A verdadeira história do 'murro na mesa'

Cafôfo vai a Lisboa pedir a Costa

que pague a dívida do PS-M

à agência de propaganda

Há notícias publicadas hoje que das duas, uma: ou não foram passadas à imprensa com respeito pela verdade ou então Portugal é mesmo um País do interior africano 

A situação financeira do PS, lá e cá, não tem nada que rir, mas... Bom: a reunião desta sexta-feira deveria ser no Rato e não em S. Bento.

A notícia que passamos a divulgar estava pronta para sair quando nos deparámos logo de manhã com uma versão estapafúrdia da deslocação de Cafôfo esta sexta-feira à capital, versão apresentada pelo próprio viajante a um matutino local.

Segundo as palavras do autarca funchalense, é com base nas suas "grandes responsabilidades" que estará com o primeiro-ministro, o que acontecerá, agora nas palavras do JM, "na qualidade de responsável máximo pela maior autarquia da Madeira".

O estrondo da notícia anuncia que Cafôfo se prepara para aplicar um "murro na mesa" de Costa, com destino a meter o chefe do governo central na linha "em matérias como a TAP, a mobilidade, a cobrança de juros e o novo hospital". Tudo para esbater a "crescente animosidade" entre Lisboa e Funchal.

Tivemos de dar a volta à notícia que íamos transmitir aos Leitores do Fénix, não em matéria de conteúdos, porque já nos habituámos a respeitar descontos de 100% ao que diz e promete o presidente da câmara do Funchal, mas porque o dever deontológico obrigava a uma formal reconfirmação dos dados, não fosse dar-se o caso de o homem ter resolvido falar verdade pela primeira vez desde 2013.

A notícia é esta: os actuais mandantes do PS-M e seus satélites mais próximos estão particularmente esperançados num encontro que Paulo Cafôfo terá com António Costa esta sexta-feira, em Lisboa: o candidato socialista indigitado às regionais de 2019 tentará sensibilizar o líder nacional do partido, o mesmo Costa, para que mande urgentemente desbloquear as verbas necessárias para pagar importantes quantias atrasadas à agência LPM, que tem dirigido nos últimos anos as campanhas eleitorais do PS local e de Paulo Cafôfo.

Os socialistas da Praça Amarela já foram avisados pela LPM de que os serviços da agência terão de ser suspensos se não forem abatidas as elevadas verbas em falta. 

O problema decorre também das dificuldades em continuar a aplicar os sombrios expedientes utilizados localmente para efectuar os pagamentos, envolvendo PS, câmara do Funchal e comunicação social. Nunca se sabe o que poderá ser o Tribunal de Contas no futuro.

A dúvida maior dos socialistas que estão por dentro do problema - um deles a nossa fonte - reside na situação financeira do PS nacional, a todos os títulos caótica. Praticamente, o partido de Costa está falido e, com algum sentido de humor negro, alguns membros do PS dizem que as finanças do Rato nem com Centeno conseguiriam emergir do pântano.

Esta portanto a razão da deslocação a Lisboa de Paulo Cafôfo: pedir dinheiro a Costa para pagar o trabalho da LPM. Do ponto de vista político-partidário, será o roto a pedir ao nu.

Sem desarmar, e talvez aplicando uma táctica, aliás inverosímil, da agência de propaganda - que pode ser uma das últimas, porque sem taco não há música -, eis o presidente da câmara funchalense a gaguejar uma história de murros em cima da mesa com reivindicações para a Madeira, em 'buracos' de que os cafofianos e os socialistas até agora culpavam (nalguns casos com razão) o governo regional. De repente, com a chegada do sol abrileiro, as culpas mudaram-se para a Lisboa do progresso, do êxito de governação geringonceira e tão amiga dos madeirenses!

Agora: um presidente de câmara municipal a tratar de transportes aéreos Madeira-Continente, de política regional-nacional de juros, de hospitais regionais, de relações intergovernamentais?!

Como vai o primeiro-ministro de um governo nacional, integrante de uma União Europeia, explicar ao país e aos parceiros da UE o contexto em que recebe autarcas locais para tratar de assuntos que dizem respeito a regiões e ao País?! Cafôfo leva na agenda o caso do Bom Jesus e da Fernão de Ornelas?

Por que cargas de água um edil que foge aos assuntos comezinhos das suas competências locais é recebido por um primeiro-ministro para tratar de magnas questões nacionais?  

Como é que o edil foge a pronunciar-se quando o deve fazer e agora pretende - hipoteticamente com a conivência de um primeiro-ministro - imiscuir-se em matérias que não estão institucional e diplomaticamente ao seu alcance?

Se Cafôfo realmente fosse líder da oposição regional (e não é o seu caso, nem o caso do PS-M), vá que não vá. Fazia sentido Costa conhecer o sentimento da oposição regional. Agora um chefe de governo europeu ouvir palpites, com murro na mesa e tudo, apresentados por um sujeito que recebeu mandato para gerir um mero município, e mesmo assim nada resolve, só atrapalha - é situação absurda.

Alguém imagina Mário Soares primeiro-ministro a dar audiência reivindicativa a um presidente de câmara? Ou Cavaco Silva? Ou Guterres?

Nem sequer os espalha-brasas do Passos e do Santana Lopes. 

Estamos curiosos para ouvir as declarações de Paulo Cafôfo à saída do encontro de Estado, amanhã. O quê e como dirá ele o que o primeiro-ministro lhe disse a respeito dos assuntos que promete abordar.

Mas que qualidade política é esta?! Como foi possível esta bendita Tabanca piorar, quando julgávamos ter batido no fundo vai para uns anos?

Sem ironia, fazemos votos para que a nossa notícia esteja certa e a outra errada. Por uma questão de higiene mental. Será um mal  menor.