em que não abandona a Câmara. Ou melhor, adiou a questão mais uma vez. A 'velha guarda' do PS culpa Victor Freitas pela descredibilização para onde o candidato a presidente do Governo, "independente e sem palavra", tem arrastado o partido. 

Em Setembro de 2018, Cafofo declarou publicamente durante uma acção política na zona do Lido que continuaria na presidência da Câmara do Funchal até conhecer a data das eleições regionais. Essa data - 22 de Setembro do ano corrente - foi divulgada pouco tempo depois. É pois conhecida vai para muitos meses. Cafofo, já detentor da informação que exigia, não só não se afastou da cadeira municipal como ainda neste 1.º de Maio, à margem da procissão do voto, respondeu à pergunta sobre a sua falta de palavra declarando que ainda não sabe quando deixará o cargo - mas avançando que nunca será antes das Europeias do próximo dia 26.

Já nos chegaram reacções de desagrado de socialistas prestigiados, de há muito descontentes com o papel de 'troca-tintas' de que o edil se investe com "incrível descaramento".

Neste caso, o problema que se põe não é Cafofo sair ou não sair - é a sua falta de palavra. "Uma fábrica de mentiras que se vulgarizou na Câmara por parte do senhor", ouvi criticar.  

Os militantes desgostosos não se conformam com a entrega do partido que Emanuel Câmara e sobretudo Victor Freitas fizeram a figuras independentes que nunca mostraram ser melhores do que os socialistas a quem substituíram nas candidaturas. Tendo feito essa entrega simplesmente na lógica de aproveitar o efeito Cafofo para ganhar regionais e por essa via dispor dos lugares públicos para familiares e amigos - palavras ouvidas na área do próprio PS.

Os contestatários têm a sua razão no que diz respeito à substituição de militantes por independentes em todas as eleições à vista. 

Cafofo é candidato a presidente do governo - como independente. 

Sara Cerdas é candidata às Europeias - independente. 

Miguel Gouveia substituirá automaticamente o presidente Cafofo se este sair ou será candidato à Câmara em caso de intercalares - independente.

Os militantes entendem que não podem servir apenas para ir às urnas votar nos independentes que Victor Freitas e Emanuel colocam à frente das listas. Ainda por cima "comprovadamente medíocres".

Cafofo caiu bem junto do eleitorado, mas isso não chega para se tornar um bom governante. Aliás, nos últimos tempos tem sido notória uma queda da sua popularidade - na opinião dos socialistas com quem falei, os quais insistem na existência de personagens na área socialista mais competentes do que o escolhido.

Sara Cerdas - independente como a candidata de há 5 anos, Liliana Rodrigues - começou por se declarar 'idólatra' de Cafofo, o que lhe limita os dotes, sendo o ídolo figura desacreditada no próprio partido apoiante. A improvável candidata teve um péssimo arranque e, se bem que com certa melhoria nas aparições de campanha, ultimamente solta de Cafofo, continua a léguas dos candidatos de 1.ª divisão - Margarida Pocinho (CDS), Nuno Morna (Iniciativa Liberal), Cláudia Monteiro (esta, do PSD, com a vantagem dos conhecimentos adquiridos nos 5 anos de Europa que já leva) e até Ricardo Lume (CDU). Bastante abaixo destes, surgem para já Sara Cerdas (PS) e outros a quem os partidos representados não permitem ilusões. 

Miguel Gouveia, independente que navegou à vista do Laranjal antes de se aproximar ao PS, é outro independente, reconhecido como quadro competente mas, segundo os socialistas, ainda sem traquejo para número um.

Os maus humores dos socialistas atacam a linha dominante no PS-M. Victor Freitas é apontado como destruidor da massa competente do partido, na sua eterna lógica aparelhista. Foi ele, com a força de em 2015 ter causado o pior resultado já alcançado pelo PS-M, baixando o partido para a quarta posição regional, a descaracterizar a velha formação hoje instalada na Praça Amarela, dando lugares aos independentes. Mas Rui Caetano também está sob fogo. Ninguém se esquece da noite eleitoral nas regionais de 2011, quando o militante e professor aproveitou aquele serão televisivo para, como comentador, achincalhar incessantemente aqueles socialistas que deram a cara e sofreram pesada derrota, com Maximiano Martins à cabeça da lista. "Devia ter sido expulso!", brada um socialista de muitos anos, ainda hoje indignado.

Rui Caetano foi cruel nessa noite para os seus camaradas, mas não sofreu punição. Ao contrário do que ainda há pouco aconteceu com um destacado socialista, André Escórcio, a quem os actuais dirigentes deixaram sair pela porta pequena quando ele, ironicamente, vinha de tentar defender a imagem do partido.

O tempo não é de meritocracia nem de 'amor à camisola'. Os críticos lembram que até na Frente Mar deixaram sair um socialista (Carlos Jardim) para lá meter um independente.

Os socialistas com quem falei e os núcleos onde estão inseridos aguardam com impaciência os resultados das Europeias. Os actuais responsáveis da Praça Amarela anunciaram que o dia 26 deste mês será o arranque para o "25 de Abril" de 22 de Setembro. Será curioso ver o que poderá acontecer. 

Os críticos sublinham que o campo tem estado livre: 

- o secretário-geral nacional, António Costa, tem ajudado; 

- os críticos regionais andam calados para não perturbar; 

- os candidatos foram escolhidos sem ondas, sem sequer passar pelo crivo dos órgãos do partido, a não ser "para inglês ver"; 

- o principal adversário tem sido considerado pelo próprio PS como letra vencida. 

Logo, só pode dar vitória clara. Porque, se não der vitória clara, há-de seguir-se uma reflexão para ter efeitos em Setembro. 
Que efeitos? A pressão para 22 desse mês será maior e um segundo mau resultado dará congresso.

"A vida está má para todos", ironiza um dos interlocutores, em jeito de aviso aos actuais ocupantes do PS-M.

Não quero dizer nada com isto, mas já vi ciclos políticos mais curtos.