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segunda-feira, 6 de maio de 2019





6 de Maio 2019




Costa fecha cordão sanitário
à volta do Governo


Ultrapassada uma semana de loucura política, nasce outra que promete muitos internamentos mais. A doença é incurável e de gravidade crescente.

1. Em Portugal, entre os poucos protagonistas que ainda respiram saúde figura o primeiro-ministro. Ao tempo que o homem aguardava pelo momento certo de fechar aquilo a que os espanhóis mataforizam como 'cordão sanitário' - o perímetro de segurança que deixa fora das filmagens todos os críticos daquilo que o governo faz e daquilo que o governo não faz.

O respeitinho é muito bonito. Na fase actual da saga dos professores, a direita portuguesa já aprendeu que, lidando com António Costa, deve pensar duas vezes antes de chutar para a frente de olhos fechados.
Costa deu o murro na mesa e ameaçou provocar eleições antecipadas.
Assunção baixou as cristas. 
Rui, que pensava subir por este rio acima, vai espalhar-se pelas sondagens abaixo. 
Mais importante ainda para o nosso Primeiro Costa: a esquerda (chamemos-lhe assim) fica ciente da hierarquia nacional dos poderes. Comunistas tradicionais de fábrica e comunistas de cantina universitária perceberam que há quem mande na terreola. Doravante, não vale a pena estrebuchar muito. Este episódio deixou perceber claramente de que lado estão os analistas políticos e o eleitorado. Ninguém apoia quem propõe gastos de milhões para recolher os votos de uma classe laboral específica. Se as esquerdas e as direitas apostam num cavalo, pois o governo socialista, ao centro, aposta nos outros cavalos todos.
Quem tem mais probabilidades de ganhar?
Convém perceber de política para uma pessoa se meter em altas cavalarias. Veja-se: Passos Coelho e Vítor Gaspar fizeram cortes no pouco dinheiro do paga-paga para evitar o suicídio financeiro nacional e só não foram linchados porque não calhou. Costa e Centeno optam agora pela austeridade impopular e são levados em ombros. 
E não é uma questão de sorte.
Não é preciso lembrar, mas é bom que o nosso Primeiro não permita mesmo que os obcecados e alucinados pelo poder que por aí campeiam - sem capacidades para tal - violem o perímetro do seu cordão sanitário.

2. Não sei se a direita venezuelana que luta diariamente nas ruas para derrubar a ditadura de Maduro tem a fórmula certa para endireitar o País de modo a satisfazer a maioria. Mas tenho a certeza de que o regime em vigor não é socialista como apregoa, nem pouco mais ou menos.
Mesmo em Portugal, há forças políticas como o PCP e o Bloco a dizerem maravilhas do 'madurismo', sucessor do 'chavismo'. O que é extraordinário em pleno século XXI, vivendo essas formações ditas esquerdistas no seio europeu de culturas democráticas.
Não me parece que socialismo seja manter uma população - 37 milhões - sem alimentação, medicamentos, água, combustível, trabalho, paz. 
Mandar blindados para cima de manifestantes desarmados também me parece atitude contrária aos ditames do socialismo. Assim como disparar sobre manifestantes onde há crianças e idosas (uma delas com 93 anos). Ou militares armados até aos dentes queimarem o manifesto que cidadãos civis lhes entregam num gesto amigável e democrático. 
Não é socialismo contratar milhares e milhares de jovens para o exército aumentando a despesa nacional enquanto o povo morre de fome.
De socialismo na Venezuela, só a equidade na distribuição das grandes e lucrativas empresas nacionais pelos generais que sustentam Maduro. Ou a permissão generalizada das actividades dos 'capos' da droga infiltrados no exército.

Os defensores do 'madurismo' - regime ainda mais extravagante do que o 'chavismo' - alegam que o problema é o imperialista Donald Trump que pretende colocar no governo de Caracas um títere manejado a partir de Washington. Não dizem os 'maduristas', portugueses incluídos, que Maduro já é um bonifrate comandado por cubanos e russos.

