O Kit COVID-19 dos Fariseus do Diário de Notícias

João Fontes

A Parábola do Fariseu e do Publicano, em que se destaca o final, a conhecida frase do Nazareno, «porque todo o que se exalta, será humilhado; mas o que se humilha, será exaltado» chegou até nós apenas pelo Evangelho Segundo Lucas, o terceiro dos canónicos. Desde então, a semântica de “Fariseu” alterou-se, passando a significar hipocrisia e fingimento e não quem, num, porventura, excessivo virtuosismo público, se separava dos restantes para se dedicar ao estudo e ensinamento religioso, bem como à oração.

Esta é, infelizmente, uma lição há muito esquecida, mais ainda nos dias de hoje em que somos quase todos vaidosos autores/produtores, ou pelo menos cúmplices, de conteúdos via “Social Media”, mais não seja pelos fowards que vamos fazendo muitas vezes sem pensarmos no que realmente quer dizer o que partilhamos e o que significa esta necessidade de parecer aparecer, sobre o ser e o estar, que deveriam (e são) os verbos mais importantes na definição da individualidade, mas também da colectividade.

Mas, se é até compreensível e, de certo modo, perdoável, que o comum cidadão por variadíssimos e sobejamente conhecidos factores, que não vale a pena elencar, assim aja, sem grande consciência, já não se pode admitir que as instituições, mais ainda quando centenárias, o façam, demonstrando um inescrupuloso situacionismo que em nada abona a seu favor e que nos fazem questionar o seu real papel e intenções na comunidade em que se inserem.

Como todos sabemos e, creio, louvamos, o JM teve a feliz ideia de oferecer uma máscara com uma das suas edições. Quem pagou o jornal, recebeu-a, não pagando nada a mais por isso. Foi, sem dúvida, um bom contributo no combate à propagação do covid-19.

Todavia, não foi isso o que o Diário de Notícias fez, como ainda esta semana se viu. Sob o título “Diário lança Kit Covid-19 a pensar na segurança de todos” e reparem bem nesta farisaica e falsa preocupação social: o tal Kit Covid-19, de pacote com gel, máscara, luvas e touca, vai custar a cada leitor 5.99, quando o seu custo, feitas bem as contas, sai ao Diário de Notícias a menos de três euros, provavelmente menos, porque mais barato fica conforme as quantidades que  se compra.

Então, feitas estas contas, só nos resta perguntar, mesmo que retoricamente, onde está a preocupação com a segurança colectiva?!  Se a houve, o mais certo, o mais correcto, o melhor, era oferecem esse kit “salvador”, só lhes ficava bem, como também demonstrava o que tanto lhes vai faltando, nobreza de alma, como tanto se tem visto com o seu comportamento noticioso faccioso, tantas vezes tão gratuitamente anti-governo, cada vez mais evidente ao longo destes dias de pandemia e que é próprio de quem esta comprometido com um outro projecto de poder, que os madeirenses e porto-santenses rejeitaram nas urnas no ano passado.