Para mal dos Venezuelanos, eis que surge na vanguarda da contestação o jovem Guaidó que põe a sua impressionante coragem acima da integridade física dos cidadãos que o apoiam. As mentiras - e já são tantas as do líder revolucionário  de direita - já custaram caro a venezuelanos que aderem às manifestações. Incentivar pessoas desarmadas a protestar diante de espingardas e tanques de guerra prometendo que forças militares amigas estão prestes a chegar é atitude desonesta e fatal que, em última instância, desacredita toda uma luta que é justa. Como já se viu nas escassas concentrações de sábado passado.
Dizer que a base aérea de Carlota está tomada por revolucionários que não passaram da porta de armas é criminoso pelas consequências que se seguiram.
Só faltava agora aos Venezuelanos perderem a esperança naqueles que prometem guiá-los à vitória. Ninguém deve ser usado como 'carne para canhão'. Guaidó precisa de rever a sua estratégia. Urgentemente. Em Miraflores está um louco disposto a tudo e bem guardado por quadrilheiros profissionais legalizados. 

8 comentários:

Anónimo disse...

O meu voto não vai nem para os partidos da geringonça, nem para os partidos da oposição! Vai para a coelhinha, que tem garras para atacar a máfia no bom sentido!

Anónimo disse...

A esparrela ingénua em que caíram PSD e CDS, terá alguns efeitos eleitorais nas próximas europeias. Mas fica-se por aí. Poderá decidir a eleição daquele deputado que estava incerta entre PS e PSD.
O povo é de memória curta, e como aqueles partidos já emendaram a mão e vão votar contra os 9 4 2 no plenário, na campanha para as legislativas já não terá impacto. Já ninguém se lembrará.

Anónimo disse...

Juan Guaidó é do Partido Voluntad Popular de centro-esquerda, membro da Internacional Socialista, por isso penso que ele não deve ser considerado de direita.

Alias, acho a oposição ao regime venezuelano já muito pouco tem de ideológia, é acima de tudo uma questão de sobrevivência e dignidade humana.
Por isso jamais um partido ou politico que apoie o maduro terá o meu voto ou sequer a minha consideração.

Luís Calisto disse...

17.44
Sim, é verdade que a luta da oposição venezuelana já não depende de teorias ideológicas. Maduro ocupa a esquerda, o resto tem de combater a partir da direita.
Nem Maduro é socialista nem o Voluntad é esquerda.
Deixe que lhe diga que, salvo melhor opinião, a social-democracia de Juan Guaidó e de Lopez, apesar da filiação na IS, tem tanto de esquerda como a social-democracia portuguesa e madeirense, nestes 45 anos.

Anónimo disse...

A luta na Venezuela não é ideológica.
É luta contra a fome, contra a miséria em todas as suas dimensões.

Anónimo disse...

Por isso mesmo digo que em Portugal não temos partidos de Direita nem de Esquerda, temos partidos de Centro (de negócios) umas vezes mais à direita outras mais à esquerda dependendo dos interesses deles.

Luís Calisto disse...

19.22
Subscrevo na íntegra.

Anónimo disse...

Aliás o mundo rendeu-se ao pragmatismo.
Aceita a sociedade capitalista como princípio, seja na Europa social-cristã ou na China comunista.
Diferem nos direitos dos cidadãos, na regulamentação do estado, e noutras matérias de intervenção dos governos.
A ideologia pura e dura desapareceu. Daí, em Portugal, esse enorme centrão que controla o poder.
Independentemente do partido que lidera o governo, já sabemos o que dali vem.
Nas matérias essenciais as questões são votadas na AR ao centro.
Somos um país sem surpresas, com uma direita e uma extrema esquerda civilizadas, que não trazem surpresas, e, talvez também por isso, a extrema direita não existe, e felizmente, não parece ter muitas hipóteses.